
Ouça este conteúdo
Quando o Cavalo de Troia entrou na cidade, Cassandra avisou que era uma armadilha e ninguém acreditou. Ela sofria da maldição de fazer sempre previsões certas, mas de nunca ser escutada.
Hoje, alguns especialistas parecem ter a bênção oposta, mais fazem previsões erradas e mais ficam importantes e famosos.
Em 1798, Malthus previu que a população ia crescer mais que os recursos e que portanto íamos passar fome e miséria, as últimas páginas do seu livro são apocalíticas: fome, miséria e extinção.
Aconteceu exatamente o contrário, a produtividade cresceu, os recursos aumentaram mais que a população e hoje somos mais pessoas no mundo, somos mais ricos, temos mais recursos per capita e a expectativa de vida aumentou.
Poucos anos antes, Cantillon tinha falado o contrário: a produtividade não é dada, depende da tecnologia e pode aumentar mais que a população. Ele não via perigo da população aumentar de forma exponencial pois sempre se adapta ao nível de recursos disponíveis. Além da questão demográfica, ele previu também a “Bolha de Mississippi”. John Law convenceu o rei Louis XV a imprimir títulos públicos do nada para financiar os fastos e gastos da Coroa que não teria problemas e geraria crescimento. Cantillon entendeu que crescimento econômico artificial é uma bolha e que mais cedo ou mais tarde vai estourar, vendeu tudo antes do estouro e ficou milionário!
Na obra The population Bomb, Paul Ehlrich, escreveu “a batalha para alimentar a humanidade acabou. Nos anos 1970, haverá epidemias de fome no mundo e centenas de milhões de pessoas vão definhar até morrer”.
Julian Simon discordava e em 1980 o desafiou a apostar publicamente. Se realmente no futuro terá menos recursos que pessoas, então, os recursos aumentarão de preço. Simon deixou Elrich escolher 10 commodities, e se comprometeram em ver o preço depois de 10 anos. Os preços caíram, Ehlrich errou (como Malthus) e perdeu a aposta. Os recursos aumentaram mais que a população, de novo. De 1980 até 2022, a população aumentou 79,4%, enquanto a disponibilidade de recursos aumentou 190%.
Durante a guerra fria, estavam em competição dois modelos alternativos, a democracia capitalista e o autoritarismo de planejamento central. O economista Paul Samuelson, previu repetidamente o predomínio econômico soviético em cima dos EUA. Em 1961, escreveu o que teria acontecido possivelmente até o 1984, ou mais provavelmente até o 1997. Depois, em 1980 postergou as datas para 2002 e 2012. Em 1989, o sistema colapsou.
Quem prevê corretamente é menos ouvido
“A economia soviética é a prova que, contrariamente ao que muitos céticos tinham acreditado precedentemente, uma economia socialista de comando pode funcionar e até prosperar”, falava. Sim, funcionava para colocar “cosmonautas” na lua, mas não para colocar comida nos pratos das pessoas comuns. Por outro lado, já em 1920 Mises previu que uma economia de planejamento central, sem sistema de preços livres não tinha como se sustentar.
Em 2002, antes da crise dos subprime de 2007-2008, o economista Joseph Stiglitz, escreveu “a probabilidade de um default acontecer é extremamente baixa”. Por outro lado, o economista austríaco Peter Schiff, alertou, desde 2005, que teria tido um crash, visto que o crescimento econômico estava sendo financiado à dívida e com expansão monetária (era uma bolha), enquanto a produtividade não estava aumentando. As pessoas riam, literalmente, na cara dele. Mas afinal ele estava certo, vendeu dólares, investiu em ouro e lucrou.
Não obstante Malthus estivesse objetivamente errado (e isso é consensual), o mundo está pleno de neo-malthusianos.
Pelo menos desde 2009, o ex-vice-presidente americano e ambientalista radical Al Gore, falava que tínhamos só 10 anos para salvar o planeta. Ambientalistas vários falam que o petróleo vai acabar desde os anos 1960; que a chuva ácida ia acabar com as plantações em 10 anos, desde o 1980; que a camada de ozônio ia acabar em 10 anos, desde os anos 1990; que a calota polar ia derreter em 10 anos, desde o ano 2000; Ainda em 1990, Mostafa Tolba, o chefe do programa ambiental da ONU falou que íamos “perder ou ganhar a batalha do clima até os primeiros anos dos anos 1990”; em 1971, o prof. Rasool, da Columbia University e da NASA, falou que “nos próximos 50 anos a poeira que constantemente emitimos na atmosfera queimando combustíveis fosseis, pode tampar tanta luz solar que a temperatura média pode cair de 6 graus” (isso 54 anos atrás).
Em 1923, previram que o gelo polar ia varrer o Canadá. Nos anos 1970 previam uma nova era do gelo em 10 anos; desde 1895, o New York Times e o prof. Schmidt alertavam que ia ter uma nova era do gelo. Agora preveem exatamente o contrário. Em 1985, o Presidente da EMBRAPA previu que até 2010 a Amazônia “será mais famosas pelos areais que pelas árvores que hoje ainda possui”. Até o Pentágono, em 2004, alertou o então Presidente Bush, que as mudanças climáticas iam destruir a humanidade em 20 anos.
Os neo-malthusianos detêm o recorde absoluto de previsões erradas e mesmo assim são os mais ouvidos. Os economistas das bolhas vêm logo em segundo lugar. Mais erram, mais são levados a sério. Quem prevê corretamente é menos ouvido. Afinal, como falava Ricossa, a verdade é que “O bom economista (e isso pode se estender a todos os cientistas) prevê só o que tv e jornais gostam”, o contrário de Cassandra.
VEJA TAMBÉM:




