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Adolfo Sachsida

Adolfo Sachsida

Relações Brasil – EUA

O tarifaço de Trump: culpados, efeitos e a soberania

Política externa brasileira sob Lula confronta diretamente interesses americanos. (Foto: Remko de Waal/EFE/EPA)

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Este artigo exige uma maturidade intelectual acima de 12 anos para ser compreendido.

Comecemos pelo básico: em 2 de abril de 2025, o presidente Donald Trump anunciou a lista de tarifas de importação que cada país teria de pagar para comercializar com os Estados Unidos. Nessa lista, o Brasil estava no grupo que recebeu a menor tarifa de todas — 10%. Ignorar esse fato é um erro grave, pois ele é essencial para entender o óbvio: em abril de 2025, os Estados Unidos colocaram o Brasil em uma posição comercial privilegiada.

Foi apenas em julho de 2025 que o Brasil passou a sofrer sanções adicionais, elevando a tarifa de importação para 50%. Uma análise honesta precisa, portanto, responder à pergunta: o que aconteceu entre abril e julho de 2025 para que os Estados Unidos tirassem o Brasil do grupo de menor tarifa e o colocassem no grupo de tarifas mais altas?

Minha explicação difere da de muitos analistas. Em vez de demonizar Trump, procuro compreender como ele enxerga a si mesmo e o papel da América no mundo. Trump me lembra outro presidente americano: Ronald Reagan. Assim como Reagan acreditava que era dever dos Estados Unidos ser o farol e o guardião do mundo livre, Trump vê a si mesmo nessa missão. Reagan confrontou a União Soviética, que considerava a grande inimiga do mundo livre. Trump hoje confronta a China.

Nesse cenário, tarifas e política externa americana devem ser analisadas em conjunto. Reagan usou o programa “Guerra nas Estrelas” para enfraquecer a União Soviética; Trump usa as tarifas para fortalecer a posição americana. Como Reagan, ele deixou de lado o soft power e preferiu o hard power nas relações internacionais.

Aqui entra o papel do Brasil. O presidente Lula tem reiterado a intenção de criar uma moeda comum para o comércio no âmbito do BRICS, deixando de lado o dólar. Soma-se a isso a postura hostil de Lula, do PT e do Itamaraty contra Israel — aliado histórico dos EUA e próximo de Trump —, a aproximação com regimes como Irã e Venezuela, e o estreitamento de laços com a China. Essas ações, no conjunto, foram determinantes para a mudança de postura de Trump. A política externa brasileira sob Lula confronta diretamente interesses americanos; é natural que os EUA busquem, dentro do Brasil, aliados contra essa agenda.

O tarifaço americano é resultado direto da política externa de Lula

Há ainda um fator adicional: no Brasil, um ministro do Supremo Tribunal Federal censurou previamente diversos perfis em redes sociais — inclusive de cidadãos e empresas americanas. Censura prévia, vale lembrar, é expressamente proibida pela Constituição. Essa medida insere-se no contexto global de disputas envolvendo as big techs, empresas majoritariamente americanas que temem perdas financeiras e de mercado com legislações restritivas. A atuação de Alexandre de Moraes, especialmente contra políticos e influenciadores de direita, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (figura que Trump vê como barreira à aproximação Brasil–China), atraiu atenção e descontentamento em Washington.

Quando a União Europeia ameaça não comprar produtos brasileiros ou se recusa a assinar acordos comerciais caso o Brasil não adote legislações ambientais mais rígidas, isso também é interferência em nossa soberania. Mas, curiosamente, muitos que criticam a “interferência americana” por meio de uma tarifa de 50% se calam diante de uma tarifa infinita — a proibição total de importações — imposta por europeus. Países têm agendas e, pela diplomacia, buscam impor seus interesses. Após Reagan e o fim da União Soviética, a diplomacia americana voltou-se ao soft power. Trump resgatou a “diplomacia de cowboy” de Reagan, sem hesitar em usar o hard power. Em ambos os casos, o objetivo é o mesmo: influenciar países dentro de sua área de interesse.

Dizer que os Estados Unidos “atacam a soberania brasileira” é chover no molhado. Todos os países o fazem. A diferença está no instrumento utilizado. Se o Brasil anunciasse hoje que abriria uma embaixada em Taiwan, a China levaria menos de 48 horas para impor sanções. Isso também seria um ataque à nossa soberania. Quem tem maturidade entende: não podemos fazer tudo o que queremos sem consequências — nem como indivíduos, nem como nações.

Em resumo: o tarifaço americano é resultado direto da política externa de Lula, marcada pelo ataque ao dólar e pela aproximação com ditaduras hostis aos interesses dos EUA. A postura de Alexandre de Moraes, atingindo pessoas e empresas americanas, também contribuiu para as sanções. Chamar isso apenas de “ataque à soberania” é infantilizar o debate. Mais do que sanções, estamos vendo o fechamento do mercado americano ao Brasil. As consequências econômicas vão muito além da balança comercial e podem afetar gravemente o mercado de crédito e capitais, com impactos negativos para toda a economia brasileira.

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