Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo

Gran Torino: Clint Eastwood duela com Dirty Harry

Divulgação
Clint Eastwood: faroeste bom é com ele…

Há filmes capazes de atingir várias faixas de público e por razões bastante distintas. Gran Torino, longa-metragem de Clint Eastwood que estreia hoje no Brasil, pertence a essa categoria muito especial.

Em uma de suas melhores atuações na tela, Eastwood é Walt Kowalski, veterano da Guerra da Coreia que fica viúvo e descobre que o mundo ao seu redor se transformou – e muito. A vizinhança onde vive foi tomada por imigrantes asiáticos, cujos costumes o irritam. Ele é nacionalista ferrenho, daqueles que mantêm a bandeira norte-americana hasteada defronte à casa e desprezam tudo que ultrapassa as fronteiras do país. Tanto que guarda na garagem, como troféu, um Ford Gran Torino, modelo de carro que teve vida breve nos anos 1970, mas que para ele representa uma espécie de manifesto xenófobo contra a importação de modelos estrangeiros.

Emocionalmente distante dos filhos, homens feitos e casados, Walt quer que o esqueçam. Abraça a solidão bravamente. Mas a realidade o atropela quando seus vizinhos – uma família da etnia Hmong, oriunda do Laos – começam a ser ameaçados por uma gangue. Se primeiro os vê como inimigos, o ex-soldado passa a defendê-los, mesmo que a contragosto. Walt se aproxima de Sue (Ahney Her) e de seu irmão mais novo, Thao Vang Lor (Bee Vang), que, lentamente, lhe dão lições de tolerância.

Com um ótimo roteiro, Gran Torino pode ser visto como um eficiente drama com toques de ação. Prende a atenção do início ao fim com uma narrativa linear, fluente e sem grandes voos criativos. Isso explicaria o sucesso de bilheteria do filme nos EUA, onde já se aproxima dos US$ 150 milhões de renda. Também não deixa de ser um interessante painel da sociedade norte-americana no século 21, multiétnica e em constante processo de reinvenção. Aquela que levou Barack Obama ao poder e, de certa forma, vem povoando os filmes de Eastwood desde a década de 90.

O filme se torna mais interessante, no entanto, quando lido como uma obra metalinguística, um comentário sobre a jornada de Clint como ícone do cinema. Para quem acompanha a carreira do veterano cineasta e ator, é inevitável traçar um paralelo entre Walt Kowalski e seu personagem mais célebre, o truculento e sanguinário inspetor Harry Callahan.

Gran Torino marcaria, para muitos, a conversão definitiva ao pacifismo do astro que, entre os anos 70 e 90, estrelou a ultraviolenta série de longas policiais Dirty Harry – criticada por fazer apologia à Justiça a qualquer preço. Baseado no desfecho surpreendente e transcendente do mais recente trabalho de direção de Eastwood, essa hipótese ganha força e torna o filme uma obra bem mais instigante do que aparenta ser.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.