Turismo

Parque “escondido” em Curitiba é um dos mais fotogênicos da cidade

Flávia Schiochet
15/11/2018 13:16
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Universidade Livre do Meio Ambiente, a Unilivre, fica em meio ao Bosque Zaninelli, um dos lugares preferidos de casais e fotógrafos. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Leticia Akemi

A Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre), no Pilarzinho, já foi uma pedreira. Hoje é um parque sob responsabilidade de uma organização sem fins lucrativos e que carrega o título de universidade. A inauguração do parque, em 1992, teve a presença do oceanógrafo francês Jacques Cousteau, e em suas salas de aula, atualmente, ensina-se desde programação até questões ambientais. Em feriados e fins de semana, dois tipos de visitantes são os mais fáceis de encontrar no Bosque Zaninelli, onde funciona a Unilivre: os casais apaixonados e os fotógrafos. Essa essência híbrida do lugar talvez explique o sentimento ímpar de visitá-lo.
O caminho até lá quase sempre é guiado por alguém que descobriu a Unilivre “meio sem querer”. Foi o caso de Daniela Colombo, de 17 anos, pela primeira vez na Unilivre neste feriado de 15 de novembro. Com o hábito de frequentar o Jardim Botânico para encontrar Alexandre Reis, de 18 anos, eles decidiram aproveitar o feriado da Proclamação da República para visitar uma série de parques de Curitiba.
Alexandre e Daniela tiraram o dia para visitar vários pontos de Curitiba. Começaram pela Unilivre logo cedo. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Alexandre e Daniela tiraram o dia para visitar vários pontos de Curitiba. Começaram pela Unilivre logo cedo. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Os ponteiros ainda marcavam 8h30 quando o jovem casal chegou ao bosque. “Viemos turistar, por isso a mochila. Viemos direto para cá e vamos pegar o ônibus da Linha Turismo para descer no Parque Tanguá, Santa Felicidade e na Torre Panorâmica”, contou o rapaz. Diferente da maior parte dos visitantes, Daniela e Alexandre não empunhavam câmeras fotográficas ou celulares. Registravam o momento lado a lado, de mãos dadas, olhando a lagoa e o paredão de pedra.
Luana visitou pela primeira vez a Unilivre no feriado. João, que estudou arquitetura e costuma ir ao parque, sugeriu o endereço. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Luana visitou pela primeira vez a Unilivre no feriado. João, que estudou arquitetura e costuma ir ao parque, sugeriu o endereço. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
No mirante, a uns bons 15 metros de altura, outro casal tomava sol na companhia do cãozinho Thor. “É minha primeira vez aqui. Moro perto, mas nunca havia nem ouvido falar”, confessa Luana Portugal, de 23 anos. A sugestão foi de João Nehls, de 24 anos, formado em arquitetura. “Conheci durante a faculdade e gostei. Vim umas seis vezes”, diz. Ainda eram 9h45 e o casal estava no segundo parque daquela manhã. Antes, visitaram o Parque Vista Alegre, a menos de dois quilômetros dali.

Antiga pedreira já foi “prainha”

Por quase 40 anos, o espaço foi explorado como uma pedreira e transformado em parque só depois de alguns anos sem atividades. A molecada dos anos 1980 aproveitava a lagoa que se formou para nadar. “Isso aqui parecia uma praia, todo mundo vinha nadar, até turista”, relembra Antônio Carlos Luz, de 57 anos. Ele era um dos rapazes que escalava o paredão de pedra para pular na água. “Tem um buraco de uns oito metros de profundidade, apesar de parecer raso aqui na frente. Naquela época a gente via até pato que migra, aqueles pequeninhos”, conta. Na manhã de primavera, ele aproveitava o sol e o parque quase vazio para arejar a cabeça. “Para descansar em Curitiba, não há lugar melhor”, recomenda Antônio.
Antônio relembra seus tempos de guri, quando escalava o paredão para pular na lagoa. Hoje, ninguém nada no local. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Antônio relembra seus tempos de guri, quando escalava o paredão para pular na lagoa. Hoje, ninguém nada no local. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
A extensão do Bosque Zaninelli não é das maiores, mas a construção de alvenaria com estrutura de troncos de eucalipto (um reaproveitamento de postes de luz da Copel) impressiona quem o visita pela primeira vez. O projeto, de Domingos Bongestabs, foi eleito pelo próprio arquiteto como seu trabalho preferido em Curitiba. O espaço tem salas com pé direito alto e janelões de vidro que dão para o mato, uma boa direção para olhar entre um slide e outro.

Sons naturais e cliques profissionais

Com ou sem aulas, uma das atividades mais prazerosas é aguçar os sentidos. Ouve-se o canto dos pássaros (sabiás branca e preta, aracuã), o coaxar dos sapos e rãs e o som de insetos — cigarras, grilos — misturados aos cliques de câmeras profissionais. Há tantos ângulos “instagramáveis” que a Unilivre é um dos lugares preferidos dos fotógrafos para clicar ensaios de casais, gestantes, crianças. “Tem pouca gente, é fresco, tem onde se abrigar do calor ou da chuva e, acima de tudo, é bonito”, define o professor de fotografia Sérgio Giusti, do curso de fotografia do Seduc Intec do Capão Raso.
O professor de fotografia Sérgio Giusti gosta de programar as saídas fotográficas com os alunos na Unilivre porque é "fresco, tem onde se abrigar e, acima de tudo, é bonito". Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
O professor de fotografia Sérgio Giusti gosta de programar as saídas fotográficas com os alunos na Unilivre porque é "fresco, tem onde se abrigar e, acima de tudo, é bonito". Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Duas estudantes o acompanhavam em uma saída fotográfica às 9 horas do feriado de 15 de novembro, Ester Godinho e Adriana Ferreira de Mello. Era a primeira saída fotográfica das duas em área externa e o dia estava propício para boas imagens. “Essa área de sombra tem uns feixes de luz, dá para trabalhar bem os contrastes”, ensinava Giusti, no deck de entrada do bosque.
Na rampa que dá acesso ao mirante da Unilivre, a fotógrafa Daiany Proença dirige o casal Bianca e Felipe. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Na rampa que dá acesso ao mirante da Unilivre, a fotógrafa Daiany Proença dirige o casal Bianca e Felipe. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
A fotógrafa Daiany Proença dirigia os gestos do casal Bianca Bourdignon, de 26 anos, e Felipe Fernandes, de 25. “Beija ele no rosto”, ouvia-se. “Virem mais para cá… isso”. A primeira vez na Unilivre, Daiany gostou da locação, escolhida por Bianca. “Geralmente os ensaios são nos parques Tingui, Tanguá, São Lourenço, Bosque do Alemão, mas aqui é muito lindo também”, diz.
Com um pouco de paciência e movimentos lentos, qualquer visitante pode retratar a beleza da fauna e flora do Bosque Zaninelli — além das onipresentes selfies, claro. A reportagem encaminhava-se de volta à redação quando um morador do parque nos obrigou a parar. Bem alimentado — para não dizer gordo — e dando passadas largas, um tipo com toda a pinta de ser o famoso sapo cururu se dirigia à lagoa. Eles ainda podem mergulhar por lá.
Um morador da Unilivre se prepara para um mergulho matinal. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Um morador da Unilivre se prepara para um mergulho matinal. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo

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