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Alan Ghani

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Preços

Não é “inflação de alimentos” – é inflação, e o governo é culpado

Dizer que a inflação ocorre apenas nos alimentos é uma artimanha para tirar a culpa do governo na alta dos preços nos demais setores. (Foto: André Borges/EFE)

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De acordo com a definição usual dos livros de economia, inflação é o aumento generalizado e persistente dos preços, ocasionado pela expansão monetária. Para identificar um processo inflacionário, duas condições têm de ser atendidas simultaneamente: a alta de preços deve ser disseminada em vários bens e serviços e ocorrer de maneira contínua.

À luz dessa definição, não faz muito sentido falar em “inflação de alimentos”, pois o processo inflacionário deve ser caracterizado por elevações de preços generalizadas e persistentes. O último IPCA-15 não deixa dúvidas de que a alta de preços não ocorre apenas nos alimentos, mas é disseminada e contínua para vários bens e serviços adquiridos pelos consumidores.

No mês de fevereiro, o índice subiu 1,23%, puxado por energia elétrica, mensalidade escolar, combustíveis e alimentos. No acumulado em 12 meses, dos nove grupos do IPCA-15, quatro operam com inflação acima da meta de 4,5%. São eles: 

  • Alimentação e Bebidas (7,12%);
  • Educação (6,36%);
  • Saúde e Cuidados Pessoais (5,90%);
  • Transportes (4,84%). 

Despesas Pessoais têm alta no limite superior da meta (4,5%), enquanto os demais grupos apresentam variação abaixo da meta: 

  • Habitação (3,73%);
  • Vestuário (2,82%);
  • Comunicação (1,42%);
  • Artigos de Residência (1,22%).

Com mais de metade dos grupos apresentando variação igual ou superior ao limite da meta de 4,5%, não resta dúvida de que a inflação ocorre de maneira disseminada, com elevações de preços nos alimentos (café, carne, ovo), mensalidades escolares, planos de saúde, medicamentos, combustíveis, entre outros.

Outra forma de apurar se o índice de preço é puxado por altas concentradas em apenas alguns itens, ou ocorre de maneira difusa, é analisar os núcleos da inflação. 

Os núcleos são caracterizados por cálculos, nos quais são excluídos itens do índice cheio, a fim de medir a inflação tirando o efeito dos choques extraordinários (outliers). É uma forma de limpar o indicador de efeitos pontuais para verificar a existência ou não do processo inflacionário.

Um núcleo bastante importante é o de médias aparadas com suavização, no qual se exclui 20% das maiores e menores variações do índice. Com a exclusão, é possível identificar a inflação que sobrou no centro do índice (“core inflation”). De acordo com essa métrica, que apara os outliers, a inflação do IPCA-15 acumulada alta 4,71% nos últimos 12 meses (acima da meta).

No mesmo período, se considerarmos apenas a inflação de serviços (médico, educação, transporte, restaurante, etc.) a alta foi de 4,98%. Se desse cálculo, excluirmos os itens mais voláteis (critério de serviços subjacentes), a inflação chega a 5,93%.

Por fim, o índice de difusão, que mede a porcentagem de itens com variação acima de zero, mostra que 65,1% dos componentes do IPCA-15 apresentaram alta de preços, evidenciando a disseminação da inflação para vários bens e serviços do varejo.

Analisando o comportamento dos grupos do IPCA-15, bem como as medidas de núcleos, chega-se à conclusão da existência de um processo inflacionário no país, disseminado principalmente pelas altas de preços dos alimentos e dos serviços. Inclusive, o próprio Banco Central, na última Ata do Copom, reconheceu esses segmentos como os principais vilões da inflação do Brasil.

Nem precisaria escrever este artigo para provar, com números, a existência de um processo inflacionário no país, que vai muito além da alta de preços dos alimentos. Basta realizar compras do dia a dia para verificar a perda do poder de compra do brasileiro.

Dizer que a inflação ocorre apenas nos alimentos é uma artimanha para tirar a responsabilidade do presidente na alta dos preços em demais setores

Esta “estratégia” passa a impressão de que os produtos sobem apenas por conta de problemas climáticos e elevação das commodities no mercado internacional, variáveis não controladas pelo governo. 

Entretanto, sabe-se que a alta dos preços tem muito a ver com o elevado gasto público. A piora fiscal valorizou o dólar, encarecendo a produção de alimentos e de outros produtos.

Além disso, o elevado gasto público pressiona a demanda acima da capacidade de produção da economia brasileira. Com a elevação do PIB baseada no impulso fiscal é claro que o crescimento da economia não se dá de maneira sustentável, ou seja, o país cresce pontualmente com mais inflação. 

Em termos políticos, o populismo não tem dado muito certo. Apesar do crescimento do PIB superior a 3%, o brasileiro percebeu que o governo é o grande responsável pela inflação. As pesquisas de popularidade do presidente provam isso.

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Conteúdo editado por: Aline Menezes

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