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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

Violência

Como a insegurança tomou conta do Brasil

Polícia faz operação em favela dominada pelo crime organizado no Rio de Janeiro.
Polícia faz operação em favela dominada pelo crime organizado no Rio de Janeiro. (Foto: EFE/Marcelo Sayao)

A segurança pública é, talvez, a nossa principal preocupação. Estamos inseguros não apenas nas grandes cidades, mas também no interior do país, até nas cidades menores. Eu vi a bandidagem chegar ao Rio de Janeiro, e era fácil prever que, se não houvesse uma reação popular contra os bandidos, o crime tomaria conta, como acabou tomando. A bandidagem domina o Rio de Janeiro, já tem seu território próprio, e está dominando áreas de outras grandes cidades. Em São Paulo, há lugares onde é difícil a entrada da polícia. Capitais como Porto Alegre e Salvador também têm regiões perigosas.

Mas, como eu dizia, isso só chegou a esse ponto porque a população do Rio de Janeiro permitiu. E como é possível a população permitir, como é possível não perceber que uma grande parte da mídia está contra a polícia e a favor dos bandidos, e por isso é responsável por nossa insegurança, porque não apoia os agentes da lei? Jair Bolsonaro chegou ao governo apoiando claramente a polícia. O crime despencou só com a percepção de que a polícia tinha apoio. Mas agora a polícia se sente constrangida por decisões do Supremo em relação a áreas do Rio de Janeiro, ou pela audiência de custódia, que solta bandidos.

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Juiz desfaz trabalho gigantesco que prendeu megatraficante colombiano 

No Amazonas, a polícia, com a ajuda do serviço de informações, levou 25 horas de barco para chegar ao esconderijo de um traficante colombiano, e o prendeu. Juan Carlos Urriola estava com o equivalente a R$ 20 milhões em drogas. Na audiência de custódia, Urriola foi solto porque o juiz considerou que ele não tinha antecedentes criminais. Mas é claro que não tinha! Ele veio da Colômbia; provavelmente era um narcotraficante com muitos antecedentes criminais por lá, e resolveu vir ao Brasil para se livrar da Justiça colombiana. E este é um bom negócio, porque a Amazônia está cheia de traficantes e de drogas, tanto que o narcotráfico já é um dos grandes compradores de ouro na região, para poder transacionar já com o dinheiro lavado.

O juiz soltou Urriola e é claro que nunca mais esse colombiano será capturado. A Corregedoria da Justiça estadual afastou o juiz previamente, para saber por que ele soltou o traficante. A justificativa foi a de que ele não tinha antecedentes criminais; será que é ingenuidade isso?

Brasileiro que acha graça em descumprir regras fica tolerante com a bandidagem

Outro problema é a postura de brasileiros que acham bonito enganar a lei. É aquela cultura do malandro carioca, tão elogiado na música; mas aquele era um tempo romântico do malandro, que fazia seresta, se envolvia em coisa pequena. Mas no Rio de Janeiro começou a história do jogo do bicho, que é ilegal, contravenção, porque é jogo de azar, cujo resultado depende da sorte. Está escrito na Lei de Contravenções Penais. Então, vocês sabem muito bem que não é apenas o bicheiro que comete contravenção. Mas, enfim, as pessoas acostumaram e vieram outras coisas, como essa ligação com o carnaval. E o povo foi naturalizando, achando que era normal.

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Falando com um amigo paulistano, comentei com ele sobre o casal brasileiro que fez bagunça no aeroporto de Miami e foi preso. O amigo respondeu “vai ver que estão acostumados a fazer bagunça em Congonhas ou Guarulhos, e não acontece nada”. A polícia norte-americana disse que jogaram um copo de café no rosto de um funcionário da American Airlines, que começaram a dar pontapé na porta.

O casal tinha ido de Brasília para Miami, e ia de Miami para Cancún, mas acabou não embarcando. Eles tinham poltronas na fileira da porta de emergência e perguntaram se eles entendiam fluentemente o inglês. O homem respondeu que não era fluente, e a companhia aérea disse que, então, eles não poderiam se sentar lá. Quem viaja sabe: os funcionários sempre perguntam aos passageiros se eles têm força muscular para abrir a porta, se têm mobilidade para se afastar imediatamente, se estão entendendo as instruções, do contrário não podem ficar na porta de emergência.

O casal se irritou porque, como só havia um outro lugar no avião, a empresa ofereceu um outro voo para o casal ir separado. Começou o bate-boca e o homem acabou imobilizado pela polícia, jogado no chão. Foram levados para a delegacia, e parece que pagaram fiança, foram soltos e devem voltar para o Brasil.

Mas, voltando a esse costume de sair da lei, eu acompanhei de perto, no Japão, a quantidade de brasileiros presos no Japão, mesmo descendentes de japoneses, que vão trabalhar lá, mas se acostumaram com a regra brasileira. Ou então, ainda que os nisseis aqui do Brasil sejam muito comportados, não é suficiente para o Japão. Assim como existe brasileiro preso em Roma, em Portugal, na França, porque não tem o costume de cumprir a lei. É questão de hábitos de civilidade, de urbanidade. Mas essa cultura também contribui para acharem normal a bandidagem por aqui.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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