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Os EUA estão perdendo poder relativo enquanto a China está ascendendo e muitos países se aproximam dela, economicamente e politicamente. Há 15 anos, os Estados Unidos eram o principal parceiro comercial de quase todos os países do mundo; hoje, a China ocupa esse posto. Diante disso, os EUA estão pressionando vários países para que se reposicionem a seu lado; sabem que agora ou nunca – e talvez já seja tarde demais.
Além disso, as big techs proporcionaram um reequilíbro mundial da política. Jeff Bezos, Mark Zuckerberg e Elon Musk são, em maior ou menor grau, colunas de apoio do governo Trump. As redes sociais são neutras, mas na prática favorecem a direita por serem a última arena onde ela ainda consegue sobreviver, tendo perdido espaço na academia e na imprensa.
Os EUA reclamam do protecionismo brasileiro há muito tempo; agora, também se queixam do fechamento do mercado de saúde. A tudo isso, adicionem-se pintadas de mercantilismo e de protecionismo da parte de Donald Trump, e o cenário está pronto. O presidente norte-americano está impondo tarifas a todo o mundo, não só ao Brasil, principalmente por esses motivos.
Lula provoca Trump porque ele ganha tendo um inimigo externo e imaginário; sua vantagem competitiva está no conflito e na confusão
Só depois vem a questão específica do Brasil, envolvendo o STF e Jair Bolsonaro. Políticos e jornalistas como Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueredo estão nos EUA e mostraram a repressão política instaurada contra um aliado de Trump; esta foi a cereja do bolo, sem contar o fato de que Lula insulta e provoca Trump desde antes de o republicano vencer as eleições de 2024.
Também o Brasil trocou os EUA pela China como principal parceiro comercial. O Brasil é um dos países mais protecionistas do mundo; agora, também censura, processa, bloqueia, hiper-regulamenta e inferniza a vida das empresas norte-americanas de mídias sociais, tanto aqui quanto lá. Além disso, o Brasil já sinalizou o desejo de criar um “WhatsApp” e uma inteligência artificial próprios. O Pix fez as empresas de cartão (todas norte-americanas) perderem dinheiro; a desdolarização e o Drex ameaçam ainda mais este cenário. O Brasil está recebendo a empresa de cartões de crédito chinesa Union Pay, que opera fora do sistema Swift, e o Banco Master acabou de aderir ao Cross-Border Interbank Payment System (Cips), o equivalente chinês do Swift.
O Brasil também está propondo uma rede de cabotagem submarina de cabos de internet em parceria com os Brics, como alternativa ao sistema ocidental. O governo Lula aumentou exponencialmente a compra de diesel russo. O Brasil está construindo uma ferrovia até o Peru para facilitar a exportação de minerais raros para a China. Em resumo, de modo geral, hoje o Brasil é aliado de países como China, Rússia, Irã, Venezuela, Nicarágua e Cuba. Quer sair do Swift, ter um GPS e uma rede de cabotagem própria para não sofrer sanções, e poder continuar desrespeitando livremente direitos humanos básicos.
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Não é verdade que seja impossível negociar com Trump. Ele é, antes de tudo, um negociador. Líbia, Cazaquistão, Bangladesh, Sérvia, Tunísia, Mianmar, Bósnia-Herzegovina, Moldávia, África do Sul, Laos, Iraque, Indonésia e Camboja negociaram e conseguiram baixar suas tarifas. O Sri Lanka consegui reduzi-las de 44% para 30%; o Japão, de 25% para 15%; a União Europeia, de 50% (exatamente como o Brasil) para 30%. E muitas outras negociações ainda estão em curso.
Tanto Trump quanto Lula estão jogando um “all in”. Lula não negocia com Trump porque sabe que, entregando o que Trump quer, sem um STF e um TSE alinhados e com Bolsonaro de novo no jogo eleitoral, sua turma não ganha as eleições. Lula provoca Trump porque ele ganha tendo um inimigo externo e imaginário; sua vantagem competitiva está no conflito e na confusão, este é seu habitat natural de luta sindical. Discursos ideológicos, de palanque, são o que Lula mais sabe fazer.
Trump pode esperar por muito mais tempo; o efeito das tarifas é pequeno por lá, mas grande por aqui. Agora, depende do setor produtivo. Se os empresários e a sociedade, temendo as enormes perdas econômicas, pressionarem o STF e o Executivo, algo pode mudar; do contrário, teremos mais ideologia, mais repressão e mais isolamento.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos




