

Tom Cruise: herói do olho de vidro.
Em Operação Valquíria, um grave defeito e uma inegável qualidade interagem e se digladiam da primeira à última cena. A competente direção de Bryan Singer (de Os Suspeitos) busca compensar a superficialidade e a falta de originalidade do roteiro, assinado por Christopher McQuarrie (vencedor do Oscar por Os Suspeitos) e Nathan Alexander.
A história do coronel Claus Graf von Stauffenberg parece ter sido recriada para se moldar à persona pública de Tom Cruise, ator que o interpreta no filme. Militar alemão que liderou o último atentado contra a vida de Adolf Hiltler, que suicidou-se nove meses mais tarde, o personagem materializa-se de maneira unidimensional. É corajoso, pai de família amantíssimo, abnegado e incapaz de compactuar com as forças do mal. Ou seja, um herói idealizado.
A opção por não problematizar von Stauffenberg, negando-lhe qualquer complexidade psicológica ou ambiguidade, torna Operação Valquíria um filme de guerra trivial. É visualmente bonito, emocionante em alguns momentos — sobretudo a partir da tentativa de assassinato de Hitler –, mas que pouco ou nada explica sobre as motivações do oficial nazista ou a respeito de quem ele tenha sido, de fato.
O máximo que conseguimos descobrir de mais perculiar sobre von Stauffenberg é que usava um tapa-olho e, em situações oficiais, colocava uma prótese, que guardava num pequeno recipiente metálico. Gravamente ferido em combate na África, o coronel perdeu uma das maõs, três dedos da outra e um dos globos oculares.
Cercado de coadjuvantes de peso, como os britânicos Kenneth Branagh, Bill Nighy e Tom Wilkinson, o astro reina absoluto. Se von Stauffenberg não passa de um esboço de personagem, os demais entram e saem de cena como fantasmas genéricos.



