Turismo

Atleta paranaense conta os bastidores do Cross Triathlon, no Havaí

Cynthia Duarte, especial para Gazeta do Povo
17/11/2017 15:55
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Cynthia e Bradley Weiss, campeão mundial do Xterra 2017, no Havaí. Foto: divulgação

Existe um lugar especial no planeta, nascido da lava vulcânica de milhões de anos e originado de uma fenda no solo do oceano. As ilhas criadas a partir desta abertura não são como nenhum outro local na terra. É um paraíso! Um presente para o resto do mundo. Trata-se do arquipélago do Havaí.
E quando se pensa no Havaí a primeira coisa que surge na mente é surfe, certo?
Certo, mas quase 740 atletas foram para o local por um outro esporte: o Cross Triathlon. Um esporte “ três em um”: natação, ciclismo e corrida em um só!
Triatletas de 30 nacionalidades atravessaram continentes e oceanos para participar do campeonato mundial de Cross triathlon, o XTERRA Planet, na Ilha de Maui, incluindo 25 brasileiros.
Brasileiros que foram realizar o sonho de estar em um campeonato mundial, ficar entre os melhores do mundo e fazer parte do seleto grupo dos melhores triatletas de cross triathlon do planeta. E eu estava lá, não para competir mas para contar esta incrível história.
Cinthia: do Brasil ao Havaí, uma aventura emocionante. Foto: Arquivo pessoal.
Cinthia: do Brasil ao Havaí, uma aventura emocionante. Foto: Arquivo pessoal.
E esta a história começa pela longa viagem até a ilha de Maui, são 12.645 quilômetros e 37 horas de viagem partindo de Curitiba, passando pelas conexões dos aeroportos de São Paulo e Dallas – no Texas – consecutivamente.
As meias de compressão, os incontáveis copos de água e os alongamentos ajudaram a minimizar o inchaço nas pernas comuns em voos de longa duração. Barrinhas de cereais e de proteína ajudaram manter a dieta durante as trinta e sete horas entre voos, com conexões em aeroportos e traslados desde casa até o espetacular local da ilha .
Deveríamos ter desembarcado na ilha no mínimo 10 dias antes para nos acostumar à diferença de fuso horário – que são de sete horas. Isso sim é cruel, chegamos apenas quatros dias e mesmo assim foi fantástico!
A viagem
A dica é respeitar a rotina alimentar e não dormir assim que chegar. Por mais impossível que isso possa parecer! Eu, por exemplo, não conseguia dormir mais que três horas durante a noite durantes os primeiros seis dias.
As ilhas Havaianas são uma oferta exuberante de frutos do mar e frutas, porém, os atletas que acompanhei – Henrique e Andre – passaram os 3 dias que antecederam à competição só no macarrão com molho de tomates preparados em casa. A fonte de proteína da dieta foi extraída da suplementação trazida por eles, acreditam?
Por garantia, nada de arriscar comer os pratos exóticos havaianos, frutos do mar carregados com pimenta ou a variada culinária americana, com mais gordura do que a estamos acostumados no Brasil.
Definitivamente estar preparado apenas fisicamente para uma competição deste nível, não é suficiente! É preciso controlar a ansiedade e a preocupação que antecedem a largada da prova. É possível controlar? E de que maneira?
Controlando a ansiedade
A oração havaiana e as diferentes técnicas de meditação para controlar a ansiedade e o nervosismo que antecedem uma prova desta grandiosidade. Finalmente chegou a hora da largada!
Pontualmente às 9h  do dia 29 de outubro de 2017, a buzina tocou e anunciou o inicio dos 1.500 metros de natação para os 740 triatletas classificados durante o ano para disputar esta etapa final.  O mar era uma grande preocupação dos organizadores.
Cynthia com a atleta Flora Duffy. Foto: arquivo pessoal
Cynthia com a atleta Flora Duffy. Foto: arquivo pessoal
Há dois dias, o mar  não oferecia segurança para os atletas. No caso de ondas grandes,  o cancelamento da natação é inevitável. Neste domingo de prova, um belo dia brilhou em Kalapua. O mar estava calmo com temperatura de 25 graus Celsius. Excelentes condições para a primeira modalidade do cross triathlon, a natação.
Depois de exatos 19 minutos e 9 segundos surge o primeiro colocado – Ben Allen, atleta profissional australiano que finalizou a primeira etapa da competição. Henrique Lugarini, o único atleta profissional representando o Brasil, fechou a “água” com 21 minutos e 27 segundos.
Com um sol impiedoso e uma temperatura de 32 graus Celsius, os triatletas – um a um – foram chegando e pegando suas bicicletas na área de transição e adentrando a mata para a segunda modalidade do triatlhon. O ciclismo. 32 quilômetros na montanha e nas trilhas pelas terras da propriedade do resort Ritz Carlton de Kapalua.
Após o término do ciclismo, na chamada transição numero dois, que é aonde os triatletas chegam para pendurar a bicicleta no cavalete, calçar os tênis e sair para correr, foi o momento em que a emoção tomou conta da prova. Depois de 1 hora e 27 minutos de ciclismo, o australiano já não estava mais na frente e sim, Ruben Ruzafa, o espanhol, a emoção continua…
Cadê o Maurizio Mendez? O atual campeão mundial do Xterra que havia saído do mar junto com o australiano Ben Allen, com 1 segundo apenas de diferença.
Humildade de atleta
Depois da prova, me aproveitei da simpatia do mexicano Maurizio e perguntei se ele havia caído da bicicleta durante o percurso ou tido algum problema mecânico, como por exemplo, um pneu furado. Algo que pudesse justificar a diferença de 5 minutos entre o Ruben e ele. E a maior humildade me respondeu: “Eles foram muito melhor do que eu na trilha de bike!”
Maurizio foi o sétimo profissional a sair para os 10.5 quilômetros de corrida que é a ultima modalidade do cross triathlon e a mesma montanha, pelas mesmas trilhas da disputa do ciclismo. Com uma única diferença: estava mais quente!
Depois de aproximadamente 40 minutos o helicóptero que estava filmando – televisionando a prova ao vivo para todo o mundo e acompanhando os primeiros colocados anunciava que o campeão mundial se aproximava da linha na chegada…
Bradley Weiss, o sul africano da cidade de Stellenbosch que tinha um décimo terceiro lugar em Maui no ano passado e um décimo no ano de 2014. Iniciou tarde a temporada de 2017 em virtude de uma fratura no pulso e, não era tido como favorito. No campeonato, consagrou-se campeão mundial do XTERRA 2017 com o tempo total de 2 horas, 32 minutos e 09 segundos.
Empatias a parte, me emocionei muito quando avistei Maurizio Mendez fechando a prova, com um minuto e quinze segundos atrás de Brad. E ele correu – literalmente atrás do prejuízo chegando em segundo lugar se tornando vice campeão do XTERRA Planet.
Cintia e Maurício Mendez. Foto: arquivo pessoal
Cintia e Maurício Mendez. Foto: arquivo pessoal
Na categoria feminino elite com 02 horas, 47 minutos e 47 segundos de prova, a atleta de 30 anos – Flora Duffy – com uma performance surpreendente, chega em primeiríssimo lugar. Ela venceu novamente, pela quarta vez a competição e, é tetra campeã mundial do XTERRA. Sem dar a menor chance para as demais colocadas que chegaram com quase dez minutos atrás.
Barbara Riveros , do Chile, finalizou a prova com 02 horas, 56 minutos e 11 segundos e, em terceiro lugar a alemã Laura Philipp, com o tempo total de 02 horas, 57 minutos e vinte e quatro segundos.
Mesmo depois de uma semana no Brasil, tenho a sensação que de alguma maneira ainda estou conectada no Hawaii. Me sinto presa por lá, por aquela paisagem paradisíaca, pela emoção da competição, pela participação dos brasileiros, o clima de realização de sonhos, e nós fomos muito bem tratados no Havaí.
Ao escrever este texto – no intuito de melhor passar as emoções da viagem – lembrei do cheiro das ilhas do Havaí. Uma das flores oficiais do arquipélago é realmente exuberante no território havaiano e, perfumada! Deixando seu perfume presente por todos os lugares por onde se passa.
* Cynthia Duarte é atleta profissional de ciclismo e atualmente é triatleta amadora. Trabalha atualmente incentivando e motivando pessoas a optar pela qualidade de vida através do esporte.
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