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Sede do TSE, em Brasília
Sede do TSE, em Brasília| Foto: TSE

Surpresa zero. O resultado da eleição foi exatamente o que eu havia previsto. Errei por apenas uma casa decimal; um milésimo, bem menos que qualquer margem de erro normal, mas perfeitamente de acordo com o que se tem quando se manipula grandes números em sistemas informatizados. Eu disse que o Escolhido do TSE levaria a eleição com 51%, mas levou com 50,9%. Na prática, a mesmíssima coisa.

E, claro, também como previsto, a contagem foi extremamente “interessante” (no sentido da praga chinesa, em que se deseja ao amaldiçoado “viver em tempos interessantes”). Em vez de haver uma alternância de liderança de acordo com os dados lidos de urnas (digo, misteriosos conteúdos de pen-drives) que chegavam de modo teoricamente aleatório aos computadores conectados àquele que gerou o resultado previsto e previsível, via-se claramente a ação de um mecanismo “regulador” na contagem que fazia com que fosse magicamente mantida uma tênue margem de liderança para o Escolhido. Simplesmente não havia alternância de liderança, nem desvio algum daquele percentual de liderança do Escolhido do TSE. Não foi uma emocionante corrida que acaba decidida por um nariz, sim um monótono avanço paralelo como que sobre trilhos, em que os resultados parciais mudavam apenas frações de pontos percentuais ao longo de praticamente toda a apuração. Se a “contagem” houvesse sido interrompida em qualquer momento a partir, digamos, dos 15% dos pen-drives que fizeram as vezes de urnas cheias de votos o resultado teria sido exatamente o mesmo. A única maneira de isso acontecer naturalmente seria se chegassem ordenada e alternadamente urnas oriundas de currais eleitorais dum e doutro candidato (sendo que como os grandes centros são abertamente bolsonaristas, seria algo como x urnas oriundas deles para 5x urnas dos grotões). A chance estatística duma coisa dessas acontecer sozinha é tão infinitesimal que na prática se pode dizer impossível.

Os resultados miraculosamente bizarros dos demais sufrágios do primeiro turno também levaram a um resultado extremamente “interessante” neste segundo turno. Não nos esqueçamos dos estranhíssimos votos-camarão do primeiro turno, que elegeram governadores e congressistas bolsonaristas de colar decalco enquanto, nas mesmas áreas, o Escolhido do TSE, o Xodó do Xandão, levava vantagem no pleito presidencial. Pois essa diferença foi eliminada. Eliminada demais, diria eu. Provavelmente para a coisa não ficar tão escandalosa, o que construiu um resultado geral exatamente como previsto (51%, “pra não humilhar”… nem dar muito na vista) criou alinhamentos estranhíssimos em resultados de segundo turno de governador.

Em SP a diferença entre os votos do Bolsonaro e os votos do bolsonarista Tarcísio foi de 0,03%. Mais uma vez, exatamente o que se veria em manipulação informática de grandes números, num alinhamento cuja perfeição há de ter dado inveja ao Psicogordo da Coreia do Norte. Em Santa Catarina, a diferença foi de quase exatamente 1%. Já no Rio Grande do Sul, terra importante para a esquerda tupiniquim, houve uma diferença de menos de 1%… mas com sinal trocado: a votação do candidato lulista e a do bolsopresidente foram praticamente a mesma. E por aí vai. O termo técnico, se não me engano, é “bizarro”. A normalidade estatística, em que se tem uma suave curva de distribuição gaussiana do erro e da diferença, estava tão ausente deste segundo turno quanto esteve do primeiro.

Tudo, em suma, como previsto.

Em qualquer lugar do planeta, uma eleição com um resultado assim apertado justificaria uma recontagem de votos, ainda que só para tranquilizar a todos. Em nosso sistema, contudo, ela é impossível em todos os níveis. Impossível saber se o registrado na memória eletrônica do frágil computadorzinho (rodando Linux, valha-me Deus!) que faz as vezes de máquina de votar é o mesmo que foi digitado. Impossível saber se o conteúdo do pen-drive que carrega para o próximo fragilíssimo computador – conectado na internet para transmitir os dados ao computador central! – é o mesmo da memória da “urna”. Impossível saber, em suma, o que quer que seja. Tal como nas lojas de porcarias paraguaias, “la garantía soy yo!” – “yo” sendo o vendedor, ou no caso o Grande Contador de Votos. Stálin já disse que não importariam os votos, sim sua contagem, e nesta vasta cerimônia de sacralização da ascensão ao trono do Escolhido as bênçãos da divindade tutelar Democracia conseguiram ser mais simbólicas que roupa de destaque de escola de samba.

A coisa chegou a tamanho paroxismo de cara-de-pau e de parcialidade que até o New York Times – voz informal do Departamento de Estado americano – achou esquisito. Do mesmíssimo modo, reparei nos meus papos com gente apolítica, no mais das vezes vivendo apertado, uma forte consciência de que há algo no ar além dos aviões de carreira. Uma senhorinha que conheço mandou o marido (funcionário braçal duma apicultura; não exatamente a elite urbana bem-informada) parar de falar mal do Lula “pra não ir preso”, por exemplo.

A coisa foi ficando mais e mais escancarada, e escancaradamente parcial, à medida que se aproximavam as eleições. O Bolsocandidato fica sem sei lá quantas centenas de milhares de inserções? É a vida. Um ministro aposentado do STF lembra que o Xodó do Xandão não foi inocentado não, muito pelo contrário? Calem-lhe a boca! Apareceu uma gravação do próprio Dono da Bola dizendo que o seu Escolhido de hoje é corrupto? Calem-ME a boca! A PRF faz operações para impedir o voto de cabresto, como sempre fez? Multa pessoal horária de cem mil reais pro chefe da PRF, e cadeia nele! Ah, a PRF aprendeu milhões em dinheiro vivo nos ônibus cheios de eleitores de cabresto? Dane-se, prendam-se os policiais que ousaram combater o crime! E por aí vai.

Seria na verdade miraculoso se o resultado fosse qualquer outro. As forças reais deste país, deitadas eternamente em berço esplêndido, ficaram como o proverbial sapo fervido, deixando a coisa ficar pior e pior sem mexer uma palha. Prisões arbitrárias, inclusive de parlamentares por supostos delitos de opinião. Perseguição aberta a quem quer que ousasse declarar abertamente preocupação e apoio ao bolsopresidente. E, mesmo assim, tanto as forças produtivas quanto as forças armadas preferiram manter bem bonitinha a fachada desta Aldeia Potemkin de democracia, enquanto logo além de tal fina casca pra inglês ver a podridão só fez aumentar, fermentar e borbulhar.

Isso foi possível por Bolsonaro ser – ter sido – um presidente fraco, tolerado mais que apoiado. Curiosamente, tendo ele sido o Grande Eleitor nesta eleição, isso em boa medida acabaria quando o próximo Congresso e os novos governadores tomassem posse. As eleições para o Congresso e para os Palácios estaduais comprovaram a aprovação popular de seu governo, a despeito das besteiras que fala sempre que abre a boca. E com razão: as duas maiores crises globais deste milênio que mal se iniciou estouraram no seu colo, e mesmo assim o Brasil foi um dos países que melhor se saíram.

A taxa de mortos de Covid por cem mil habitantes do Brasil ficou entre a grega e a americana, sem que tenhamos a prosperidade da União Europeia ou dos EUA, por exemplo, em grande medida porque o bolsopresidente sabiamente deixou que as instâncias inferiores tomassem as medidas adequadas para cada situação em vez de tentar centralizar a resposta à pandemia. Do mesmo modo, a guerra na Ucrânia causou tamanho pandemônio mundo afora que há estados americanos inteiros em que há neste momento sério perigo de não haver diesel à venda nos postos; aqui o diesel está absurdamente caro, mas não há desabastecimento, e da guerra acabamos por obter vantagens comerciais. Além disso, obras de infraestrutura há muito necessárias foram encetadas, a transposição do São Francisco que o Xodó do Xandão muito garganteou e pouco fez foi concluída, o real subiu quando o mercado internacional entrou em polvorosa… Confesso que esperava bem pior quando ele foi eleito. Afinal, o Bolsonaro pode ser acusado de muita coisa, mas não de ser um estadista.

O que vem agora, todavia, é com certeza bem pior. Só pra começar, o Xodó do Xandão vai deixar de sê-lo assim que tentar mandar no Xandão, que dificilmente aceitaria deixar de usar o poder que conquistou. Um Congresso acirradamente oposicionista vai ter que ser amansado ou contornado, o que só tem como ser feito com apoio do STF. Do mesmo STF que tomou gostinho pelo poder, e que certamente não se vê a meramente carimbar as decisões emanadas do Planalto. E isso é só dentro do esquema tripartite de poder.

No mundo real, a coisa é ainda mais complicada. No começo do bolsomandato que ora finda, os militares toleravam o presidente, e sua preferência certamente seria vê-lo substituído pelo Gen. Mourão, em quem plenamente confiavam. Com o passar do tempo, todavia, eles puderam ver que por mais que falasse besteiras diuturnamente a sua visão de mundo ainda devia quase tudo às Agulhas Negras, e passaram a aceitá-lo de bom grado e mesmo colaborar em boa medida. Já o Escolhido do TSE – tendo não só a ideologia, a história pregressa e as condenações criminais a pesar contra ele, como um projeto já divulgado de desmanche das Forças Armadas, com direito até mesmo à formação duma Guarda Nacional – teria dificuldades até mesmo para chegar ao nível de onde saiu o bolsopresidente e ser meramente tolerado pelos generais. As forças produtivas, os grandes industriais e quetais, do mesmo modo, não terão esquecido a perseguição ilegal e absurda pelo mesmo STF bêbedo de poder desencadeada sobre os membros do grupo de empresários bolsonaristas que ousou conversar coisas “feias” no zap. O caos generalizado, já iniciado antes mesmo de assentar a poeira das eleições, com bloqueios de rodovias por caminhoneiros indignados com a violência contra a democracia e o calar da voz do povo, com saques, com todo tipo de barbaridade, só tende a aumentar ao longo dum mandato oriundo de tão péssimas circunstâncias. O que já seria um pesadelo para um governante normal torna-se ainda pior para um governo ambiciosamente dedicado à construção duma distopia felizmente impossível, mas fraco e sem legitimidade, alçado ao poder pela caneta errante dum sujeito mordido pela mosca azul e embriagado de poder. Um governo desprovido de apoio popular, de apoio do MP, de apoio militar, de apoio policial, de apoio das forças produtivas…

Para piorar ainda mais, a esquerda brasileira tem por guia a esquerda americana, que além de ter pautas que aqui não fazem o menor sentido mas são encampadas pelos esquerdistas tupiniquins ainda goza do privilégio de ser a classe de gente em menor contato com a realidade na história da humanidade. Perto da esquerda gringa, Maria Antonieta era uma pessoa muito antenada, especialista em psicologia de massa. E o que tem feito a esquerda gringa? Bom, depois duma eleição ainda mais esquisita que a nossa, ela empossou um presidente idoso, que tudo indica já ter sérios problemas cognitivas e só fala besteira quando não está lendo um teleprompter. “Seu” governo passou a sistematicamente destruir a economia (logo a sociedade) americana, jogando dinheiro público no lixo como se não houvesse amanhã, esbanjando as reservas estratégicas como se fossem cornucópias inesgotáveis, e causando a maior e mais súbita queda de nível de vida material da história daquele rico país.

O ex-presidente Trump – e lembro que nos EUA a função de presidente tem uma aura de sacralidade ausente do equivalente tupiniquim, sendo lá o presidente uma espécie de Sumo-Sacerdote da Religião Cívica – já teve seu palácio invadido e as calcinhas de sua esposa reviradas por um FBI tornado em Gestapo (ou KGB?) atrás de alguma coisa, qualquer coisa, que servisse para montar contra ele um processo criminal. A chance de ele ir pra cadeia é grande, sacralidade ou não. E o mesmo certamente será feito aqui, com todo tipo de loucura sendo invocada para fazer injustamente contra o boquirroto-em-chefe o que foi um dia feito justamente com o Escolhido do TSE. Do mesmo modo, ainda, o governo americano atual está preparando reformas eleitorais que garantam que jamais percam outra eleição majoritária, por bem ou por mal, ao menos não para presidente. Querem proibir a nível nacional que se peça documento de identidade dos eleitores, por exemplo, e garantir que sejam sempre permitidos votos à distância, sem precisar dar as caras numa zona eleitoral. Uma receita pronta para a fraude perpétua, ainda que perto do nosso sistema o deles ainda pareça honesto como deve parecer a mulher de César. Convenhamos, contudo, que seria impossível convencer qualquer outro país que não, sei lá, a Coreia do Norte ou alguma ditadura africana a adotar um sistema tão simultaneamente opaco e frágil quanto o nosso.

Os cabeças do partido no poder nos EUA vêm eliminando no atacado os mecanismos que garantiam a prisão de criminosos agressivos, fazendo com que suba à estratosfera a criminalidade – mais ou menos o mesmo que aconteceria aqui se os crimes violentos passassem a ser tratados como os de dito menor potencial ofensivo, que não dão mais cadeia. Não duvido que tal mudança esteja nos planos da Facção do Xandão. Nos EUA, a lacração generalizada virou a lei e as opções sexuais e sócio-sexuais passaram a valer mais que a competência, com resultados mais que previsíveis. Alguém duvida que o mesmo ocorra aqui, ainda mais depois de quatro anos de acusações de “homofobia” diuturnamente direcionadas ao Bolsomandatário?

A exploração de hidrocarbonetos – e não há nem jamais houve outro país tão cultural e economicamente dependente deles que os EUA – foi manietada à beira da proibição, ao mesmo tempo em que se provocava uma guerra que prejudicou os sistemas de comércio exterior mundo afora, tornando os hidrocarbonetos muito mais escassos e portanto mais caros. Pela primeira vez na história, os gringos estão pagando preços brasileiros pelos combustíveis. O mesmo vale para uma multidão de produtos que os EUA não são mais capazes de fabricar, por ter sido exportada para a China a sua capacidade de produção industrial, e que agora os sucessivos pacotes de sanções contra este país tornam mais e mais caros – e isso enquanto ainda chegam aos portos de nossos irmãos do Norte.

O resultado é que um desabastecimento quase generalizado nos EUA, com gravíssimas rupturas das cadeias de abastecimento, está fazendo com que setores inteiros da economia estejam sendo sucateados; podemos esperar o mesmo aqui. Piorado ainda, aliás, pelas preferências ideológicas do PT, pela sua aliança com movimentos terroristas, pela praticamente certa brizolização (anulação prática) federal do combate ao tráfico de drogas e pela “genialidade” econômica de quem tem amigos que conseguiram falir não só a Argentina (essa é fácil) quanto a Venezuela, país petroleiro riquíssimo que hoje importa gasolina.

Tudo isso, lembro, piorado por ser o projeto dum tão governo cheio de ideias de jerico quanto desprovido de apoio político e entre as forças reais do país. Só o que o Xodó do Xandão tem é o Xandão, e isso enquanto não tentar mandar nele, e a Globo. Em outras palavras, só tem gogó e planos mirabolantes, porque a caneta pode até servir para escrever ordens mas não tem como garantir que sejam obedecidas. Antes mesmo da eleição a animosidade entre o STF e o Ministério Público já havia passado do limite do sustentável. Os abusos do Mussolini de fancaria conseguiram provocar guerra aberta com a PRF durante a eleição. A própria PF, ainda que tendo em seu interior algumas facções ideologicamente próximas ao PT, já está majoritariamente incomodada com a perspectiva de ir dormir força policial de país democrático e acordar KGB. As polícias estaduais são esmagadoramente compostas de gente no mínimo conservadora, e em muitos casos abertamente direitista, que dificilmente colaborará mais que o estritamente necessário com quaisquer “orientações” oriundas de Brasília. E, mais ainda, a extremamente provável brizolização aumentará a indignação dos briosos membros das forças de segurança. As Forças Armadas, vendo no horizonte apenas seu desmanche, talvez criem a hombridade que lhes faltou enquanto se preparava o golpe que a democracia acaba de sofrer e escolham às boas aparências para inglês ver a democracia real, que se baseia no respeito à vontade do povo, não do PCC. Mais ainda: percebendo como inimigos essas forças e as forças economicamente produtivas – tanto por razões ideológicas pela simples constatação de que os donos da caneta conseguiram pisar nos calos de praticamente todo mundo que importa –, é previsível que o Escolhido do TSE venha a atacar sistematicamente todos os seus “inimigos” percebidos, causando o naufrágio da economia e da ordem social brasileiras.

Em suma: nossa única esperança é que tanta coisa que tem tudo para dar errado, exercendo pressão conjunta, leve a um fim precoce esta nova tentativa de eliminar a frágil flor da democracia, que tão pouco pôde viver por aqui. Depois da farsa de domingo passado, e mais ainda depois de ter sido deixado barato o estupro da democracia e de se ter preferido a ela uma “democracia pra inglês ver” tão verdadeira quanto um sorriso de político, o que se tem é apenas a esperança de que ocorra o mais brevemente possível algo como o impeachment da Escolhida anterior, levando a um fim rápido tal desgoverno.

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