
Governos bons são bons negociantes. Seguem o princípio que qualquer mascate conhece: para não desperdiçar dinheiro, o melhor é comprar barato. No caso do governo, o objetivo, claro, não é o lucro na revenda, mas poupar o dinheirinho dos contribuintes para fazer algo melhor com ele em seguida. Desperdício é sempre a palavra a ser evitada. Por isso chama a atenção a reportagem desta terça da Gazeta do Povo sobre a licitação que escolhe a empresa responsável pela manutenção da frota pública.
O governo tem tudo na mão para conseguir bons preços: uma frota de milhares de carros; um custo anual de manutenção na casa dos R$ 41 milhões; a garantia de que vai manter o serviço por três anos. Na gestão Beto Richa, o Palácio perdeu a fama de bom pagador, o que também ajudaria a conseguir preços mais baixos. Mas deixemos isso para lá por enquanto. Com um negócio desse, qualquer prestador de serviço se animaria a baixar um pouco o preço para poder competir. Mas não.
O governo, segundo a reportagem, que hoje paga R$ 23 por hora em média, estimou os custos em até R$ 100 por hora, dependendo do tipo do veículo. Pesquisa de mercado, diz a resposta oficial, foi o que balizou a decisão. Mas justamente: o governo pode conseguir condições melhores por ter uma frota imensa, entre outras coisas. No total, serão R$ 148 milhões em três anos: aumento de R$ 8 milhões ao ano em relação ao custo atual. Haja inflação.
Mas o que arregala os olhos do leitor é a lista de critérios exigida pelo governo. A empresa que ganhar precisa ter patrimônio milionário, ter experiência em cuidar de mais de três mil carros ao mesmo tempo e, pasme, entregar o software desenhado especificamente para ser compatível com o governo em apenas três dias. Não é preciso ser adivinho para saber que pouquíssimas empresas apresentam proposta nessa situação. E talvez (veja bem: talvez) apenas uma, quem sabe, cumpra todos os requisitos. Nesse caso, será a ganhadora sem concorrência.
Sem concorrência, não há porque baixar os preços, ainda mais se o edital permite que se jogue o valor máximo lá em cima: valor quatro vezes equivalente à média atual, por exemplo. Licitações foram feitas justamente para que o governo receba várias propostas e escolha a melhor. Se se reduz a escolha a um grupo mínimo de empresas, não se ganha nada. Pelo contrário. Quem ganha são as poucas empresas que podem participar e que jogam o preço na altura que quiserem.




