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Finalmente, entraram em vigor as tarifas protecionistas de Donald Trump para mais de 90 países. Muito se especula sobre quais são os reais motivos para a guerra comercial iniciada pelo presidente americano.
As principais hipóteses apontadas pelos analistas são: redução do déficit em transações correntes dos EUA, receita para reduzir a dívida americana; desvalorização do dólar, mantendo-o como reserva de valor; e reindustrialização da América e acabar com a hegemonia econômica da China.
Como cada hipótese daria um artigo, vou analisar a última: reduzir o poder econômico da China – até porque o gigante asiático engloba questões relacionadas à substituição do dólar e à competição industrial.
Até meados dos anos 2000, a China nunca foi uma preocupação para os EUA. Pelo contrário, diversas indústrias americanas, como a Apple, migraram suas fábricas para a Ásia para reduzir os custos de produção e obter ganhos de escala no comércio internacional, isto é, vender em grande quantidade a preços acessíveis para os consumidores.
Para os EUA, a sinergia é ótima. Com custos de produção bem menores do que nos EUA, principalmente pela mão de obra barata, a China tornou acessíveis produtos aos consumidores americanos que seriam inviáveis financeiramente, caso a produção de vestuário e eletrônicos, por exemplo, ocorresse internamente.
Além disso, a China ajuda no financiamento da dívida norte-americana. Com as receitas em dólar das exportações, o gigante asiático compra títulos da dívida dos EUA. Esse dinheiro é utilizado pelo governo dos EUA para conceder subsídios fiscais às empresas americanas, financiar a seguridade social da população e gastos militares mundo afora.
Dessa forma, o mundo poupa pelos EUA, e os americanos contam com uma oferta de crédito gigantesca que pode ser utilizada para diversas finalidades: econômicas, sociais e militares.
Se esse modelo foi criado e incentivado pelos próprios americanos, com benefícios para os consumidores e para o governo, por que razão Trump estaria tão preocupado com a China?
Uma hipótese levantada pelo famoso economista Jeffrey Sachs é que o governo americano não admite ser o número 2 nem no campo econômico e nem no militar. Enquanto a China não era uma superpotência econômica, não havia motivos para os EUA se preocuparem.
Entretanto, o gigante asiático cresceu, e hoje, corrigindo pela PPP (paridade do poder de compra), a China já é maior economia do mundo. NA visão de Sachs, a vice-liderança traria grandes incômodos para Trump e principalmente para os neocons.
A segunda hipótese é sobre a tal das terras raras, que são 17 minerais essenciais para a produção de diversas indústrias, como a bélica e a de automóveis. E quem tem as maiores reservas de terras raras do mundo e domina a produção desses minerais?


A China não só tem as maiores reservas como é a primeira colocada disparada na produção das terras raras.
Com o domínio de quase 60% do mercado global, na prática, a indústria norte-americana está nas mãos da China
Só para ter uma ideia, dois terços da indústria bélica norte-americana dependem desses minerais. Talvez seja por isso que Trump, de repente, tenha falado em anexar a Groenlândia, local com muitas terras raras.
Talvez seja por isso também que o Brasil, e agora a Índia, foram duramente taxados, justamente por ocuparem a segunda e terceira colocação em reservas de terras raras do mundo, além de toda a questão geopolítica envolvendo os Brics.
Aliás, não é estranho Mianmar ter sido fortemente taxado? Talvez, não, se levarmos em conta que esse país tem se destacado na produção global de terras raras.
É possível que Donald Trump utilize as tarifas comerciais contra países com grandes reservas ou produção de terras raras a fim de ter um poder de barganha e garantir o acesso dos EUA a esses minerais, diminuindo a dependência da China.
Cada vez fica mais claro que as tarifas protecionistas de Trump vão muito além de questões econômicas, mas são utilizadas como uma arma para fins estratégicos e geopolíticos.
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