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Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
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O projeto de poder totalitário da extrema-esquerda, que esperamos tenha tido seu auge nos desgovernos petistas, está ainda longe de ter sido finalmente exorcizado da realidade nacional. A cada ano, milhões de jovens ainda se submetem a um exame que, entre várias outras péssimas características, serve primordialmente para medir a “lavagem cerebral” perpetrada pela extrema-esquerda nas suas mentes em formação. Trata-se do Enem.

Assim como o fluxo de água morna de um enema lava o intestino, o Enem recolhe reações intelectuais para averiguar o sucesso final de uma lavagem mental que foi se preparando por anos.

A prova já passada este ano, que tive o desprazer de ler inteira para preparar este texto, poderia ser comparada a um daqueles edifícios da escola dita brutalista, em que ser grande e feio é vantagem. Dezenas de páginas cobertas por letras minúsculas, com “questões” que na verdade ninguém pode responder. Afinal, responder significaria explicitar a compreensão que se tem daquilo sobre o que versa a pergunta, o que o Enem não pede nem aceita. Só o que se tem nele são questões de múltipla escolha, em que se deve definir como certa apenas uma das respostas. Em outras palavras: mede-se a capacidade de pensar como alguém, de adivinhar qual seria a resposta perfeita para alguém que não nós mesmos. É como quando os filhos vão escolher um presente para a mãe e têm de escolher, entre os que estão à venda, qual seria mais “a cara dela”. Em jogo, contudo, está a possibilidade de escolher a faculdade que se queira cursar, o que, nessa altura da vida, é coisa de suma importância. O Enem configura, assim, um rito de passagem obrigatório para a juventude, a ocasião em que cada jovem pode e deve mostrar que se tornou uma pessoa pronta para conviver em sociedade.

E a pessoa ideal, pela medição, o prestador de Enem ideal, seria certamente membro do PSol ou mesmo, teimosamente, do PT. Para ela, a Revolução Russa foi uma coisa linda e o paredão cubano, algo “necessário”. A sociedade para a qual estaria pronto esse jovem de nota máxima no Enem seria a Cuba malemolente dos delírios dos esquerdistas (em que, claro, se seria amigo pessoal da família Castro) ou, mais provavelmente, alguma daquelas sociedades lúgubres e tirânicas que recobriram e violentaram por décadas a Europa Oriental. Enorme parte das provas de “linguagens, códigos e sua tecnologias” e de “ciências humanas e suas tecnologias” não estaria fora de lugar em um exame prestado por membros do Partido Comunista da Coreia do Norte. É aquela mesma mentalidade ultracoletivista que arranca as pessoas de suas aldeias para forçá-las a viver em edifícios de concreto, só para garantir que todas as residências serão iguais. É aquela mesma mentalidade em que o conhecimento real é substituído pela capacidade de citar a linha do Partido e concordar como se sempre o houvesse feito com aquilo que fosse, no momento, o ordenado pelos superiores. O que é averiguado na prova é, em enorme medida, a concordância com os pontos em que a extrema-esquerda tenta transformar a sociedade, revolucionando os costumes e cobrando, com a mais louca cara de pau, que todos aprovem a mudança sem debate prévio e condenem quem queira manter a sociedade como ela já provou que funciona.

Mesmo as modas menos diretamente ofensivas da esquerda, os cacoetes cerebrais pelos quais se identifica um entusiasmado da ideologia genocida que tantas vidas ceifou o século passado, estão presentes por toda a prova. A segunda questão da prova que tive em mãos falava (bem, é claro) da pobre Frida Kahlo, uma artista mediana que teve o desprazer de ser amante de Trotsky e hoje serve de ícone pop da esquerda feministoide, fazendo uma espécie de contraponto de sexo feminino ao onipresente Che Guevara, o sol e a lua de um céu vermelho e satânico. Na terceira questão, o texto em inglês tratava da morte trágica de uma criança de 2 anos pelo próprio irmão de 5, que achou uma arma. É exatamente o tipo de história de horror extremo, de o pior dos piores acontecendo tragicamente, que a extrema-esquerda adora usar para tentar negar aos cidadãos o seu direito de possuir meios para a defesa própria e da família. Não esqueçamos, contudo, que o que vale para uns não vale para outros no comunismo, onde há sempre alguns que são mais iguais que os outros. O agente confesso do governo cubano e corrupto condenado José Dirceu já se gabou de ainda guardar o revólver com que sequestrava e assaltava durante os governos militares.

Toda aquela prova gigantesca, aquela massa de concreto sem uma flor a crescer nas rachaduras, todas e cada uma daquelas 90 “questões” capciosas representa, antes de tudo, uma cristalização do pior do pensamento de extrema-esquerda. Para respondê-las, o jovem tem de saber pensar como um comissário do Partido, tem de saber interpretar a realidade não de acordo com ela mesma, e sim em firme obediência a preceitos políticos que nenhum sentido fazem, a sistemas de valores que provocaram genocídios no século passado. Perpassam o documento as fixações esquerdistas, como a desigualdade, que eles demonizam, preferindo entusiasticamente uma sociedade de miseráveis a uma sociedade de pessoas com um nível de vida de classe média que uma pequena parcela de milionários torne mais desigual. A horrenda fixação com “raça”, que hoje também é moda na esquerda – seguindo nisso, como sempre, a esquerda americana – se faz igualmente presente ao longo de todo aquele colosso de textos de leitura árdua e respostas prontas.

Não há outra maneira: para que um jovem seja capaz de ter uma boa nota no Enem, ele deve pensar como um comissário do Partido, sem jamais se desviar um jota da linha da ortodoxia esquerdista. Ora, isso faz, por necessidade, com que o sistema de ensino fundamental e médio brasileiro como um todo seja dedicado à formação de pequenos soldadinhos do Partido, à criação de  clones de Pavlik Morozov, o menino saudado como herói na União Soviética por ter denunciado os próprios pais à polícia secreta. O Enem não mede, nem teria como medir da maneira como é concebido e estruturado, o conhecimento real que o jovem tenha das matérias abordadas. Elas são apenas uma desculpa, muitas vezes tão esfarrapada que é difícil entender qual seria o ponto de matéria (não o ponto de “moral” esquerdista; este é sempre claro) que estaria sendo cobrado. O Enem é o exame central de uma formação exclusivamente política, em que o jovem aprende a não pensar, a não refletir sobre a realidade, a substituir o que seus olhos veem e o que formou a própria civilização de que é fruto por uma ideologia mortífera, sem vida e sem misericórdia.

Não é de se estranhar, aliás, que tenhamos uma maioria de analfabetos funcionais entre os universitários, ou seja, entre aqueles que passaram, e passaram bem, no Enem. Um analfabeto funcional é aquele que não consegue entender o que lhe diz um texto – por exemplo, uma notícia de jornal. Ora, as questões do Enem (logo, a preparação para elas ao longo dos anos de escola) são justamente a negação da compreensão do texto puro, substituída pela releitura esquerdista dele. Tendo necessidade apenas de escolher entre respostas prontas, o conhecimento exigido e medido é apenas o de se colocar no lugar do militante do Partido que concebeu a “questão” e ser, basicamente, “contra” ou “a favor” nas questões políticas que se perceba no texto. O que não é questão política é invisível por esse método de “leitura”. Você, caro leitor, já demonstrou mais proficiência na língua portuguesa ao ler este texto que os jovens ao serem submetidos ao Enem.

A única hora em que o jovem tem que esquentar um pouco a caspa com algo que não a mera escolha entre várias alternativas, na busca sempiterna da perfeita ortodoxia esquerdista, é a redação. Mas vejam os senhores que coisa curiosa: a redação, ela também, em vez de dissertação livre sobre um tema dado, como pensaria alguém inocente a ponto de não saber o que é o Enem, é, tanto quanto o texto ou mais ainda, propaganda esquerdista. No caso, pede-se a redação de um panfleto, de algo semelhante, curiosamente, àqueles textos que eram a especialidade da protagonista no delicioso filme Adeus, Lênin. Neste filme, uma senhora alemã oriental, perfeitamente alinhada ao Partido Comunista e acostumada à vida sob o duro tacão do socialismo, sofre um longo coma durante o qual cai o Muro de Berlim e acaba o regime com que sonham os produtores do nosso Enem. Os filhos, com medo de que o susto de saber do fim do Estado comunista a matasse, passam, então, a simular em torno dela uma realidade em que o comunismo não houvesse acabado, mantendo vazias as despensas e mesmo editando falsos noticiários para não assustá-la.

A especialidade da pobre senhora era apresentar a instituições burocráticas do governo comunista reclamações, feitas em forma de sugestão de intervenção. Afinal, para um comunista, é a intervenção do Estado que resolve todos os problemas; a ideia de que o Estado possa vir a se tornar um problema muitíssimo maior que os que ele estaria supostamente resolvendo não lhes passa pela cabecinha. O comunista não faz nem quer fazer: ele quer exigir que o governo faça, como um pirralho mimado que exige que os pais façam o que deseja.

E é exatamente esse o tipo de texto que se exige dos pobres jovens submetidos ao Enem: o equivalente literário da birra da criança mimada querendo que façam algo por ela, uma “proposta de intervenção” do Estado para “solucionar” um problema dado. Sem “desrespeitar os direitos humanos”, claro, ainda que seja uma completa impossibilidade desrespeitar um direito, ou seja, impedir alguém de fazer algo que lhe é dom natural, usando uma redação de prova. Talvez a folha molhada pudesse ser usada para fazer alguém deslizar nela, como numa casca de banana, prejudicando assim seu direito de ir e vir. Mas divago.

O pacote é apresentado pronto: estatísticas, legislação (delirante, como sempre, com o Estado prometendo mundos e fundos quando não consegue nem mesmo diminuir os mais de 60 mil assassinatos por ano), situação emocionalmente apelativa: todo o material necessário para a apresentação de uma “proposta de intervenção que respeite os direitos humanos” que daria orgulho à velha senhora comunista do filme que citei. Este é o modelo de redação exigida no Enem.

Note-se que ele já parte do pressuposto da extrema-esquerda de que é ao governo, central e centralizador, que compete “intervir” para melhorar (nunca piorar…) algo. Não se pode apresentar uma proposta de ação em que as pessoas interessadas se unam e ajam em prol da solução do problema. Não; tem de ser o governo, e só o que se pode fazer é propor uma “intervenção”, ainda que a incapacidade do nosso Estado de resolver quaisquer problemas já seja tornada óbvia pela simples percepção do descompasso absoluto entre a letra da lei, com seu mundo de unicórnios coloridos sobrevoando uma terra de leite e mel, e a dura realidade em que vivemos. A “intervenção”, claro, como necessariamente há de ser para um comunista ortodoxo – perguntem à senhorinha do filme! –, deve ser em benefício de um “oprimido”. Afinal, para a extrema-esquerda que defeca a prova do Enem a cada ano, o mundo é dividido entre “oprimidos” e “opressores”.

Este ano os “oprimidos” da vez foram os surdos, tornando mais uma vez evidente a surdez e a cegueira patológicas da extrema-esquerda para com o direito das pessoas ao respeito. A surdez já é uma deficiência invisível que traz enorme quantidade de problemas – surdos muitas vezes têm dificuldades para aprender a falar, e por isso podem soar estranhos; frequentemente são confundidos com portadores de alguma deficiência mental; são injustamente preteridos em funções que poderiam desempenhar perfeitamente, etc. São pessoas que realmente têm problemas sérios na vida cotidiana, causados por uma situação de que normalmente não têm culpa alguma. Mas, para o Enem, nada disso importa: os surdos são perfeita matéria-prima para a construção de um cirquinho ideológico em que eles sejam usados de mero degrau a ser pisado para aumentar a intervenção do Estado.

Não se pede ao jovem que está ali diante da folha de redação em branco que procure soluções para amenizar os problemas dos surdos: manda-se que ele proponha uma “intervenção”, ou seja, um aumento ainda maior da ingerência do Estado, quiçá a criação de uma nova repartição pública para encher de desocupados alimentando-se dos impostos sem dar praticamente nada de volta. Uma “intervenção” governamental supostamente em favor dos surdos, no Brasil, provavelmente só teria sobre eles efeitos negativos, e isso deveria ser evidente se não fosse o estrago provocado pela educação ideologizada. Mas a extrema-esquerda não se interessa por eles; ela apenas os percebe úteis como degrau, como escada, como desculpa para fomentar o crescimento do Estado, o seu real objetivo. Não podemos esquecer que para o esquerdista radical só é moralmente aceitável o trabalho do funcionário público, o que faz com que considere excelente que este aumente a cada ano, mesmo em um momento em que a carga tributária já está obscenamente alta e muitos estados já não conseguem pagar corretamente o funcionalismo existente.

O Enem, lembramos mais uma vez, por sua própria natureza de prova única, aplicada país afora com enormes benefícios em jogo, acaba se tornando a razão de ser do sistema de ensino. A diferença entre a escola pública – dita de má qualidade – e a escola particular, dita melhor, é que a particular consegue ensinar o aluno a pensar como comunista, ou seja, transforma realmente o aluno em comunista, enquanto a pública, por pura incompetência, não o faz. Tudo, toda ação do professor em classe, todo dever de casa, toda prova, toda interação do aluno com a escola, em todos os anos que levam ao fim do ensino médio e ao Enem, passaram a ser apenas preparatórios para aquele horror. As escolas competem não mais para ensinar mais e melhor, e sim para treinar melhor o aluno para que ele assuma como seus os cacoetes mentais da extrema-esquerda, para transformar uma criança honesta num papagaio vermelho.

Haveria a alternativa, em uma escola particular, de tentar conjuminar ensino verdadeiro e treinamento de papagaios vermelhos. Mas é difícil, quase impossível: o MEC fica de olho e não permite que sejam criadas as disciplinas que se fariam necessárias. É a herança maldita de Paulo Freire, é a explicação primeira para a tremenda queda na capacidade mental do brasileiro, já medida e reconhecida por vários estudos.

Este caderno de questões e respostas do Enem que tenho em mãos é a prova de que ainda falta muito para acabar de livrar o Brasil da praga comunista que ora ainda assola a Venezuela e faz de Cuba uma ilha-prisão. O ensino de nossas crianças e jovens foi sequestrado pela extrema-esquerda e substituído por um sistema de lavagem cerebral em que qualquer conhecimento ou capacidade só interessa na estrita medida em que sirva para expressar a linha do Partido. Será preciso um longo e penoso trabalho, ao longo das próximas gerações, para voltar lentamente a formar professores – que talvez tenham de ir ao exterior para aprender o que aqui se perdeu – e reconstruir o deserto devastado que é o ensino do país, que tem por coroa o Enem. Academicamente, estamos em pior estado que fisicamente estão as cidades sírias bombardeadas na guerra. Precisamos agir, e agir desde já. É tarde, e muito estrago já foi feito. Gerações inteiras de analfabetos já foram formadas.

O ensino brasileiro não ensina: treina papagaios vermelhos.

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