Hoje há a expressão “gado demais” para se referir ao homem empenhado em se adequar aos padrões femininos. Creio que o homem tentar se adequar a tais padrões é a norma no Ocidente civilizado; no mundo islâmico é que os homens podem arranjar mulher negociando entre si, fazendo tratos entre genro e sogro. Dado que os que dizem “gado demais” não parecem querer comprar esposas nos moldes tradicionais, é preciso averiguar o que eles têm em mente.
Uma possibilidade é terem aderido ao estilo de vida propagandeado pela cultura pop: os homens devem querer ser cheios de dinheiro e disporem de mulher como commodities, sem que haja casamento envolvido. Somos já “informados” de que filho é ruim para o planeta, porque emite carbono etc. Somos também reeducados para achar que empoderamento feminino é mostrar a bunda; que o signo de sucesso de um homem não é ter bons filhos, senão acumular gostosas e ter muito dinheiro. Com este, conseguem-se aquelas. Assim, casamento é um péssimo negócio, já que o número de mulheres é reduzido a um, e, dada a alta probabilidade de divórcio, ainda haverá perdas patrimoniais e gasto com advogado. Havendo filhos, o prejuízo só aumenta, por causa da pensão. No frigir dos ovos, a cultura hipersexualizada é uma cultura profundamente antinatalista, já que abole a estabilidade necessária para criar e educar crianças. A legislação feminista só piora tudo ao transformar, na prática, as condições de mãe e de esposa em serviços remunerados. Isso entra no cálculo.
Nessa linha, o homem poderia deixar de ser “gado demais” caso, em vez de comprar uma esposa, alugasse gostosas e ponto final. Resta saber de onde virá tanto dinheiro… Não à toa, essa mentalidade parece ter vigência entre admiradores do narcotráfico e anarcocapitalistas que acham que o bitcoin vai salvar o mundo – dois grupos que acreditam em dinheiro fácil.
Algumas pitadas de otimismo
Não obstante, uma outra explicação plausível, e até mais abrangente, é que nossa época seja excepcional por causa da diferença de valores entre os sexos. Os valores que estão na moda entre as mulheres – a saber, os do feminismo – simplesmente não são compartilhados pelo variado conjunto dos homens, de modo que se esforçar para agradá-las faria deles bovinos sem pensamento próprio. De fato, é bovino o homem que fica dizendo “Ui, desculpa por ser homem!!” para mendigar coito.
Antes de tudo, aumentemos mais o otimismo. Mulheres conversam menos sobre política e ideologia do que homens. Quem discordar, ouça conversa de velhos barrigudos em boteco e depois ouça a de salão de beleza. Se há uma rodinha masculina de conversa, eles provavelmente estão falando de política, trabalho, futebol e sexo. Já se há uma rodinha feminina de conversa, é quase certo que estejam falando da vida própria ou alheia. Por isso a rodinha feminina para de falar quando um homem abelhudo chega junto: não queremos ser pegas no ato da fofoca, ou então que não ouçam nossos assuntos íntimos. Por outro lado, as rodinhas masculinas permitem incursões femininas; se uma mulher se aproximar e eles interromperem a conversa, é porque estavam nos causos relativos a sexo.
Essa observação de senso comum bate com os achados de Simon Baron-Cohen relativos às diferenças entre os sexos, a saber, que mulheres em geral se interessam por pessoas e homens se interessam por coisas. Daí os cursos de psicologia serem lotados de mulheres, e os de engenharia, de homens. (Se bem que na última década houve uma debandada masculina dos cursos superiores, mas isso é outra história. De todo modo, aposto que é impossível encontrar uma universidade onde o curso de psicologia tenha uma proporção de mulheres inferior ao de engenharia.)
Dito isso, poucas mulheres se dão ao trabalho de discutir política e ideologia. Você vê pedreiro discursando sobre Bossonaro no boteco fora de ano eleitoral, mas não vê a manicure fazendo o mesmo. Assim, dado que o lugar comum é as mulheres serem “empoderadas”, é previsível que a maioria das mulheres passe por feminista, pois comprar briga política não é com elas. Os homens superestimam a adesão das mulheres ao feminismo, já que eles negligenciam o fato de as mulheres ligarem menos para ideologia do que eles.
Algumas pitadas de pessimismo
Os tempos atuais também permitem constatar o efeito danoso de um traço típico das mulheres jovens: a maior suscetibilidade à transmissão de doenças mentais. O fantasma da ideologia de gênero ronda a todos, mas, segundo as conclusões da cientista Lisa Littman coligidas por Abigail Shrier em Irreversible Damage (2019), a disforia de gênero de início rápido tem como vítimas típicas adolescentes do sexo feminino, e é transmitida socialmente. Segundo a Drª Littman, o roteiro típico relatado pelos pais é: “Uma filha com ansiedade e dificuldades de socialização, mas sem manifestações de questões relativas a identidade de gênero na infância, entra no ensino médio. Lá, se enturma com um grupo de amigas no qual muitas saem do armário como ‘transgênero’. A filha faz um anúncio similar; depois sua saúde mental piora.” A Dr.ª Littman passou a estudar então os surtos de anorexia, que também eram transmitidos entre as meninas já na era da internet – e lá elas se juntavam em panelinhas virtuais para cultivarem conjuntamente a doença.
O próprio efeito da testosterona injetável é benéfico no curto prazo para a ansiedade. Uma das razões para os homens serem menos ansiosos do que as mulheres é de ordem biológica mesmo, pois a testosterona tem esse efeito de reduzir a ansiedade. Assim, uma leve redução na ansiedade pode ser conquistada pelas meninas com um grande custo à sua saúde no longo prazo.
Ainda por cima, já é consenso entre os psicólogos sociais que o smartphone causou uma alta especialmente grande de ansiedade e depressão entre as meninas. Ao que parece, elas se preocupam muito mais com a própria aceitação social do que os meninos, de modo que uma foto ruim no Instagram ou similar tem uma importância de vida ou morte – e a foto está lá exposta, sujeita a reações, durante 24 horas por dia, sete dias por semana.
Last, but not least, as meninas estão sendo levadas a crer, pela propaganda, que dar certo na vida é ganhar muito dinheiro mostrando a bunda para os homens admirarem. É claro que isso aumenta a oferta de bundas no mercado, e, com o aumento da oferta, vem a queda do preço. Moral da história: a mulher (essa menina problemática que está crescendo) precisará dar um golpe, porque, em seu imaginário e em suas referências, não dispõe de meios honestos de ganhar a vida. Ao cabo, o estilo de vida do misógino que quer comprar gostosas é moldado pelo comportamento dessa mulher, do mesmo jeito que o do homem que jura ser feminista apenas para conseguir sexo.
Assim, essa nova mulher criada pelo progressismo está pronta para alugar o seu corpo e viver como uma loba solitária, certa de que será abandonada caso o corpo degringole. (E tome-lhe paranoia com botox e preenchimento, feitos mesmo por jovens bonitas.) Como a degringolada é inevitável, não é de surpreender que a expectativa de vida venha caindo nos EUA, a pátria do progressismo. Os homens que essas mulheres moldam tampouco vivem bem, já que serão outros lobos solitários com medo do abandono e que vivem pensando em contragolpe.
Mudança geracional?
Pertenço à última geração que não é “nativa digital”. De minha parte, sempre achei que a carreira intelectual e a exploração da aparência são coisas mutuamente excludentes, de modo que estranhei quando intelectuais empoderadas começaram a aparecer em capa de revista feminina com maquiagem produzida e ensaio de fotos. Nunca vi minha bunda como uma possível fonte de renda; mas, se eu concluísse que minha bunda é minha única chance de conseguir dinheiro o suficiente pra viver, seria após ter abandonado todas atividades intelectuais. Por outro lado, uma amiga mais nova, de outra geração, faz medicina em federal e tem colegas que se orgulham de ter um Only Fans, isto é, uma página onde vende fotos sensuais. Ou seja: na cabeça de um certo nicho dessa geração – nicho esse que não sei dimensionar –, o que conta mesmo numa mulher é a bunda. No ambulatório, essa mesma amiga tem observado a explosão de AIDS entre moças de bairros nobres que se prostituem sem a menor necessidade. No topo da sociedade, a moralidade mudou; na base, vê-se a mudança entre os traficantes e suas periguetes rotativas.
Eu peguei a época em que era possível ser desafiador defendendo, por exemplo, casamento gay. Num curto período, a coisa se inverteu, e é possível alguém parar na cadeia por defender o oposto.
Pode-se dizer que as mulheres são guardiãs da moralidade vigente. Um monte de homem se junta para derrubar um regime e fazer uma revolução; depois, as mulheres se encarregam de manter os costumes. Quando a moral religiosa estava em vigência – ou seja, até ontem – era comum os espíritos mais rebeldes detestarem a panelinha de carolas que ficava cuidando da vida alheia enquanto afetava virtudes. Nos dias de hoje, as panelinhas que desempenham função idêntica são compostas por feministas. Isso é um indício de mudança no status quo – e, para voltarmos à vaca fria, o homem que se submete a ele é gado demais.
Antes dessa mudança, as mulheres contribuíam para tornar os homens mais sociais. Davam estabilidade emocional às famílias, serviam de juízas em questões relativas ao gosto. Pode-se dizer que mulheres tendem a ser, por natureza, uma senhora cola social.
Quem quiser envenenar uma sociedade terá maiores chances de êxito se envenenar as mulheres. E não parece coisa difícil, quando as meninas são educadas por smartphones: toda a empatia é voltada para doenças mentais; toda a sociabilidade, contra os homens; toda a vontade de aceitação, para os moldes antissociais do progressismo.
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