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Desde a sua posse, Lula não poupou pressões e críticas ao ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para reduzir a Selic, como se a decisão fosse exclusivamente dele, e não também dos outros oito diretores do Comitê de Política Monetária (Copom).
Durante a gestão de Campos Neto, com a maioria do Copom indicada por Bolsonaro, a taxa Selic iniciou-se em 13,75% a.a. (01/02/2023) e terminou em 12,25% a.a. (11/12/2024).
Apesar do patamar restritivo da política monetária, a taxa de juros não atrapalhou significativamente o crescimento econômico do Brasil. Tanto é verdade que, em 2023 e 2024, o PIB cresceu, respectivamente, 3,2% e 3,4%, bem acima das projeções de mercado de 0,80% e 1,50% no início de cada ano.
Além de não trazer grandes prejuízos ao crescimento econômico, a elevação dos juros foi fundamental para conter uma escalada ainda maior da inflação.
Entretanto, essa constatação foi ignorada por Lula e pelos petistas, que não perdiam a oportunidade de responsabilizar Campos Neto pelo crescimento da economia brasileira aquém do desejado. Na visão desse grupo, o PIB poderia crescer muito mais de 3% se não fosse a política monetária restritiva do ex-presidente do Banco Central.
Com a saída de Campos Neto e as novas indicações de Lula para o Copom, os petistas se animaram com a possibilidade de a nova diretoria do Banco Central ceder às pressões populistas do presidente para reduzir a taxa básica de juros e, assim, impactar positivamente a atividade econômica, mesmo trazendo riscos inflacionários.
O que eles não contavam é que, felizmente, a nova diretoria continuou o trabalho da gestão Campos Neto, mantendo a vigilância no combate à inflação e sem se curvar às influências políticas. Desde a entrada de Gabriel Galípolo, a Selic passou de 12,25% a.a. para 15,00% a.a.
É verdade que duas altas de 1 p.p. já estavam “contratadas” pela gestão anterior, conforme destacado na última Ata de dezembro de 2024. Entretanto, a elevação de 14,25% a.a. para 15,00% a.a. decorreu exclusivamente da gestão Galípolo. Inclusive, a alta de 14,75% a.a. para 15,00% a.a. surpreendeu positivamente o mercado financeiro.
A nova diretoria do Banco Central não chama a atenção apenas pela elevação da Selic, contrariando as expectativas iniciais dos petistas, mas também pela manutenção de um tom crítico em relação à política fiscal do governo, conforme evidenciado pelo parágrafo 8 da última Ata:
“A política fiscal tem um impacto de curto prazo, majoritariamente por meio de estímulo à demanda agregada, e uma dimensão mais estrutural, que tem potencial de afetar a percepção sobre a sustentabilidade da dívida e impactar o prêmio a termo da curva de juros. Uma política fiscal que atue de forma contracíclica e contribua para a redução do prêmio de risco favorece a convergência da inflação à meta. O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade.”
Sem “economês”, o Banco Central disse, em última análise, que o governo federal é responsável pelos juros altos no país, pois a forte expansão do gasto público pressiona a demanda acima da capacidade de oferta (produção), gerando inflação
Além disso, o alto endividamento do governo eleva o prêmio de risco da dívida estatal, contribuindo para o aumento da Selic e das taxas dos títulos do Tesouro.
Por fim, o Banco Central afirmou que a Selic deverá permanecer alta “por período bastante prolongado” e que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”.
É curioso notar que, agora, a economia cresce menos (previsão de 2%), os juros estão mais altos, o Banco Central continua crítico em relação ao governo, mas as deselegantes críticas e pressões de Lula sobre o presidente do Banco Central sumiram depois que Galípolo assumiu. Por que será?




