
Michel Temer é um sujeito discreto. Age mais nos bastidores do que em cena. Agora, pode estar à beira de assumir a Presidência da República sem jamais ter precisado ser candidato a presidente. Para isso, precisa que Dilma, que o colocou duas vezes na vice, sofra um impeachment.
Em outras ocasiões, Temer disse que jamais “conspiraria” contra Dilma pois isso mancharia sua biografia. Mas cada vez mais percebe-se que o vice-presidente vai ficando à vontade para, aos poucos, aproximar-se da cadeira de Dilma.
Para entender a aproximação de Temer do poder, talvez seja útil. Recuperar algumas poucas frases que pronunciou, bem a seu estilo, durante os seis anos que já dura sua parceria com o PT.
1 – Partilhar o governo
A primeira declaração famosa de Temer como candidato a vice de Dilma veio em 2010, num evento fechado, com líderes do PMDB. Disse ele:
“Estamos partilhando o pão e queremos partilhar o próximo governo.”
Pegou mal. Depois Temer viria a dizer que foi uma brincadeira. Mas a “partilha” do governo foi bem real, com o PMDB tendo de cinco a seis ministros durante todo o governo, até agora, quando resolve sair à beira do caos.
2- A crise
Em setembro de 2015, nove meses depois da segunda posse, Temer falou pela primeira vez em uma possível queda de Dilma. Foi em um evento para empresários. Disse que com a popularidade em baixa ficava difícil para a presidente aguentar até 2018.
“Se continuar assim, eu vou dizer a você, para continuar 7%, 8% de popularidade, de fato fica difícil passar três anos e meio.”
3- Oportunista? Nunca
No mesmo evento, Temer foi questionado sobre a possibilidade de passar à História como um oportunista, por desejar o cargo de Dilma. Respondeu duro:
“Jamais seria oportunista, percebe? Quero deixar isso muito claro para o senhor. Em momento nenhum eu agi de maneira oportunista. Eu vou dizer ao senhor: muitas e muitas vezes dizem assim: ‘O Temer quer assumir o lugar da presidente’. Eu não movo uma palha porque aí sim eu seria oportunista. Aí, eu violaria a minha história.”
4- A carta
A relação se deteriorou a tal ponto que em dezembro de 2015 Temer mandou uma carta para a Dilma reclamando da presidente e da desconfiança que o PT mostrava com relação a ele. Curiosamente, a carta vazou para a imprensa em tempo recorde.
“Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo. Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à Vice.”
5- A caravana
Em caravana pelo país, para promover a “unidade nacional”, Temer começou a dizer em fevereiro de 2016 que vê o povo desejoso de ter o PMDB no comando da República.
“Hoje, o povo brasileiro quer mais do PMDB. Não quer apenas que seja o partido da governabilidade. Quer que seja governo.”
6- O tempo do PMDB
Na mesma caravana, outra frase de mesmo sentido:
“Tudo tem o seu tempo certo. Agora é o tempo do PMDB.”
7- Futuro governo
No mês em que se formou a comissão de impeachment de Dilma, Temer anunciou via vice-presidência, no Twitter.
“Michel Temer não tem porta voz, não discute cenários políticos para futuro governo e não delegou a ninguém anúncio de decisões sobre sua vida pública. Quando tiver que anunciar algum posicionamento, ele mesmo o fará, sem intermediários.”
Repare: não se fala em “possível” ou “suposto” futuro governo. Simplesmente “futuro governo”.
Com quem esse governo será partilhado?
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