Se você for assistir a Piaf Um Hino ao Amor, leve uma caixa de Kleenex. O filme é deliciosamente triste, catártico mesmo. A vida da cantora, um dos maiores símbolos da cultura francesa, foi uma sucessão de tragédias. Ela teve uma infância muito pobre e doente; foi abandonada, sucessivamente, pela mãe e pelo pai, e passou alguns anos em um bordel, administrado pela avó cefetina. Já adulta, amargou inúmeras perdas e revezes, mas também conheceu a fama e a adoração de fãs em todo o mundo, sobretudo na França.
Correto, porém convencional na forma, Piaf – Um Hino ao Amor não tem um grande roteiro, pelo contrário. Alguns acontecimentos-chave na história da cantora são muito mal explicados, como o assassinato do agente que a descobre, vivido por Gérard Depardieu. Ou a relação da cantora com um jovem americano, ao lado do qual mergulha no vício da morfina e sofre um grave acidente automobilístico.
Em momento algum o filme se preocupa em dar tridimensionalidade a vários dos personagens importantes na vida da artista. E isso é uma falha grave que quase compromete o todo. Quase.
Como compensação, Piaf reserva ao espectador um dos melhores trabalhos de interpretação de um ator ou atriz nos últimos anos. Marion Cotillard, que eu só conhecia de Um Bom Ano, no qual contracena com Russell Crowe, e dos filmes da série francesa Taxi, é maravilhosa. Nenhum desses trabalhos deixava antever o espetacular trabalho da atriz no papel da cantora francesa. Ela é Piaf – da juventude pobre à decrepitude precoce que antecede sua morte.
O desempenho de Cotillard, um minucioso trabalho de reconstituição de época,a direção de arte e de fotografia, sem falar da trilha sonora, fazem do filme, falho em alguns quesitos, um programa mais do que satisfatório. E emocionante de doer.



