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Há algo de estranho se movendo silenciosamente nos porões da economia brasileira. Um fenômeno que, embora ainda pouco visível nas estatísticas oficiais, parece ganhar força e produzir efeitos concretos nas ruas do país. Algo de errado está acontecendo — e os dados econômicos não estão captando.
Por trás dos números aparentemente positivos, cresce o número de pessoas vivendo nas ruas e pedindo ajuda nos grandes centros urbanos. Esse aumento contrasta com o cenário econômico e social descrito pelos indicadores oficiais. Desde 2021, o desemprego caiu para mínimas históricas, a renda média do trabalhador aumentou e as transferências de renda se mantêm em níveis elevados.
Em 2019, o valor médio do Bolsa Família girava em torno de R$ 189. Em 2022, esse valor saltou para pouco mais de R$ 600, e o número de famílias beneficiadas subiu de 17 para cerca de 21 milhões. Desde então, os dados indicam estabilidade tanto no valor do benefício quanto na quantidade de beneficiários. À primeira vista, tudo sugeriria uma melhora das condições socioeconômicas das famílias pobres. Contudo, a realidade nas ruas conta outra história. Por que vemos cada vez mais pessoas pedindo esmolas e morando nas ruas dos grandes centros urbanos?
Não há, por enquanto, uma resposta definitiva. O que se pode fazer é levantar hipóteses. Estariam os programas sociais produzindo efeitos colaterais sobre a oferta de trabalho? O aumento das transferências teria incentivado a migração de populações pobres de regiões isoladas para os grandes centros urbanos? Ou será que a pandemia deixou marcas mais profundas no endividamento e no empobrecimento das famílias do que os dados conseguem mostrar? Seria possível que as estatísticas do IBGE estejam enfrentando limitações metodológicas para retratar o verdadeiro quadro da pobreza e do desalento?
Contudo, a realidade nas ruas conta outra história. Por que vemos cada vez mais pessoas pedindo esmolas e morando nas ruas dos grandes centros urbanos?
Reitero: não tenho a resposta. Mas é urgente que especialistas e formuladores de políticas públicas se debrucem sobre essa aparente contradição. Talvez os indicadores tradicionais estejam mascarando uma transformação mais profunda — e preocupante — que ocorre nas entranhas da economia brasileira.
Algo se move de forma invisível, mas perceptível a olho nu nas ruas das grandes cidades. O aumento da população de rua é real, mesmo que não apareça nas planilhas oficiais. Ignorar esse sinal pode custar caro. Cabe aos formuladores de política econômica enxergar o que os números falham em captar — e agir antes que o invisível se torne insustentável.




