Turismo

Na palma da mão: como os apps estão mudando a forma dos turistas viajarem

Guilherme Grandi
01/11/2018 17:00
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As viagens dos millennials é hiperconectada através de aplicativos de compartilhamento em qualquer lugar do mundo. Foto: VisualHunt.

A geração que vive hiperconectada é também a mais aberta a novas experiências e menos presa a programas prontos de viagem. Os millennials e os nascidos no começo deste século se acostumaram a organizar sozinhos os roteiros de férias — um desafio para os agentes de turismo.
Enquanto as revistas e canais de televisão moldavam os desejos dos viajantes, hoje são os blogs e as redes sociais que despertam o interesse de novos roteiros. A turismóloga Andrea Queiroz, da Minds Travel, trabalha com gestão de negócios turísticos há 15 anos e viu o surgimento de dois perfis específicos dos viajantes modernos.
“Um procura mais o luxo, com melhor acomodação e bons bares e restaurantes. Já o outro tem um perfil  de compartilhamento, que utiliza aplicativos como Airbnb e Couchsurfing para se hospedar, Uber para se locomover pela cidade, entre outros, fazendo sua própria experiência”, explica.
Esse comportamento que envolve o compartilhar não se dá apenas pela questão financeira (já que nesses moldes, a viagem barateia). De acordo com um estudo da Future Foundation feito em oito países – Austrália, Alemanha, Brasil, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França e Reino Unido – esta geração quer viajar do jeito deles, com base no que seus influenciadores postam nas redes sociais.
“Eles querem viver aquilo que viram no Instagram ou no Facebook, e ir mais longe influenciando outras pessoas também”, completa a turismóloga.

Tudo nos apps

A designer de interiores Liana Yoshie planeja toda a viagem nos aplicativos. Mas, algumas coisas não saem como o esperado. Foto: acervo pessoal.
A designer de interiores Liana Yoshie planeja toda a viagem nos aplicativos. Mas, algumas coisas não saem como o esperado. Foto: acervo pessoal.
A designer de interiores Liana Yoshie é um destes viajantes modernos que usa a tecnologia para tudo. O planejamento já começa em blogs de viagem e alguns livros para complementar o roteiro. Depois, ela vai marcando tudo o que quer visitar, e traçando os caminhos a serem percorridos.
“Eu crio um mapa no Google Maps com todos os meus pontos de interesse –turísticos, restaurantes, lojas, aeroporto, estações de trem, etc – pra cada cidade. Isso ajuda a me localizar e escolher um hotel mais estratégico, podendo criar o melhor roteiro”, conta elencando ainda outros aplicativos que utiliza.
Um deles, o Citymapper, mostra o melhor trajeto combinando caminhada, ônibus, metrô e aplicativos de caronas em tempo real. Para ela, este tipo de organização a ajuda a viver como um cidadão local.

Fora do roteiro

Segundo o agente Alexandre Cymbalista, subir o monte Kilimanjaro, na Tanzânia, é um dos roteiros mais inusitados procurados pelos novos viajantes. Foto: VisualHunt.
Segundo o agente Alexandre Cymbalista, subir o monte Kilimanjaro, na Tanzânia, é um dos roteiros mais inusitados procurados pelos novos viajantes. Foto: VisualHunt.
Como viajam sem um roteiro pronto com tudo acertado previamente, os viajantes modernos não se importam em desviar da rota. Seja por um transporte que não chegou no horário marcado ou pela completa ausência de um guia para orientar o caminho.
“O que a gente percebe é que eles têm um anseio por aventura maior do que um público mais sênior, indo fazer caminhadas nos montes Everest ou no Kilimanjaro, retiros espirituais, peregrinações, entre outros roteiros diferentes”, explica Alexandre Cymbalista, CEO da Agência Latitudes.
Ele conta que as pessoas que faziam essas viagens há décadas atrás eram ‘outsiders’; já tinham visto um pouco de tudo e queriam experiências diferentes das tradicionais. O que se vê agora é uma busca por destinos inusitados sequer visitados antes.
“Em uma viagem a Santorini (Grécia), fiz um passeio de barco pra visitar um vulcão, e em uma das paradas para ver o pôr do sol, ele foi embora e não tínhamos como voltar para a cidade que estávamos. A única coisa que nos restou foi uma escadaria sem fim pra chegar até o topo da ilha, e havia um grupo de burrinhos por perto. Foi o momento de maior tensão e o mais incrível ao mesmo tempo, subir beirando um penhasco no lombo de um burrinho”, lembra Liana sobre a experiência não planejada.

A selfie perfeita

Por outro lado, os agentes ouvidos pela reportagem afirmam que, assim como os influenciadores nas redes sociais, os novos viajantes se preocupam mais com as selfies do que com uma grande descoberta.
“As pessoas antigamente vivenciavam a viagem, era tudo uma descoberta. Agora eu vejo que elas já tem tanto conhecimento antes de embarcar, tanta informação, que não se preocupam  tanto em descobrir ou desbravar. As pessoas querem apenas estar lá”, conta Andrea Queiroz.
Já Alexandre Cymbalista acredita que há um lado bom neste novo hábito. “Quem viaja têm compartilhado suas experiências, e isso fez aproximar estes destinos que eram distantes dos nossos círculos de amizade e referências”, completa.
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