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O relatório Focus, de alguns meses atrás, mostra um arrefecimento da projeção de inflação. Em 01/04/2025, a expectativa para o IPCA em 2025 era de 5,65%; hoje, a projeção está em 4,86%. Na mesma trajetória, o IPCA acumulado em 12 meses caiu de 5,53% em abril para 5,23% em julho. Embora haja uma desaceleração nessas métricas, o dragão da inflação está longe de ser domado.
O último IPCA-15 não deixou dúvidas de que a inflação está elevada. Embora o índice tenha registrado variação negativa, a deflação ocorreu apenas por um fator circunstancial: a queda da energia elétrica residencial decorrente da incorporação do bônus de Itaipu.
É verdade que também houve quedas nos preços dos alimentos consumidos no domicílio (-1,02%). No entanto, a deflação dos alimentos já era esperada devido aos efeitos do aumento da oferta decorrente da supersafra agrícola. Outro fator que pode ter contribuído para a queda de preços do grupo alimentação é o efeito das tarifas protecionistas de Donald Trump.
Com maior dificuldade para exportar para os EUA, houve aumento da oferta de alimentos no mercado interno, ocasionando redução de preços para os consumidores. No entanto, as quedas nos preços dos alimentos e da energia não foram observadas em despesas pessoais, saúde e educação.
Como o índice cheio é uma média ponderada da variação dos preços, a inflação pode ser mascarada por quedas extraordinárias de alguns itens. Da mesma forma, uma alta do índice pode ser influenciada por elevações pontuais de alguns produtos, não representando necessariamente um processo inflacionário, caracterizado pela elevação generalizada e persistente dos preços, ocasionada principalmente pelo excesso de dinheiro acima do que a economia consegue absorver.
Uma forma de “limpar” o indicador desses choques extraordinários é pelo cálculo das medidas de núcleo, que recalculam o IPCA excluindo determinados itens.
Se levarmos em conta apenas a inflação de serviços, a alta foi de 0,50%. Se dessa categoria excluirmos os itens mais voláteis, como passagens aéreas, a inflação de serviços chega a 0,55% ao mês, ou 6,80% em taxas anualizadas. Já se o cálculo for feito sobre os produtos industrializados, a inflação mensal atinge 0,49%.
Outro ponto que chamou a atenção foi o maior percentual do índice de difusão, que passou de 51,2% em julho para 57,2% em agosto. Isso significa que 57,2% dos itens que compõem o IPCA-15 tiveram variação acima de zero. Quanto maior o índice de difusão, mais espalhada está a inflação.
Além disso, o índice cheio no acumulado de 12 meses (4,95%) continua acima da meta de 3% e também do limite máximo de tolerância de 4,5%.
Outro ponto de atenção é que a desaceleração da inflação não significa redução do custo de vida. Ela apenas indica que os preços continuam subindo, embora em menor intensidade. Isso posto, a inflação continua sendo um calcanhar de Aquiles do governo Lula.




