Herança maldita virou um termo recorrente na política rubro-negra. Nos três anos da gestão Malucelli, recorria-se a ele para falar das parcerias nas categorias de base, dos contratos comissionados de publicidade e prestação de serviço, de valores recebidos por antecipação, da mecânica de algumas transferências. Neste inicio da nova era Petraglia, precede comentários sobre o rebaixamento à Série B, o estágio das obras na Arena, gastos com reforços e, em menor grau, as receitas do clube.
Este último tópico, aliás, está no centro da mais nova polêmica entre os dois dirigentes. Ontem, a coluna Painel F.C., da Folha de S. Paulo, trouxe queixas de Petraglia sobre o destino dado aos R$ 20 milhões que o Atlético já recebeu da Rede Globo, referentes ao novo contrato de TV. Seguem as duas notas.
“Zerado. O presidente do Atlético-PR, Mario Celso Petraglia, empossado em dezembro, prevê dificuldades para o clube neste ano. A principal razão alegada é que a diretoria anterior antecipou e muito a receita de TV de 2012 no ano passado.
Pelo ralo. De acordo com Petraglia, seu antecessor adiantou R$ 20 milhões do valor a ser recebido pelo Atlético-PR em 2012.”
Por volta das 22 horas, Malucelli entrou em contato com o blog, para falar dos R$ 20 milhões mencionados por Petraglia – o ex-dirigente diz que fará o mesmo hoje com a Folha. Segue, em resumo, a explicação de MM para o repasse feito pela Globo. Segundo o dirigente, explicação amparada por documentos do clube dos quais ele tem cópia:
– Os R$ 20 milhões não são adiantamento das cotas de 2012, mas sim luvas pela assinatura do contrato (Malucelli cita a cláusula de confidencialidade para manter o valor anual em sigilo, mas a informação amplamente divulgada é de que o Atlético receberá R$ 29 milhões/ ano);
– Estes R$ 20 milhões foram pagos em maio. R$ 1 milhão ficou retido em forma de imposto, outro R$ 1 milhão foi colocado no fluxo de caixa normal do clube, restando R$ 18 milhões, investidos em aplicações financeiras na Caixa e no Itaú. O dinheiro permaneceu lá até dezembro;
– Um dia depois da eleição, Malucelli diz ter usado R$ 2 milhões para quitar o empréstimo tomado na Caixa para a construção do piso inferior da Brasílio Itiberê. Sobram R$ 16 milhões;
– Na mesma época, outros R$ 2 milhões foram somados ao dinheiro recebido do São Paulo, por determinação judicial, pela liberação de Dagoberto para pagar dívida do Atlético com o PSTC. Segundo Malucelli, essa dívida se referia à participação do clube londrinense nas negociações de Dagoberto com o São Paulo, do goleiro Guilherme com o Lokomotiv Moscou e do meia Fernandinho com o Shakhtar (no caso de Fernandinho, não a primeira venda, em 2005, mas dos 20% que o Atlético manteve do jogador por mais um tempo). Assim, ficaram no caixa do clube R$ 14 milhões das luvas pagas pela Globo em maio;
– Esta quantia foi registrada por Malucelli em um termo de transferência, apresentado e assinado pelo diretor financeiro indicado por Petraglia para a atual gestão.
Além da explicação sobre o dinheiro recebido da Globo, Malucelli passou outras informações interessantes sobre receitas que entrariam no caixa rubro-negro entre o fim do ano passado e o início deste ano. São elas: 1) 1,5 milhão de euros da terceira parcela da venda de Neto para a Fiorentina, com vencimento dia 30 de dezembro; 2) R$ 850 mil de um residual que o Corinthians ainda devia da negociação de Cristian, com previsão de pagamento para a segunda quinzena de dezembro; 3) R$ 1,7 milhão de metade do repasse da venda do pague-pra-ver do Brasileiro-2011, previsto para janeiro.
Somando o que sobrou das luvas da TV com estes três pagamentos previstos, dá algo em torno de R$ 20 milhões.
Em uma outra categoria estão, de acordo com o ex-dirigente, residuais das transferências de Galatto para o Málaga, Dinei para o Tenerife e Pedro Oldoni para o Valladollid. O total é de 600 mil euros, mas provavelmente o Atlético terá de recorrer à Fifa para receber.
Outra informação relevante: a folha de pagamento do futebol está abaixo de R$ 1 milhão (natural com a saída dos emprestados e a promoção de vários garotos).
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Claro que ao abrir estes valores Malucelli pretende preservar o seu nome. Com o rebaixamento no Brasileiro, a gestão financeira restou como último bastião da sua administração. E se há informação errada, ele está mais do que certo em procurar corrigi-la.
Para o torcedor, fica uma oportunidade rara de ter acesso a dados da receita do clube que geralmente ficam entre quatro paredes, ou, no máximo, diluídos na numeralha do balanço patrimonial. O que não pode é o Atlético passar mais um ano de sua história com os dirigentes gastando energia em responsabilizar os seus antecessores. Um argumento que (se bem fundamentado) faz sentido por um tempo, mas logo ganha ares de desculpa pronta.



