O PSDB teve sua semana da paixão. Uma via crucis que foi de domingo à aleluia de sábado, quando João Doria emergiu das urnas digitais com maioria de 54% dos votos válidos, que significa 1,25% dos filiados. Eduardo Leite voltou para o Rio Grande recebendo aceno de Gilberto Kassab, do PSD a que se filiara Rodrigo Pacheco. Arthur Virgílio voltou a Manaus praguejando contra Aécio e os que bolsonarizam o PSDB. Será que valeu a pena ter feito essas desgastantes prévias? Para Doria, valeu evitar decisões da cúpula do partido. Mas os tucanos foram derrotados por si mesmos, concorrendo sozinhos, numa disputa que desgastou o partido perante o eleitor e entre os tucanos de maior. E na mídia em geral, anunciou-se, como de costume, uma solução de terceira via, - essa dificilmente irá aninhar outro terceirista forte, que aceite ser vice de Doria.
A mosca azul do poder inocula suas vítimas com anticorpos para a humildade e a razão. Os infectados começam a levitar e perdem noção da realidade. O chavão da terceira via faz com que o incauto se olhe no espelho e constate que está diante da alternativa que superará a polarização esquerda-direita, aquele com quem o eleitorado sonha. Os áulicos mais próximos aplaudem - e eles traduzem como o aplauso da população. Esquece de ir até a esquina e perguntar ao primeiro passante: Você me conhece? Vai votar em mim? E vai dançando nas ilusões de partidos que estão com um olho no candidato e outro nos fundos com que os pagadores de impostos os sustentam.
Enquanto o PSDB subia o calvário com sua cruz, no DEM, Mandetta desistia dessas ideias. Percebeu ter sido um fenômeno passageiro, promovido pelo coronavírus e pelos que promovem os dissidentes. Ao mesmo tempo, o MDB apressava-se em prometer para este dezembro, o anúncio da candidatura da senadora Simone Tebet, lançada no palanque da CPI, supostamente para evitar no partido o que acontece no PSDB, a bolsonarização. Para a direção do MDB, melhor mostrar logo candidato antes que seja tarde demais. Ciro, que já havia contratado marqueteiro, tirou o pé do acelerador, depois que viu votos com o governo no próprio PDT. Moro continua sua alegre descoberta da política fora dos tribunais, junto com general da reserva cheio de esperança. Ambos com o charme da dissidência. Fora da ilha dos políticos e jornalistas, o povo continua dividido entre Bolsonaro e Lula. Sabe que vai ter que decidir o que quer e o que não quer. Nunca ouviu falar sobre alguma proposta de terceira via, seja lá o que for isso.
Certa vez o esperto Paulo Maluf fingiu pedir conselhos ao presidente Figueiredo. O general pôs no bolso do político um papelucho com apenas uma palavra escrita: humildade. Em qualquer atividade, humildade é a mais inteligente e mais produtiva das virtudes. Não é TER humildade para mostrar. É SER humilde. Quando a mosca azul pica, alguns levitam e os humildes ficam com os pés no chão. Não se enganarão nem serão enganados. Aí, não haverá sucesso que os derrube.
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