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É a quarta queda de um primeiro-ministro na França durante o governo de Emmanuel Macron. Desta vez, foi o centrista François Bayrou, que deixou o cargo após a perda do voto de confiança no Parlamento, em meio à escalada da crise fiscal francesa.
O que ocorre na França é uma lição para o mundo. Enquanto há dinheiro, não há crise no meio político nem na sociedade civil. Afinal, políticos de diversos espectros ideológicos ficam satisfeitos com os cofres cheios. Claro, o dinheiro aumenta a capacidade de reeleição, garantindo vida longa na política. Já na sociedade civil, o dinheiro se traduz em benefícios sociais que vão desde programas de complementação de renda até educação gratuita.
O problema é que nada disso é de graça. Qualquer estudante de primeiro ano de economia sabe que a riqueza de uma sociedade vem da produção de bens e serviços, e não do dinheiro em si. O dinheiro é apenas uma forma de as pessoas trocarem bens e serviços, não tendo valor intrínseco na ausência de produção.
Por exemplo, se alguém for com um milhão de dólares para uma ilha deserta, essa quantia não terá o menor valor. De outro modo: nessa mesma ilha, você preferiria uma vara de pescar a um milhão de dólares. Infelizmente, essa lógica é ignorada pelas esquerdas e por boa parte da classe política, que acredita que basta o Estado gastar mais para resolver os problemas sociais.
O problema é que nenhum Estado possui recursos financeiros infinitos. O dinheiro do governo vem de impostos e de empréstimos contraídos com a sociedade. Como a produção de bens e serviços é limitada, o orçamento do governo também será restrito.
No caso da França, a carga tributária gira em torno de 45% do PIB. Isso significa que, dos 3,16 trilhões de dólares produzidos em 2024 por pessoas e empresas, o Estado fica com US$ 1,4 trilhão. Sem surpresa, esse dinheiro não é suficiente para cobrir tantos subsídios, privilégios e benefícios sociais, obrigando o governo francês a se endividar.
Hoje, a França apresenta um déficit de 5,8% do PIB e uma dívida de 114% do total de bens e serviços finais produzidos anualmente pela economia. Como o país, a cada ano, gasta mais do que arrecada, a dívida pública continua crescendo em relação ao PIB. O problema é que a capacidade de endividamento também é limitada.
Chegará um momento em que, mesmo tomando recursos emprestados, o dinheiro não será suficiente para pagar os credores da dívida
Num eventual calote, as consequências são conhecidas: famílias perdem patrimônio, já que muitos poupam comprando títulos do governo; a confiança no país cai; os investimentos diminuem, gerando desemprego e perda de renda, como ocorreu com a Grécia no final de 2009.
Para evitar essa situação, não há outra saída senão cortar gastos. Entretanto, a redução de despesas implica um ônus imediato para todos: políticos perdem privilégios, empresas ficam com menos subsídios e há diminuição de vários benefícios sociais.
É justamente aí que mora o problema. Todo mundo sabe (ou deveria saber) o que deve ser feito, mas ninguém quer assumir o ônus no presente.
A situação da França, e de muitos países europeus, não é fácil. Durante anos, venderam à população a ilusão do welfare state, transmitindo a falsa ideia de que saúde, educação e políticas assistencialistas eram gratuitas. Para piorar, muitos imigrantes ilegais sobrecarregaram o sistema de seguridade social francês, usufruindo desses benefícios.
Como, em economia, “não existe almoço grátis”, a conta chegou. O sonho parisiense do welfare state está acabando. A França de hoje vive o pesadelo dos economistas no mundo real: os recursos são escassos, e as necessidades, ilimitadas.




