Saúde e Bem-Estar

The New York Times News

O sarampo continua preocupando os médicos

The New York Times News
17/12/2016 17:30
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Minhas avós tiveram sarampo. Suas avós tiveram sarampo. Na medicina, é dado como certo que todas as pessoas que nasceram antes de 1957 tiveram sarampo, mesmo que não se lembrem.
As avós normalmente eram lembradas quando tínhamos questões sobre sarampo na época da minha residência médica nos anos 1980 em Boston. Quando havia uma criança na emergência com uma erupção impressionante e assustadora, um médico mais experiente chegava, olhava para ela e anunciava algo como: “Sua avó poderia diagnosticar esse sarampo de lá do outro lado da sala”.
Hoje, os pediatras se preocupam com o fato de termos perdido nossa memória coletiva e, portanto, parte de nosso medo saudável da doença e de suas sérias complicações – pelo menos até que uma exposição a ela aconteça e as pessoas comecem a entrar em pânico.
Na verdade, o sarampo é uma doença com características muito específicas que ainda infecta e mata crianças pelo mundo. Um estudo apresentado em outubro diz que uma das complicações posteriores mais temidas do sarampo é de fato mais comum do que sabíamos e, embora ainda seja rara, nos lembra da urgência de proteger nossas crianças pequenas.

Pesquisa

Os pesquisadores revisaram todos os casos ocorridos na Califórnia, de 1998 até 2016, de panencefalite esclerosante subaguda (SSPE na sigla em inglês), uma doença degenerativa do cérebro que aparece anos depois da infecção por sarampo, mas que está claramente ligada ao vírus e com a reação do corpo a ele. Eles descobriram que as crianças que pegaram sarampo com menos de 12 meses tinham um risco muito mais alto de desenvolver essa complicação fatal do que se imaginava.
“Para nossa surpresa, o número foi maior do que o reconhecido geralmente”, afirma um dos autores do estudo, o doutor James D. Cherry, reconhecido professor de pesquisa de doenças infecciosas pediátricas da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
Aprendemos sobre a SSPE na escola de medicina como um desenvolvimento sério, mas muito raro que ocorria em um em cada 100 mil casos de sarampo. No estudo da Califórnia, os pesquisadores descobriram 17 pacientes e rastrearam aqueles que podiam ser ligados a casos de sarampo relatados durante os anos relevantes, muitos deles em um surto ocorrido entre 1989 e 1990.

Sarampo X SSPE

Quando examinaram a relação entre os casos de sarampo e os de SSPE, descobriram que, para crianças com menos de um ano, a taxa era de um em 600. Para os médicos, isso não é mais um evento raro – é possível ter um caso desses para cada 600 crianças pequenas que tiveram sarampo. No entanto, graças às vacinas, na maioria dos anos há muito menos do que 600 casos de sarampo nos Estados Unidos. Este ano, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças registrou apenas 62 casos até cinco de novembro.
Mas ainda é algo preocupante para uma doença que, sem a vacinação, infecta populações inteiras. As complicações começam, em média, oito anos depois da infecção. “Ninguém as conectaria com o sarampo”, diz Cherry.
Ele explica que a SSPE começa com sintomas como mau desempenho na escola e mudanças de comportamento sutis, que em poucos meses progridem para convulsões. Depois, a saúde da criança se deteriora ainda mais: “Elas vão perdendo várias outras funções e acabam precisando ser alimentadas por tubos e em um estado vegetativo”.
Em algumas delas, durante a infecção, o sarampo também causa um tipo de encefalite que pode prejudicá-las e matá-las de outras maneiras.
Foi a encefalite do sarampo que matou Olivia, a filha de sete anos do escritor Roald Dahl, em 1962, antes de a vacina estar disponível. Duas décadas depois, ele escreveu uma carta passional para outros pais implorando que imunizassem seus filhos.
As crianças que morrem desse mal normalmente são vítimas de outras infecções, especialmente pneumonia. O sarampo foi “o primeiro vírus imunossupressor descrito, muito antes do HIV”, diz o doutor William J. Moss, vice-diretor do Centro de Acesso Internacional às Vacinas e professor de Epidemiologia da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg.