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O charme desproduzido do César, o “Oscar” francês

Divulgação
Yolande Moreau, que vive o personagem-título de Séraphine, ganhou o César de melhor atriz.

Apenas cinco dias depois da entrega do Oscar, a Academia Francesa de Artes e Técnicas Cinematográficas realizou, na sexta-feira passada, em Paris, a cerimônia de entrega do César, transmitida no Brasil pelo canal TV5, que, por sinal, tem uma excelente programação.

Comparar as duas festas é uma tentação, mas não seria muito justo, já que a premiação norte-americana é um evento mediático internacional, produzido como grande espetáculo para a televisão, com o objetivo de atrair um bilhão de espectadores ao redor do mundo. O César, não. É mais simples, muito menos ensaiado e, em alguns momentos, bem mais espontâneo e divertido.

Contrariando as expectativas, Séraphine, drama intimista dirigido pelo ainda pouco conhecido Martin Provost, foi o grande vencedor da noite, conquistando sete troféus, entre eles o de melhor filme.

O longa-metragem, que estreou em outubro na França e continua em cartaz, conta a história real da francesa Séraphine de Senlis, uma mulher nascida em 1864 que foi pastora de ovelhas e dona de casa antes de virar pintora e, depois, enlouquecer.

Yolande Moreau, que vive o personagem título, ganhou o César de melhor atriz. Séraphine venceu também nas categorias de roteiro original, fotografia, trilha sonora, figurino e direção de arte.

A atríz, belga de nascimento e residente na região da Normandia, fez um dos discursos mais inspirados e divertidos da noite, convidando outros diretores a se mudarem para o norte da França, onde mora. “Assim não vão faltar papéis para mim. Martin é praticamente meu vizinho. Um dia ele apareceu na minha casa com a história de Séraphine e tudo aconteceu”, contou a atriz.

O humor não-roteirizado, espontâneo, dos discursos deu o tom à cerimônia. Um exemplo: Elsa Zylberstein, melhor atriz coadjuvante por Il y a Longtemps Que Je T’aime, chorou, falou até não poder mais, agradeceu seu prêmio a Deus e o mundo e até a Sean Penn, presente na plateia por dois motivos: competia a melhor filme estrangeiro com Na Natureza Selvagem (perdeu para o israelense Valsa para Bashir) e iria apresentar o prêmio de melhor filme, o principal da noite. “I love you, Sean”, disse Elsa, em inglês. Foi a primeira a se derramar diante do ator, mas não a última.

Sentado na primeira fila, Penn, Oscar 2009 de melhor ator por Milk – A Voz da Igualdade, foi saudado por inúmeros premiados e apresentadores. Assim como seu conterrâneo Dustin Hoffman, que recebeu o César honorário das mãos de Emma Thompson, sua companheira no recente filme Last Chance Harvey.

A britânica o apresentou num francês perfeito, contando como foi seu (cômico) primeiro encontro com o veterano ator de Perdidos na Noite. “Eu estava explodindo por dentro, mas, por fora, mantive a dignidade, como uma boa inglesa”, contou Emma, que minutos mais tarde voltaria ao palco, correndo, ao perceber que o vestido tomara-que-caia de uma apresentadora já deixava um seio à mostra – Thompson milita contra o uso abusivo da nudez feminina na mídia.Sobre seu prêmio especial, Hoffman fez um discurso algo enigmático: “Há um cadáver em cada um de nós: a pessoa que podemos ser potencialmente, mas que nunca seremos”, disse Hoffman ao receber seu troféu, acrescentando que tudo o que sabe fazer é “dar vida a esse cadáver”.

Favorito

A vitória de Séraphine foi inesperada. O favorito da noite era outro: Mesrine, filme de gângsteres indicado em dez categorias. Jean-François Richet venceu como melhor diretor e Vincent Cassel – que rodou no Brasil o novo filme de Heitor Dahlia (de Cheiro do Ralo), À Deriva –, melhor Ator.

O longa, que levou também o prêmio de melhor som, conta outra história real: a vida de Jacques Mesrine, assassino, ladrão e contrabandista considerado o “inimigo público número um” da França nos anos 1970 e protagonista de fugas espetaculares de prisões em vários países.

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