Turismo

Em Cabo Canaveral, na Flórida, uma viagem pelo mundo dos astronautas

Estadão Conteúdo
04/03/2016 22:00
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Centro Apollo/Saturno V: último foguete da famosa missão. Fotos: Divulgação

Visto da janela do carro, a pouco mais de 300 metros da entrada do Kennedy Space Center  (kennedyspacecenter. com), o ônibus espacial dispensa óculos 3D, binóculos ou qualquer recurso visual extra. Imponente, o tanque laranja de 56 metros de altura aponta para o céu acompanhado por dois propulsores brancos. Como se fosse rompê-lo com sua cápsula pontiaguda, o veículo parece prestes a decolar rumo ao espaço – ao menos é essa a cena cinematográfica que vem à mente ao ficar cara a cara com a réplica em tamanho natural do Atlantis, cujo primeiro voo ocorreu em 1985.
Há tempos a fronteira entre ficção e realidade se desfez em Cabo Canaveral. Visitar a cidade, na Flórida (EUA), é embarcar num vaivém entre o mundo real e o imaginário. No Kennedy Space Center, parque espacial da Nasa e principal atração do destino, o visitante tem contato com a rotina de um astronauta, descobre objetos usados no espaço, entra em um simulador que o leva para a estratosfera e até entra dentro de naves. Não há dúvidas que a fantasia e a realidade caminham juntas por ali.
Aberto em 1962, ainda sob o nome de Centro de Operações de Lançamento, o parque foi rebatizado no ano seguinte, em homenagem ao presidente – e entusiasta espacialJohn Kennedy, assassinado em 1963. E guarda parte importante da construção da história e da identidade do país no último século.
O Kennedy Space Center e  a réplica em tamanho natural do Atlantis, cujo primeiro voo ocorreu em 1985.
O Kennedy Space Center e a réplica em tamanho natural do Atlantis, cujo primeiro voo ocorreu em 1985.
O acesso ao Kennedy Space Center só é possível com carro ou van. Embora menos alvoroçado que os parques da Disney e da Universal, outros programas famosos da Flórida, quem visita o local deve  chegar cedo para evitar filas e acompanhar o desfile receptivo de astronautas antes da abertura do parque – uma tentação para os “selfie-maníacos”.
Tudo começa num imenso jardim de foguetes históricos, onde “se perder no espaço” faz parte da brincadeira. Dá até para desembarcar de joelhos da claustrofóbica nave do Programa Apollo – aquele de Neil Armstrong – e caminhar entre outras maravilhas da engenharia espacial.
O imenso “jardim” de foguetes históricos na entrada.
O imenso “jardim” de foguetes históricos na entrada.
Perdido em Marte
Ponto de parada obrigatório, Journey to Mars: Explorers Wanted, área dedicada a explicar, de maneira interativa e didática, desde a básica personalidade de Marte às recentes descobertas por lá, dá pistas do que, talvez, haja de mais ousado nos projetos da Nasa: a colonização do planeta vermelho (leia mais em bit.ly/nasaemmarte).
E era sobre Marte que eu desejava falar no aguardado encontro com o astronauta. As histórias engraçadas e curiosas de John Blaha não eram exclusividade de jornalistas. Ele é um dos nomes que fazem parte do Almoce com um Astronauta, atração extra por US$ 29,99 por pessoa, com comida e bebida à vontade.
Durante o passeio é possível almoçar com um astronauta.
Durante o passeio é possível almoçar com um astronauta.
Deixando o futuro para trás, lá estava eu dentro do “queridinho” Space Shuttle Atlantis, onde se preserva boa parte das lembranças das missões realizadas por ônibus espaciais entre 1981, ano de lançamento da frota Columbia, e 2011, data da aterrissagem da última frota Endeavour.
Em seus mais de 33 mil metros quadrados – que incluem a suspensão do verdadeiro Atlantis, inclinado a 43,21 graus, como se estivesse em órbita –, há mais de 60 simuladores, reproduções de quartos, banheiros e caminhos tubulares de naves, além de roupas e objetos pessoais de astronautas mortos em missões espaciais. Já a curiosa simulação de ser lançado à estratosfera não é de dar frio na barriga, mas a tremedeira que faz o rosto ter espasmos é divertida.
No Space Shuttle Atlantis, o verdadeiro ônibus espacial, inclinado a 43,21 graus, como se estivesse em órbita.
No Space Shuttle Atlantis, o verdadeiro ônibus espacial, inclinado a 43,21 graus, como se estivesse em órbita.
Apollo
Além do Complexo do Visitante, o ingresso (US$ 50 adultos, US$ 40 crianças) inclui ônibus até o Centro Apollo/Saturno V, onde está o último foguete da mais famosa série de missões espaciais da Nasa. “O Saturno V foi o 18.º a ser construído”, conta a guia Lívia Ribeiro, apontando para o nada discreto monstrengo que ocupa, suspenso, todo o galpão. Completo, é maior do que a Estátua da Liberdade.
Duas relíquias, porém, acabam por chamar mais a atenção: o módulo de comando da Apollo 14, “Kitty Hawk”, onde Allan Shepard, primeiro norte-americano a ir ao espaço, em 1961, embarcou; e pedaços de pedras da superfície lunar. Polêmicas a parte, uma coleção do dito “grande passo para a humanidade” para ninguém botar defeito.
SAIBA MAIS
Outros programas no Kennedy Space Center e próximo a ele para quem é apaixonado pelo mundo da era espacial:
Lançamentos – Quer uma experiência mais intensa do que sentir a tremedeira de uma lançamento espacial dentro de um simulador? Fique atento, então, às datas dos lançamentos reais que ocorrem de tempos em tempos na Estação da Força Aérea de Cabo Canaveral, a 20 minutos do Kennedy Space Center . “Da arquibancada, você consegue sentir a tremedeira real”, conta a brasileira Lívia Ribeiro, guia no Kennedy Space Center. Assistir ao “show” de perto custa US$ 20 (sem contar as taxas), além do valor do ingresso que dá acesso ao parque. Mas é possível também assistir pela tevê, dentro do Complexo do Visitante, sem pagar nada a mais por isso. “Uma dica importante é tentar começar a viagem perto da data do lançamento. Assim, caso ele seja adiado – vários fatores podem causar o adiamento, como a instabilidade climática –, não haverá riscos de perder o espetáculo”, alerta Lívia. Mais: bit.ly/lancamentonasa.
Gira-gira
Para se tornar um verdadeiro astronauta, visite o ATX (Astronaut Training Experience). A área, criada por veteranos no assunto, inclui atividades de treinamento reais para ir ao espaço. Você entra em uma cápsula de comando (e vê o quanto é apertado passar um só dia ali), gira por alguns minutos em um equipamento de vários eixos e fortalece os braços numa espécie de escalada sem gravidade. Como é uma atração a parte (ingressos desde US$ 175 para adultos e US$ 165 para crianças), é preciso fazer reserva. Mais: bit.ly/atxingressos.
Tubo transparente
A placa é clara: “No espaço, astronautas não usam sapatos”. Por isso, tire os seus para poder entrar no clima dentro de um cilindro transparente e apertado de uma cápsula espacial em tamanho original. Com a força da gravidade, só se anda de joelhos – pena não podermos flutuar como os astronautas. De cima, na parte transparente do tubo, a vista de toda a área do Space Shutlle Atlantis, onde está localizada a brincadeira, compensa até para quem tem medo de altura. Saindo de lá, passe pela sala em homenagem aos astronautas que morreram em missões espaciais – como os que estavam no ônibus espacial Columbia – e siga direto para o simulador de lançamento de foguetes.
Galeria de tesouros
À primeira vista, o que mais chama a atenção no Centro Apollo/Saturno V é a grandiosidade do foguete Saturno V. Mas é na Galeria de Tesouros, uma sala escura do imenso galpão, a 20 minutos do parque, que estão guardadas as pequenas raridades da Nasa, como uma coleção dos protótipos de trajes espaciais dos anos 1960. Para chegar lá, pegue um ônibus gratuito direto do Kennedy Space Center – eles saem de 15 em 15 minutos e possuem serviço de guia. Mais: bit.ly/centroapollo. /B.T.