
Ouça este conteúdo
Trump decidiu aplicar o princípio da reciprocidade e elevar tarifas protecionistas, caso outros países pratiquem taxas superiores ao dos EUA. Não se sabe ao certo qual é o objetivo de Trump com a guerra comercial.
Pode ser que Trump queira reindustrializar os EUA, fortalecer o dólar, proteger alguns setores ou até mesmo utilizar as tarifas como arma para conseguir benefício em outras áreas, como, por exemplo, ter o comprometimento do México em frear a imigração ilegal.
Se não sabemos ao certo qual é objetivo de Trump, não se pode falar o mesmo sobre as consequências da elevação tarifária. Provavelmente, haverá perda da atividade econômica e mais inflação nos EUA e no mundo.
Pelo menos essa é a aposta das principais corretoras e instituições de investimentos americanos. De acordo com alguns bancos, há 50% de probabilidade de os EUA entrarem em estagflação – ou seja, inflação combinada com ausência, ou queda, de crescimento econômico.
Um grande ponto de dúvida é como os demais países vão reagir às medidas de Trump. As sinalizações até agora são de retaliação por parte da China, União Europeia, Brasil, México e Índia.
Se esse cenário se concretizar, significa um mundo menos globalizado, mais fragmentado, com desafios em termos econômicos e financeiros. Num cenário menos benigno comercialmente, é fundamental que a economia de cada país esteja bem fortalecida internamente.
De acordo com um artigo do Wall Street Journal (WSJ), o Brasil poderia até tirar proveito desta situação, aumentando o comércio com a China. É verdade.
Entretanto, para isso ocorrer, seria necessário que a economia brasileira estivesse fortalecida internamente para conseguir atrair investimentos de outros países ou ter capacidade de ofertar mais produtos para a China e União Europeia. Infelizmente, estamos longe dessa situação.
As incertezas fiscais, combinadas com a falta de segurança jurídica, impunidade e corrupção, impedem uma atração significativa de investimentos de outros países para o Brasil
Já o Estado inchado e ineficiente, com mais de 90% de despesas obrigatórias contratadas, deixa pouco espaço para investimentos capazes de aumentar a capacidade de produção do país, como produtividade da mão de obra, tecnologia e infraestrutura.
Em boa parte, nossa produtividade é baixa porque faltam investimentos em educação de base e qualificação profissional.
O governo desperdiça bilhões com cursos e pesquisas em Universidades Federais com poucos ganhos para a sociedade. O resultado é a formação de profissionais de baixa produtividade e com pouca capacidade de inovação para desenvolver processos mais eficientes ou criar tecnologias.
Já a falta de investimento em infraestrutura está ligada a um Estado gigantesco que consome boa parte da poupança nacional. Com elevados gastos correntes, sobram pouco recursos para os investimentos em portos, aeroportos, ferrovias, estradas, redes elétricas, etc.
Além disso, como o Estado se financia pelo aumento do endividamento, oferecendo taxas de juros muito atrativas, o capital do investidor migra para compra de títulos públicos em vez de ir ser canalizado para investimentos no mercado de capitais (ações e debêntures), que aumentariam a capacidade de produção das empresas.
Com essa realidade, caracterizada pelo descontrole fiscal, insegurança jurídica, corrupção, má gestão de recursos públicos, é mais provável que soframos as consequências da guerra comercial, a tirarmos proveito dela, ainda mais com as políticas econômicas do atual governo.
VEJA TAMBÉM:
Conteúdo editado por: Aline Menezes




