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Não há dúvidas dos benefícios da globalização. O avanço do capitalismo em escala global aumentou o fluxo de comércio e investimentos entre as nações, e trouxe redução de preços para os consumidores e aumento da atividade econômica para os países envolvidos. Quanto mais inserido um país no processo de globalização, maior será a redução da pobreza para a sua população.
Se, por um lado, são incontestáveis os benefícios da globalização, por outro, torna os países mais vulneráveis a choques externos. Num mundo globalizado, pandemias, conflitos geopolíticos, guerra tarifária e desastres naturais afetam a vida de países que não estejam diretamente envolvidos nessas questões.
Com o conflito entre Israel e Irã, não é diferente. Caso a guerra se prolongue, haverá consequências para o mundo, incluindo o Brasil.
A primeira delas é o aumento de preços do petróleo, já em curso, com impactos inflacionários. Como o petróleo é utilizado em diversos insumos e produtos, além de ser matéria-prima para combustíveis, o impacto no aumento de preços ocorre quase de forma generalizada ao longo das cadeias produtivas.
O impacto inflacionário poderá se tornar ainda maior, caso o Estreito de Ormuz –20% da produção de petróleo mundial passe por essa região - for fechado pelo Irã ou atingido militarmente.
Nesse caso, haverá um choque do petróleo, com efeitos inflacionários ainda mais pesados para a população.
Outra consequência negativa é a provável alta do dólar. Geralmente, em crises geopolíticas, aumenta a aversão ao risco e os investidores correm para comprar dólares (moeda forte)
A maior demanda por dólares desvaloriza o real, gerando também impactos inflacionários, enquanto nos processos produtivos há componentes importados ou insumos cotados na moeda norte-americana.
Com mais inflação, gerada pela alta do dólar e do petróleo, o corte na taxa Selic poderá levar mais tempo para acontecer, ou eventualmente poderá ocorrer até uma elevação da taxa básica de juros, hoje em 15% a.a. - patamar bastante restritivo.
Juros elevados prejudicam fortemente os investimentos das empresas – variável fundamental para a expansão do PIB -, na medida em que tornam o crédito mais oneroso para adquirir bens de capital.
A combinação de juros elevados com câmbio depreciado é bem prejudicial para as empresas. Mesmo as máquinas e tecnologias adquiridas no exterior se tornam mais onerosas, principalmente para as indústrias dependentes de importação para expandir os seus investimentos produtivos.
Essa situação já seria preocupante, mesmo numa economia saudável. No entanto, numa economia cuja inflação acumulada em 12 meses (5,32%) gira acima do teto da meta (4,5%), a taxa básica de juros se encontra em 15% a.a. e está fragilizada do ponto de vista fiscal – déficit primário e dívida pública elevada, só nos resta rezar para que o conflito entre Israel e Irã não escale.




