Turismo

Turistas depois dos 60: eles esperam a aposentadoria para ganhar o mundo

Guilherme Grandi
05/11/2018 17:00
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Ivanilde e o marido, Cláudio, viajaram ao nordeste com amigos de mais de quatro décadas para viver novas experiências. Foto: Ivanilde Trevisan/acervo pessoal.

Eles são experientes, já viram de tudo um pouco, criaram filhos e netos e hoje querem mais é aproveitar a aposentadoria. Os turistas da terceira idade já somam 25,4% dos mais de 27 milhões de brasileiros acima dos 55 anos, e seguem ativos em busca de novas experiências.
Que o diga o casal Ivanilde Trevisan (59) e Cláudio de Oliveira (64). Junto de amigos de mais de quatro décadas, eles embarcaram em uma viagem rumo ao litoral do Rio Grande do Norte para comemorar 40 anos de casados e viverem novas experiências emocionantes.
“Era um sonho conhecer Natal. Nós andamos de bugue pelas dunas de Genipabu, de dromedário pela praia, ficamos na piscina descansando, e o melhor de tudo é que pagamos meia entrada em tudo”, conta Ivanilde.
Dados do Ministério do Turismo mostram que os viajantes da melhor idade, como são chamados pelo mercado, não formam apenas uma tendência. O estudo Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem aponta que as pessoas dessa faixa etária querem sair de casa e conhecer novos destinos, principalmente dentro do país.

Fala português?

Sem medo, Ivanilde se aventurou no dromedário. Foto: Ivanilde Trevisan/acervo pessoal.
Sem medo, Ivanilde se aventurou no dromedário. Foto: Ivanilde Trevisan/acervo pessoal.
Um levantamento da agência virtual ViajaNet mostra que as pessoas com mais de 55 anos já representam 15% das viagens domésticas, por conta da facilidade com a língua e do tempo menor de voo. “Eles escolhem principalmente destinos que ofereçam praia e calor, águas termais, vinícolas e atrativos culturais, como galerias de arte e museus”, conta o agente Thiago Borges, da Old Is Cool Turismo.
Entre os lugares mais procurados estão as praias do nordeste, os resorts termais de Rio Quente e Caldas Novas (GO) e a Serra Gaúcha (RS), em pacotes de no máximo cinco dias viajando.
“Muitos deles já chegam com o roteiro pronto, com uma lista do que querem conhecer. Às vezes são lugares com pouca ou nenhuma acessibilidade, aí precisamos orientar sobre o que ela vai encontrar lá e as dificuldades que podem atrapalhar a viagem”, completa o agente.

Além das fronteiras

A peregrinação à Terra Santa está entre os roteiros mais vendidos para a terceira idade. Foto: VisualHunt.
A peregrinação à Terra Santa está entre os roteiros mais vendidos para a terceira idade. Foto: VisualHunt.
Por outro lado, as viagens internacionais deste público cresceram 7% neste ano, e eles já respondem por 22% das compras. Assim como no Brasil, a escolha do destino fora também depende da língua.
Thiago Borges explica que estes turistas preferem viajar para lugares que falam português, como Portugal, e espanhol, como a Espanha, a Argentina e o Uruguai. Mas há um roteiro em particular que é campeão de vendas, mesmo com todas as dificuldades do idioma e do tempo de viagem.
“Os pacotes para a Terra Santa, em Israel, são um pouco mais longos e sempre saem lotados. Eles não se importam em gastar mais para fazer a peregrinação e conhecer aquela parte do mundo”, conta Thiago Borges.

Cuidados

Além de ser um mercado em crescimento no Brasil, com um potencial que passa de 20 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial de Turismo, preparar roteiros para este público exige uma dedicação extra personalizada.
A assistência 24 horas é fundamental para evitar ou resolver imprevistos que podem ocorrer a qualquer momento. O casal Ivanilde e Cláudio ficou em contato com o agente o tempo todo, e precisou dele para resolver alguns problemas durante a viagem.
“A gente chegou em Natal e houve um contratempo no aeroporto, aí teve outro no hotel, e ele resolveu tudo na hora”, conta.
O agente de viagens conta ainda que o Brasil está engatinhando quando o assunto é turismo na terceira idade. Para ele faltam opções de hospedagens e atividades específicas para este público, responsabilidade social de ofertar uma experiência condizente e, acima de tudo, perceber que estas pessoas têm necessidades especiais.
“Muitos hotéis e restaurantes não estão preparados com acessibilidade, não têm cardápios especiais para diabéticos ou hipertensos, ou uma equipe com médicos e enfermeiros que consiga socorrer no meio da noite se precisar”, explica.
Além da assistência dia e noite, Thiago só fecha a venda de um pacote depois do cliente preencher uma ficha médica completa relatando seus problemas de saúde, medicamentos usados e o contato do especialista que o trata. E também após a contratação de um seguro viagem.
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