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Lula e Janja aproveitaram a manhã de domingo nos jardins do éden do Alvorada para debochar do presidente da maior democracia do mundo, maior economia do mundo, mais força bélica do mundo, Donald Trump. Lula, de abrigo, arrancou uma jaboticaba do tronco e estendeu-a como se estivesse oferecendo a Trump, com um sorriso troça: “Eu vou levar jabuticaba pra você, Trump. E você vai perceber que o cara que come jabuticaba pela manhã, não precisa de briga tarifária, precisa de muita união e de muita relação diplomática”. Janja postou a cena no seu Instagram e acrescentou: "Duas coisas genuinamente brasileiras: jabuticaba e presidente Lula!”
Pode ser que o inconsciente de Lula tenha revelado, nessa catarse jabuticabeira, que ele próprio não precisa de briga tarifária, precisa de muita união e de muita relação diplomática. Mas há controvérsias. Um bispo católico me disse que Lula poderia estar querendo esse resultado, para ter a mesma desculpa da ditadura cubana para o fracasso econômico, em que, por décadas, “a culpa é do bloqueio americano”- quando os anticastristas poderiam demonstrar que a culpa é do fim da ajuda da União Soviética. Lula poderia dizer agora que a culpa é da tarifa de importação do Trump - talvez isso alivie um pouco Bolsonaro, que vinha sendo o culpado do fim dos superávits do governo do capitão. Tem sentido a hipótese, pois Lula vem provocando os Estados Unidos desde que assumiu, ainda no governo Biden, a começar pelas belonaves iranianas no Rio. Quis tirar o dólar no BRICS e até desafiou Trump ao dizer que não tem medo de cara feia, frase que a gente usava no recreio do grupo escolar.
Não deve ser fácil para diplomatas treinados em pragmatismo responsável, terem que manejar uma política externa ideológica e anti-ocidente
E a última foi essa da jabuticaba, um recado para o chefe de um outro Estado, sem passar pelo Itamaraty, que deve ter tido arrepios. E Lula dizendo que precisa de muita relação diplomática no mesmo dia em que o presidente de outro poder, o ministro Barroso, tornou pública uma carta em que começa alegando que o Itamaraty é que deveria ter reagido à carta de Trump, e a justificar a razão de o Judiciário agora se manifestar. Não deve ser fácil para diplomatas treinados em pragmatismo responsável, terem que manejar uma política externa ideológica e anti-ocidente, especialmente contra a maior potência do planeta.
Lula precisa, mesmo, de muita união. Sua popularidade cai até nos estados onde o Bolsa Família supera carteiras de trabalho assinadas. Trump o surpreende com tarifa de 50% sobre bens brasileiros exportados aos Estados Unidos, bem no meio de uma campanha que pretendia mostrar que imposto é bom, e que se deve aumentar o IOF, que incide sobre quem toma dinheiro emprestado ou tem cartão ou débito no banco. A propaganda tenta jogar pobres contra ricos, mas só quem vai ser atingido pela tarifa é quem é grande o suficiente para exportar para o mercado americano. Na verdade, o que Trump impõe a partir de agosto é uma sanção, incomodado que está pelo que chama de “caça às bruxas” do Supremo. E a forma de Lula resolver é começar algum dia comendo a jabuticaba da anistia com seus deputados e senadores no Congresso Nacional.




