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Carlos Alberto Di Franco

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Comunicação

Jornalismo: o desafio da mudança

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Jornalismo se perde quando se transforma em militância político-ideológica. (Foto: Imagem criada utilizando Whisk/Gazeta do Povo)

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O cenário atual do consumo de informação é motivo de séria preocupação. Exige reflexão, autocrítica e, sobretudo, coragem. Chegou, sem rodeios, a hora da mudança. O jornalismo atravessa uma encruzilhada decisiva. Ou reencontra sua alma ou mergulha na irrelevância.

Estamos atravessando um momento ímpar na história. A revolução tecnológica e a expansão da conectividade reduziram as fronteiras ao limite, ampliando o acesso à informação e ao conhecimento de uma maneira jamais vista.

Vivemos um tempo paradoxal. Nunca se produziu tanto conteúdo e, ao mesmo tempo, nunca foi tão difícil distinguir a informação confiável da narrativa enviesada. Em meio ao ruído ensurdecedor das redes e à avalanche de opiniões, muitas vezes superficiais, o jornalismo precisa urgentemente reencontrar sua missão original: servir à verdade, contribuir para o bem comum e respeitar a inteligência do leitor.

A sociedade está exausta do clima de militância que contaminou a agenda pública. Sobra opinião; falta informação. A notícia foi engolida pelo achismo. Os leitores estão perdidos em meio a afirmações categóricas, declarações de “especialistas” de ocasião e uma avalanche de colunismo militante. O denominador comum? Radicalização e politização. Uma distorção que fragiliza a credibilidade da imprensa, alimenta o ceticismo das novas gerações e abre espaço para teorias conspiratórias. A informação, que deveria ser um bem público, confiável e transparente, converteu-se – em muitos casos – numa trincheira ideológica.

A imprensa se distanciou do seu público e, muitas vezes, incorreu em ativismo disfarçado de reportagem

As notícias que realmente importam, aquelas capazes de interferir nos rumos de uma nação, não nascem de boatos ou meias-verdades disseminadas com irresponsabilidade. São fruto de trabalho investigativo sério, conduzido com rigor técnico e compromisso ético. O jornalismo responsável é o antídoto contra a demagogia e a manipulação.

Mas jornalismo independente exige liberdade. Não temos donos. Nosso compromisso é com a verdade e com o leitor. No entanto, liberdade de imprensa não é licença para abusos. Supõe responsabilidade. E essa se traduz na escuta plural, na busca da verdade factual e na análise honesta dos acontecimentos. Informação não é propaganda. Jornalismo não é panfleto.

A disrupção digital, a perda do controle da narrativa e a desintermediação da informação são fenômenos que, em boa parte, poderiam ter sido atenuados. Faltou sensibilidade. A imprensa se distanciou do seu público, demonstrou dificuldade em compreender as novas formas de consumo informativo e, muitas vezes, incorreu em ativismo disfarçado de reportagem.

Com frequência, passou a falar para si mesma, para suas bolhas cognitivas, esquecendo o cidadão comum – o leitor silencioso, mas atento. Esse leitor – homem ou mulher, jovem ou adulto – deseja ser informado com seriedade, não catequizado por ativismos ideológicos.

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E os leitores, com razão, manifestam cansaço diante do tom sombrio de muitas coberturas. É possível denunciar mazelas sem sucumbir ao desânimo. Vejamos, por exemplo, o flagelo da corrupção. Combater a corrupção é dever inegociável. Mas é igualmente necessário apontar saídas. Por que não fazer disso uma bandeira clara e positiva da imprensa?

A corrupção, a violência, a mentira e a incompetência existem e devem ser denunciadas. Mas há também outro lado. Um lado de esperança. Há luzes no fim do túnel. Cabe ao jornalismo revelá-las. Chegou a hora de cultivar uma abordagem propositiva, que vá além da denúncia e aponte soluções. Um jornalismo que reconheça a dor da sociedade, mas que não se acomode no ressentimento. Que diga a verdade com serenidade. Que saiba discordar sem desfigurar o adversário.

É possível, sim, construir pautas que inspirem. Mostrar boas práticas na educação, na saúde, no empreendedorismo social, na recuperação de cidades, no combate ao desperdício. Há gente silenciosa fazendo o bem, e suas histórias podem reacender a esperança. Isso também é jornalismo.

A tecnologia mudou tudo. Mas os valores permanecem. Credibilidade, independência editorial, compromisso com o bem comum – esses pilares continuam válidos. Mais do que nunca, precisamos de um jornalismo com alma.

Para não sucumbir à irrelevância, o jornalismo precisa reencantar o leitor. Precisa recuperar sua vocação de ponte entre os fatos e a compreensão do mundo

A mudança de rota não será fácil. Implica renúncia a certezas ideológicas, revisão de narrativas e disposição para a autocrítica. Mas é o único caminho para reconstruir a confiança. E a confiança é o capital simbólico mais precioso da imprensa.

Estamos diante de um ponto de inflexão. Para não sucumbir à irrelevância, o jornalismo precisa reencantar o leitor. Precisa recuperar sua vocação de ponte entre os fatos e a compreensão do mundo.

É tempo de mudança. Tempo de voltar ao essencial: a verdade dos fatos, a dignidade das palavras, a responsabilidade social da informação. O jornalismo não pode ser instrumento de ressentimento. Tem de ser, com coragem e humildade, um serviço à verdade e à liberdade.

O papel da informação no conturbado momento nacional mostra uma coisa: o jornalismo é mais necessário do que nunca. Exatamente por isso é que mudar é preciso. Ressignificar o jornalismo é urgente.

Chegou para o jornalismo a hora da mudança.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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