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Entrevista com Maria Bethânia: As doçuras e agruras de Chico

O show que Maria Bethânia apresenta neste domingo (20), no Teatro Guaíra (Pça. Santos Andrade, s/n.º, com ingressos já praticamente esgotados), é o primeiro totalmente dedicado à obra de Chico Buarque na carreira da cantora. O projeto faz parte da série do Circuito Cultural Banco do Brasil, idealizada e dirigida por Monique Gardenberg com assistência de Toni Platão na curadoria, e que tem ainda Lulu Santos cantando Roberto e Erasmo Carlos e Sandy interpretando Michael Jackson. Os shows percorrem cinco cidades brasileiras.

No entanto, a relação de Bethânia com o trabalho de Chico Buarque vem de muito antes. O compositor, como afirma a cantora em entrevista por e-mail à Gazeta do Povo, é um dos alicerces de seu repertório. Uma aproximação ainda mais intensa com a obra do compositor, aliás, já estava sendo feita por Bethânia em função de um projeto futuro – “no mínimo cinco discos para cantar Chico, no mínimo um espetáculo com cinco atos”, conforme explica a cantora na entrevista. A conferir.

Bethânia fala (em respostas generosas) também sobre algumas das músicas mais importantes de Chico em sua carreira e sobre sua admiração pessoal pelo compositor. Já a respeito de seu novo disco, que deve sair em 2012 – e que tem Chico, como sempre, mas é um projeto totalmente diferente – a cantora preferiu deixar a conversa para depois. Leia mais abaixo.

Divulgação
Maria Bethânia e Chico Buarque: o compositor é um dos alicerces do repertório da cantora.

Não é novidade ouvi-la interpretando Chico Buarque. Mas, até então, tratava-se de algumas canções, como a antológica interpretação de “Rosa dos Ventos”. É possível almejar interpretações tão marcantes em um repertório inteiro?
“Rosa dos Ventos” é uma música tão forte na minha vida quanto “Carcará”. Aliás, o Chico e Caetano, após o “Carcará” – que é o [espetáculo] Opinião, de João do Vale, meu lançamento como cantora profissional – marcaram minha história. Eu passei, como Waly Salomão dizia, da FM para a AM através do Chico Buarque de Hollanda cantando “Olhos nos Olhos”, e é verdade.
“Rosa dos Ventos” foi uma música que deu outra mudada no meu caminho de escolha de repertório. É uma música épica, tão forte como foi o “Carcará”. Tanto que ela está no repertório deste show. “Vida, Vida” é outra canção que tem a mesma intenção e força de interpretação e que também está.

Quais outras canções escolheu e como procurou trabalha-las?
O Chico romântico é certamente um alicerce que eu tenho no meu repertório; então é muito fácil trabalhar. É muito gostoso, muito saboroso, muito prático, vem naturalmente. “Terezinha”, “Tatuagem”, “Olhos no Olhos”, “Fora de Hora”… Está tudo dentro do meu espírito. Mesmo porque fizemos um show juntos durante muito tempo. A gente cantava “Com Açúcar e com Afeto”, “Cotidiano” e tal.
Fora isto, tem a minha admiração pelo Chico, pela obra dele, por ele como músico, como compositor, como homem e como cidadão. É uma honra pra mim ter nascido no mesmo país que ele.
O Chico, quando comenta a nossa relação com a vida, com a dor, com a perda, com a tristeza, com a dificuldade, com a burrice e com a estupidez, parece que ele escreve o que eu penso, da maneira que eu penso. Não tem uma vírgula fora do lugar. O Chico, para mim, é muito em casa, muito meu, tenho ele de algum modo, de todo modo. Então, o espetáculo que vou fazer a convite da Monique Gardenberg – para apresentar as canções do Chico – é onde nós pretendemos que o Chico apareça, com pelo menos um desenho do Chico inteirinho, em todas as áreas que ele gosta de passear.
Naturalmente, por eu ser uma intérprete, as canções escolhidas por mim têm muito a ver com o meu repertório, mas tem também coisas dele que jamais cantei, que eu conheço e que são atraentes, são apaixonantes. É uma emoção cantar “Vai trabalhar, Vagabundo”, por exemplo. Aliás, é um momento muito bom cantar esta música, é propício, é fácil, não tem esforço, entendeu?. Sai. No show tem as doçuras, tem as durezas, tem as agruras, o Chico completo.

Este show foi uma oportunidade de realizar uma ideia já antiga?
Neste momento, fui convidada para fazer Chico Buarque. Eu tenho um projeto, meu, além do da Monique, mas pra muito mais adiante, porque agora eu vou lançar um disco meu que não tem nada a ver com este projeto. Tem o Chico porque Chico sempre está, mas é outra praia. Mas daqui um tempo eu irei fazer. Estou estudando a obra do Chico mais profundamente porque quero fazer um trabalho grande, um trabalho completamente fora de ordem, ou seja, no mínimo cinco discos para cantar Chico, no mínimo um espetáculo com cinco atos. Em que as pessoas saem, vão embora, podem voltar, podem não querer ver o terceiro, querem ver o quarto ato… (risos). Quero fazer um Chico assim, mas isto eu não sei se chegarei a fazer, nem quando farei. No momento, o que eu estou fazendo é este. E este tem o Chico desenhado inteiro. Menorzinho, mas tem. Este daqui me dá tanto prazer; é uma alegria. É inacreditável – a cada hora que você vai ensaiando uma canção, não acabou de sentir uma emoção, já vem outra música com outra emoção… porque Chico não tem fim! Chico não acaba, ele vai; você acha; onde você procurar tem!

Em que fase está a produção de seu novo disco? Há ideias musicais – de interpretação, arranjo, sonoridade – ou mesmo canções do novo trabalho que poderão ser ouvidas no show do Circuito Cultural?

Sobre o disco novo prefiro não responder agora. Quando fora hora a gente conversa sobre isto. Hoje vamos ficar só neste projeto do Chico.

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