Turismo

Au Pair: como trabalhar de babá fora do país e aproveitar para fazer turismo

Carolina Werneck
21/11/2017 17:29
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Letícia foi morar na França para trabalhar como au pair e acabou ficando para fazer mestrado. Foto: Reprodução/Instagram | Carolina Werneck Bortolanza

Letícia Borém Lopes tinha 27 anos quando trocou o Brasil pela França para trabalhar como au pair. Interessada em melhorar seu nível de francês, ela passou um ano morando com uma família nos arredores de Paris, ajudando com as quatro crianças da casa. Na sequência, decidiu fazer seu mestrado na capital francesa.
Ser au pair – o termo em francês é usado para designar babás que vivem com as famílias – é a forma mais barata de se fazer um intercâmbio. Várias famílias em outros países recebem estrangeiros (a maioria mulheres) para cuidar de seus filhos, mas o processo de seleção é sempre rigoroso.
Em geral é preciso ser mulher, solteira e sem filhos, ter mais de 18 anos, falar o idioma do país em que se tem interesse de trabalhar e ter o Ensino Médio completo. Em alguns países também é obrigatório ter carteira de motorista e experiência comprovada com crianças.
Trabalhar na França
Na França, a idade máxima para participar do programa é de 30 anos. Letícia não precisou de agência para ajudar nos trâmites. Ela montou sozinha um perfil em um site especializado e conversou pessoalmente com algumas famílias, até escolher uma.
“Eu acessei o site e achei que tinha todas as informações de que precisava, então consegui fazer sozinha”, conta.
Ao mesmo tempo, ela preencheu um dossiê no site da Campus France, agência do governo francês responsável por promover o ensino superior. Isso porque, na França, o trabalho como au pair exige um visto de estudante. Escolhida a família, eles providenciaram um contrato de trabalho que foi autorizado pela Urssaf, que é como o órgão governamental de previdência social.
Com o contrato carimbado pela Urssaf e assinado pela família em mãos, ela escreveu uma carta de motivação e enviou tudo para o escritório da Campus France em São Paulo. A Campus France agendou, então, uma entrevista (que até novembro de 2017 custava R$ 500) em uma unidade da Aliança Francesa em Belo Horizonte, cidade em que Letícia morava.
A mineira Letícia Borém foi para a França morar com uma família com quatro crianças. Foto: Reprodução/Instagram
A mineira Letícia Borém foi para a França morar com uma família com quatro crianças. Foto: Reprodução/Instagram
“Essa entrevista foi quase toda em português. Só teve um momento em que ela conversou um pouquinho em francês, para ver se eu falava algo, mas o necessário é um nível bem básico mesmo.”
Depois que recebeu a aprovação da Campus France, Letícia precisou juntá-la ao contrato de trabalho e a outros documentos para, só então, dar entrada no visto junto ao vice-consulado da França em Belo Horizonte. Foi o vice-consulado que agendou uma data para que ela fosse ao consulado francês no Rio de Janeiro.
“Essa entrevista no consulado é basicamente para tirar as fotos, pegar as digitais e fazer o pagamento do visto”, explica. Por fim, depois de uma semana, o visto (€ 50, cerca de R$ 191) foi emitido e ela pode comprar a passagem. No caso de Letícia, que fez o processo todo sozinha, a passagem foi custeada por ela mesma (algumas agências jogam esse custo para a família interessada).
Rotina
Quando embarcou para Plaisir, nos arredores de Paris, Letícia não era fluente em francês. Tinha uma base de gramática razoável, mas a fala era “horrível”, como ela considera. “As entrevistas que fiz com a família pela internet foram todas em inglês.”
Ela desenvolveu o idioma de duas formas: convivendo com a família que a recebeu e frequentando um curso de francês pago por ela (€  1000/ano, cerca de R$ 3,8 mil). As aulas eram obrigatórias, uma vez que o visto de au pair é um visto de estudos.
“Eu acordava as crianças às 7h, ajudava a arrumá-las, a tomar café e as levava à escola. Se era dia de francês eu ia para a aula, senão tinha o resto da manhã e parte da tarde livres. Buscava os três mais velhos na escola às 16h30, ajudava a fazer o dever e depois eles estavam livres. Então eu procurava ocupar o tempo deles brincando, por exemplo. Às 18h eu buscava o bebê na creche.
Viver perto de Paris também ajudou a conhecer outros lugares na Europa. Na imagem, Letícia brinca no Palácio de Schönbrunn, em Viena. Foto: Reprodução/Instagram
Viver perto de Paris também ajudou a conhecer outros lugares na Europa. Na imagem, Letícia brinca no Palácio de Schönbrunn, em Viena. Foto: Reprodução/Instagram
Voltava para casa, brincava um pouco com o bebê e depois o trocava e o colocava para dormir. Os pais chegavam e faziam a janta. Jantávamos todos juntos e, depois da janta, normalmente era eu que cuidava do menino de 10 anos até que ele fosse dormir. Na parte da tarde normalmente eu estava livre.”
Para fazer todos esses trabalhos, a au pair recebia pouco mais de € 300 por mês (pouco mais de R$ 1.100). A família disponibilizava um veículo para que ela se locomovesse, e todas as despesas que ela tinha na casa também eram pagas por eles.
Letícia diz que sentiu muito a mudança nos primeiros meses, principalmente por passar boa parte do tempo sozinha e por estar morando em uma casa que não era a sua. Mas, com o tempo, essas dificuldades foram se dissipando.
Ela aprendeu bem o idioma e passou a se sentir parte da família. Hoje morando em Paris para cursar o mestrado, ela faz questão de se manter em contato com eles.
Dicas
Depois de enfrentar alguns problemas de adaptação às exigências da família que escolheu, a agora mestranda em direito internacional tem alguns conselhos para quem quer fazer o mesmo tipo de programa. O primeiro deles é não fechar contrato com a primeira família com quem você conversar. “Pergunte tudo. Quais são os trabalhos, que horas você vai acordar, quantos dias por semana e quantas horas por dia você vai trabalhar, se tem que arrumar o quarto das crianças e tudo mais.”
O segundo é pedir o contato de outras meninas que já trabalharam como au pair para aquela família. “Ela vai te contar todos os pontos positivos e negativos da família”, de modo que fica mais fácil avaliar se você vai se adaptar à convivência com aquelas pessoas.
Somadas as vantagens e descontados os problemas, ela avalia que o saldo da experiência é positivo. “Existem algumas dificuldades, mas no final das contas valeu muito a pena. Primeiro porque aprendi o francês, desenvolvi bastante a língua. Segundo porque tive a experiência de ver como é a vida na França no dia a dia mesmo.”
Nos Estados Unidos
Fazer o processo por conta própria não é permitido, por exemplo, nos Estados Unidos. De acordo com Eduardo Frigo, gerente de produtos da CI Intercâmbio, o Departamento de Estado americano exige que uma organização brasileira e uma americana façam a mediação entre a au pair e a família interessada.
Frigo explica que, para quem vai para os Estados Unidos, um bom nível de inglês é uma das condições para a contratação. No programa oferecido pela CI, é a família que arca com as despesas de passagem aérea, alimentação durante o período do contrato, bolsa de estudos de até US$ 500 (R$ 1.600) ao ano e salário semanal em torno de US$ 195 (R$ 600 em média). Ficam por conta da candidata a au pair apenas os valores de passaporte, visto e o valor cobrado pela agência, que atualmente está em US$ 500.
Perfil
Quem busca esse tipo de profissional “são famílias com dois ou três filhos que vivem nos subúrbios americanos, longe de grandes centros e, em geral, são de classe média alta. Grande parte já teve outras au pairs e quer alguém para ajudar na criação dos filhos”, explica Frigo. As famílias preferem buscar candidatas estrangeiras porque, embora elas tenham um custo que gira em torno de US$ 20 mil ao ano, ainda são uma mão-de-obra mais barata que a encontrada nos EUA.
Já as mulheres que se interessam pela modalidade têm, basicamente, três perfis, de acordo com o executivo. “Tem a menina que vai pelo custo-benefício do programa, tem as que aliam um pouco disso e um pouco de interesse em trabalhar com crianças e tem as que estão inteiramente interessadas em cuidar de crianças e aumentar sua experiência nessa área.”
Embora a exigência mínima do governo americano seja de 300 horas de experiência no cuidado de crianças, a CI só recruta candidatas com um mínimo de 1 mil horas. Isso eleva a chance de que elas sejam contratadas rapidamente. O tempo médio entre o que ele chama de “application” e a viagem é de quatro meses, afirma o gerente.
Período e responsabilidades
O comum é que os contratos durem 12 meses, prorrogáveis por mais 12. Frigo diz que cerca de 70% das au pairs que completam o programa acabam estendendo seus contratos por mais um ano. Durante esse período, elas têm duas semanas de férias remuneradas. Ao fim do programa, a au pair tem quatro semanas para viajar pelo país.
“Essas meninas partilham o dia a dia da família, moram junto com a família”, detalha Frigo. As responsabilidades são sempre relacionadas à rotina das crianças, como levar e buscar na escola, ajudar com as tarefas e manter as coisas organizadas em casa.
Como fazer?
Para quem quer viver essa experiência, vale procurar agências de intercâmbio e verificar se você se encaixa nos requisitos básicos. Como cada país tem suas regras específicas, essas agências podem facilitar o processo. Se, como Letícia, você gosta de colocar a mão na massa, procure informações sobre a regulamentação desse tipo de trabalho no país de seu interesse. A procura por programa de au pair teve um crescimento de 55% em 2016, apenas na CI Intercâmbio.
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