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Não chama a atenção a economia brasileira crescer 3,4%, a taxa de desemprego estar em 6,5%, e a população insatisfeita com o governo? Essa aparente contradição é explicada pelas consequências do crescimento não sustentável da economia brasileira.
Pela ótica da oferta, a maior variação do PIB em 2024 foi puxada pelo setor de serviços e indústria, a despeito da queda da agropecuária. Pelo critério de demanda, o crescimento decorreu do consumo das famílias, investimento e gastos do governo, apesar da variação negativa das exportações líquidas.
Inflação
Numa primeira leitura, os números parecem positivos, afinal, houve crescimento da indústria e do investimento. Porém, com uma análise mais atenta, percebe-se que o crescimento da economia brasileira tem sido artificial e anabolizado, puxado por uma série de estímulos do governo, como aumento das políticas de transferência de renda, subsídios para as indústrias, liberação de recursos na economia (FGTS) e flexibilização do crédito por meio de bancos estatais, com exceção do Banco Central.
Todas essas medidas têm o impacto inevitável de estimular a demanda agregada do país. Se o estímulo na demanda estiver em compasso com a oferta agregada país (infraestrutura e produtividade dos fatores de produção), não haverá pressão nos preços, e ocorrerá um crescimento sustentável.
Entretanto, se a demanda crescer acima da capacidade de produção do país, os preços sobem, gerando um processo inflacionário, trazendo consequências negativas para a população, como a queda do poder de compra. Num segundo momento, a inflação também prejudica o crescimento econômico, na medida em que corrói o poder de compra, e diminui o consumo das pessoas.
Apesar do efeito inflacionário, os governos do PT têm apostado nessa fórmula de crescimento, baseada em teorias desenvolvimentistas e keynesianas.
Basicamente, acham que o governo deve estimular a economia para aumentar a renda e o emprego. Como acreditam na rigidez de preços no curto prazo, não levam em conta os efeitos perversos da inflação, ao transformarem o Estado como o motor indutor do crescimento econômico.
A teoria liberal e a experiência brasileira
A corrente liberal clássica mostra que, numa economia operada no limite da sua capacidade ociosa, qualquer estímulo do governo levará a um crescimento econômico acompanhado de mais inflação.
Como o aumento do PIB é acompanhado pela elevação geral dos níveis de preços, não ocorrerá um crescimento sustentável
O crescimento econômico, acompanhado de mais inflação, não é considerado sustentável por duas razões. A primeira é que nada adianta o país crescer se a maior variação do PIB vier com mais inflação, ou seja, com a corrosão do poder de compra da população. É verdade que o cálculo do crescimento do PIB é feito em termos reais, a preços constantes, mas não necessariamente o deflator do PIB será igual à inflação do consumidor.
Em outras palavras, mesmo que no cálculo de variação do PIB tente-se tirar o efeito inflacionário, ocorre uma discrepância entre a estatística e o mundo real dos supermercados.
O segundo motivo da não sustentabilidade do crescimento é que a própria inflação gerada pelo elevado gasto público prejudicará a continuidade da variação positiva do PIB ao longo do tempo. A elevação dos preços tem efeitos sobre o consumo das famílias e os investimentos das empresas.
Para o consumidor, inflação significa corrosão do seu poder de compra. O salário do trabalhador não consegue adquirir a mesma quantidade de bens e serviços adquiridos outrora. Para a empresa, inflação significa aumento de custos e imprevisibilidade de investimentos. Tanto a queda do consumo, como a retração dos investimentos, levam a um menor crescimento da economia.
Em resumo, a inflação, num primeiro momento, é sintoma de um crescimento artificial do PIB, gerado a partir de estímulos fiscais e de crédito. Num segundo momento, se transforma na causa da menor variação do PIB nos anos seguintes – processo conhecido na expressão popular como “voo de galinha”.
A experiência brasileira mostra que a teoria liberal está certa. Apesar de todo nosso potencial, a economia brasileira cresce por espasmos, estimulada pelo elevado gasto público, incremento das políticas de transferência de renda e expansão do crédito, acima da capacidade produtiva da economia. A consequência inevitável dessas políticas expansionistas é mais inflação e um crescimento que não se sustenta ao longo do tempo.
No Brasil, em nossa história recente, a inflação é relativamente alta e o crescimento é baixo para padrões de economias emergentes. Temos território e recursos naturais abundantes para voarmos como águia, mas no final das contas, voamos como galinha.
Conteúdo editado por: Aline Menezes




