
A disputa verbal entre a ministra Kátia Abreu e o ministro Patrus Ananias, além de mostrar o quanto pode ser desconcertado um governo de coalizão deste tamanho, teve um ponto positivo: ajudou a virem à tona dados sobre os latifúndio no Brasil.
Recordando: Kátia Abreu, nova ministra da Agricultura, disse que não existem mais latifúndios no Brasil.
Entendendo o caso: os governos do PSDB e do PT acreditam que o ministério da Agricultura é destinado à bancada ruralista, e que deve ser ocupado por alguém que represente os setores do agronegócio, mesmo que esteja se lixando para o pequeno produtor, os sem-terra ou o meio ambiente.
Recordando 2: Patrus Ananias, novo ministro do Desenvolvimento Agrário, falou que existem sim latifúndios, que é preciso derrubar as cercas e que Kátia Abreu é uma latifundiária que não conhece o país.
Entendendo o caso 2: os governos do PSDB e do PT acreditam que o ministério do Desenvolvimento Agrário tem de ser ocupado por algum defensor da reforma agrária que pode estar se lixando para o agronegócio.
O fato, porém, é que no caso específico, Patrus tinha razão. Primeiro porque Kátia Abreu é uma latifundiária. Segundo, porque o latifúndio não só não desapareceu magicamente do Brasil como está havendo uma concentração de terras cada vez maior no país;.
Reportagem de O Globo desta sexta com base em dados oficiais do Incra mostra que as grandes propriedades saltaram de 238 milhões para 244 milhões de hectares entre 2010 e 2014. Ou seja: cresceram duas vezes o estado do Sergipe.
É provável que a ministra tenha desejado dizer que o que acabou é o latifúndio improdutivo. Mas isso não só não é verdade como nos últimos anos os ruralistas têm tido sucesso em impedir que se aumentem os padrões mínimos exigidos para que se considere uma terra produtiva.
É evidente que ainda há muita especulação, muita terra infértil, muita grilagem. Só não ver quem não quer.



