

O Profeta é o filme francês mais premiado do último ano.
Dizem ser um ótimo sinal quando a arte começa a se ocupar de problemas políticos e sociais de um país, usando-os como parte importante, essencial, de obras de ficção. Não sob a forma de panfletos ideológicos, mas de bons livros, peças de teatro e filmes, que retratam e discutem a realidade.
O Festival Varilux de Cinema Francês, que vai até 10 de junho em nove capitais brasileiras, incluindo Curitiba, traz alguns exemplos interessantes de como esse diálogo com a vida real e suas mazelas pode ser profícuo.
Dentre os dez longas-metragens da mostra, que terá sessões diárias no Unibanco Crystal (leia box com a programação completa), dois deles, os mais premiados da seleção, buscam virar do avesso a França contemporânea, tocando suas feridas: O Profeta, de Jacques Audiard, e O Dia da Saia, de Jean-Paul Lilienfeld.
Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes (2009), indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e do César, principal honraria do cinema francês, em nove categorias, O Profeta é uma obra perturbadora e hipnótica. Pode ser descrito, de certa forma, como um romance cinematográfico de formação – de um criminoso. No caso, de Malik, jovem de origem árabe que, para não morrer numa prisão francesa, se torna subalterno e protegido de uma gangue de chefões do crime organizado da Córsega, que cumprem pena na mesma instituição.
Interpretado por um brilhante Tahar Rahim – César de melhor ator e de ator revelação –, Malik é retratado como um delinquente, pobre e excluído em decorrência de sua condição de imigrante, que aos poucos cresce e aparece. Vira cachorro grande da contravenção.
De certa forma, o título O Profeta ganha uma conotação algo irônica, já que o filme não discorre sobre religião alguma. O protagonista parece anunciar um novo tipo de criminoso, gerado em uma sociedade hoje multicultural, mas ainda incapaz de lidar plenamente com a alteridade e suas consequências. Moderno e original,é um filmaço.
Entre os muros da escola
Essa relação conflituosa com a diversidade étnica, cultural e religiosa também é o tema central de O Dia da Saia
Também integram a programação do festival o cult
Outro ponto alto da mostra é Hadewijch, de Bruno Dumont, um dos mais originais e vigorosos diretores da atualidade. O filme gira em torno de Céline, uma jovem aspirante a freira que vê sua fé qustionada ao demonstrar um fervor além da conta, subversivo em certa medida. Essa postura a leva de volta ao mundo, fora dos limites do convento, onde ela empreende uma jornada ao mesmo tempo mística e existencial, confrontando suas crenças com as de outros.
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