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O governo acabou de publicar uma medida provisória com uma incrível engenharia financeira: hoje, você é obrigado a deixar parte de seu dinheiro no banco, rendendo 3% ao ano. Mas, se quiser usar esse dinheiro como garantia em um empréstimo, terá de pagar em juros 3% ao mês. E o presidente Lula está vendendo isso como algo maravilhoso para o cidadão. O mesmo Lula que já disse haver “muita estabilidade jurídica” no Brasil, e que promove uma “nova politica econômica” que de nova não tem absolutamente nada. O mesmo Lula que, na campanha eleitoral, afirmou categoricamente que era contra a nomeação de amigos para o STF, e contra colocar sigilo em tudo.
Dizem que o 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe. Janja negou que os impostos sobre produtos importados fossem atingir os consumidores. Vários canais midiáticos importantes publicam fake news à luz do dia, enquanto chamam de fake news notícias verdadeiras, mas incômodas. Anos atrás, o então ministro Aloizio Mercadante negou que o Brasil tivesse uma economia fechada. E lembram do falso (quase) desmaio de Dilma? Todos perceberam que era fingimento, mas ninguém ousou falar. Esse é o nível das mentiras.
Quando os brasileiros vão ao exterior ou estudam dados internacionais, descobrem que muito do que ouviram a vida toda é simplesmente falso
Desde crianças, nas escolas, na tevê e em casa, todos ouvem que Santos-Dumont inventou o avião; que o Brasil não deu certo por ser uma “colônia de exploração”, e que é pobre por culpa do imperialismo; que a culpa da Guerra de Paraguai foi da Inglaterra, e que o Brasil promoveu genocídio contra os paraguaios; que Getúlio Vargas foi o pai dos pobres. E tem mais: que a feijoada é africana; que os Estados Unidos apoiaram o golpe de 1964; que a Inglaterra queria acabar com a escravidão para criar um mercado de consumidores; que Paulo Freire é aplicado fora daqui; que o PSDB é de direita neoliberal; e que o Brasil é mundialmente respeitado por sua tradição diplomática de neutralidade e seriedade. Mentiras e lavagem cerebral!
Vivemos em uma República que nasceu de um golpe – mas ninguém conta a história dessa forma na escola –; uma república federativa que não é nem federativa, nem república. As pessoas acham que existem programas sociais, quando na verdade a redistribuição é regressiva, dos pobres aos ricos. As atendentes nas lojas perguntam nosso nome, fingindo-se de amigas. Todos repetem que vivemos em um país capitalista, quando na verdade temos pouquíssima liberdade econômica. Julgando-se chiques, muitos se deixam enganar por produtos e marcas “de grife” que focam mais no marketing, no atendimento e no packaging que na qualidade do produto. O Brasil é o país do “diferenciado”, do “exclusivo”, do “premium”, do “gourmet”, mas na verdade a qualidade é péssima. Fingimos acreditar em dados sobre minorias organizados e divulgados por esses mesmos grupos. Até o “depois passa lá em casa!” é fingimento.
Mas às vezes a cortina de fumaça cai. Quando os brasileiros vão ao exterior ou estudam dados internacionais, descobrem que lá fora tudo é mais barato; que os inventores do avião foram os irmãos Wright; que Zara e Gap não são marcas de qualidade; que a feijoada vem da Europa; que lá todo mundo tem carro; que tudo tem menos impostos; que a qualidade do xampu, do detergente e dos produtos industriais de forma geral nem se compara à dos produtos achados aqui; que é possível andar na rua bem mais tranquilo, que não é necessário ter cerca elétrica, grades, duplo portão, vidros pretos nos carros.
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Lá fora, descobrimos que a culpa não foi nem de Portugal, nem da Inglaterra; que as paletas não são mexicanas, que na Suíça mal tem limão, e que lima não é limão; que ninguém nunca ouviu nem falar de Paulo Freire; que a Inglaterra tentou impedir a Guerra de Paraguai, e que lá não houve genocídio. Descobrimos até que a muçarela, o cappuccino, o croissant e o estrogonofe não são como aqui! Ficamos sabendo que ninguém mais leva Karl Marx a sério, e que lá fora os partidos de esquerda são social-democratas, comparáveis ao PSDB; que os partidos de esquerda extremista são minúsculos; e que a esquerda daqui é extremista.
Em resumo, vivemos no país da enganação.
No mundo inteiro, “propaganda” significa uma atividade (estatal) voltada a instalar certas ideias na opinião pública, por meio de lavagem cerebral em massa, como havia sido a propaganda nazista de Goebbels. Mas, por aqui, o termo virou mera publicidade inócua.
No filme O Show de Truman, com Jim Carrey, o protagonista, Truman Burbank, vive sua vida aparentemente normal quando, gradualmente, descobre viver dentro de um grande reality show desde seu nascimento. Toda a cidade na qual vive é falsa; os colegas, os amigos e até os familiares são, na verdade, atores. O mundo real está fora dessa cidade-maquete, e as pessoas de verdade estão assistindo à vida dele na tevê. Quando Truman descobre tudo isso, obviamente, sofre um desconforto geral, entra em crise e tenta fugir. Também nós vivemos numa grande mentira, em que tudo é fingimento, encenação e teatro. O Brasil é “um país de Truman”.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos




