Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Adriano Gianturco

Adriano Gianturco

Domínio territorial

Groenlândia, Panamá e a volta do imperialismo

Navio porta-contêineres no Canal do Panamá (Foto: Carlos Lemos / EFE)

Ouça este conteúdo

Existem países “normais” (estados-nações) e existem impérios. EUA, China, Rússia, França, Turquia e Irã são impérios, já foram Impérios em algum momento da história e/ou aspiram ser impérios ainda. Os impérios não se comportam como países “normais”.

Essa não é uma crítica marxista, é uma banal constatação, consenso entre historiadores e cientistas políticos de qualquer vertente.

As características dos impérios são 1) território grande; 2) ausência de fronteiras fixas; 3) domínio de populações diversas; 4) jurisdição multinível com autonomia das autoridades locais; 5) funciona como um guarda-chuva geral sem entrar nos detalhes locais; 6) menos guerras internas e mais conflitos externos, especialmente com outros impérios.

Os impérios contemporâneos são diferentes dos modernos (Inglaterra, França) e dos antigos (Romano, Chines, Persa) pois às vezes exercem um controle indireto usando mais soft power.

Recentemente, Donald Trump falou de expandir o território para o Canadá, a Groenlândia, o canal do Panamá e renomear o Golfo do México em Golfo da América. É importante distinguir entre jogadas de marketing e questões mais sérias. A questão da Groenlândia e do Canal do Panamá são sérias. A estratégia de Trump, se sabe, é dominante: sempre “atacar” exagerando e depois negociar (veja o livro dele).

A Groenlândia é um território administrado, com um certo grau de autonomia, pela Dinamarca. É a maior ilha do mundo, mas alí vivem só (cerca de) 60.000 pessoas. Durante a Segunda Guerra Mundial já foi controlada pelos EUA e já teve outras propostas de aquisição. É um território muito estratégico pois 1) tem muitos metais preciosos e terras raras; 2) é próximo aos EUA e importante em eventuais conflitos militares); 3) A China está avançando.

Em 1917 a Dinamarca já vendeu as Ilhas Virgens aos EUA. Além disso, os EUA já compraram o Alasca da Rússia, a Louisiana da França e parte do New México e da Arizona do México.

Outros territórios foram conquistados e anexados. Tomaram os atuais territórios de Califórnia, Nevada, Utah, Texas e do Colorado. O Hawai foi tomado com um golpe contra o monarca. Porto Rico e Guam foram controladas com a Guerra contra a Espanha.

Além disso, atualmente os EUA têm bases militares em cerca de 80 países e tem uma enorme esfera de influência.

O Canal do Panamá foi construído pelos EUA em 1914, e entre 1979 e 1999 passou o controle ao Panamá. Hoje se sentem prejudicados pelo avanço da China na região.

Os EUA não expandem seu território faz muito tempo, mas o imperialismo chinês está avançando no Mar do Sul da China, nas ameaças a Taiwan e Honk Kong, nos conflitos com Austrália e Filipinas, na Nova Rota da Seda, na infraestrutura na África, na chegada a América Latina, na Groenlândia e no Panamá. Com Trump, os EUA estão decidindo voltar a acelerar no imperialismo.

Em termos sociológicos e domésticos é o seguinte. A América das grandes cidades e das costas (que vota democrata) é mais isolacionista, acha que os EUA fizeram muito mal ao resto do mundo, prefere se retirar e talvez até pedir desculpa; ao contrário, a população do interior, do bible belt, do rust belt e do sul, acha que os EUA são adeptos à teoria da “excepcionalidade” americana, e à “doutrina do destino manifesto” que fala de um importante papel global dos EUA. No mínimo contra outras potências piores.

É uma aposta, talvez até um all-in. Pode ser o começo de uma mudança histórica enorme. Se os EUA ganharem essa, seu domínio continuará, mas se perderem, o fracasso será evidente e poderemos assistir a uma nova ordem global baseada sobre outros “novos” impérios (vide China).

Estamos acostumados aos estados-nações, mas por milhares de anos foram os Impérios a dominar a Terra e a história é história de impérios, que estão só voltando.

VEJA TAMBÉM:

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.