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Disputa pelo Nobel da Paz tem Lula, o Papa, Trump e ativista ambiental
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A mobilização internacional para indicar Lula ao Prêmio Nobel da Paz de 2019 colocou o nome do ex-presidente em destaque, mas se os sites de apostas estiverem certos o brasileiro está longe de ser favorito. A primeira colocada é a líder ambientalista Greta Thunberg, adolescente sueca de 16 anos que ficou conhecida em todo o mundo depois de liderar um movimento nas escolas denominado Greve da Juventude pelo Clima. Também aparecem nas primeiras posições o Papa Francisco, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a chanceler alemã Angela Merkel e a organização Repórteres Sem Fronteiras.

O comitê não divulga nomes de indicados. Os organizadores confirmaram apenas que 301 indicações foram aceitas para concorrer ao Nobel da Paz 2019. São 223 pessoas e 78 organizações. Segundo o comitê, especulações sobre possíveis vencedores “não passam de adivinhação”. Caso se repita o que ocorreu na maioria dos anos anteriores, o comitê tem razão: geralmente os nomes mais especulados não vencem.

Sigilo de 50 anos

O Comitê do Nobel não anuncia os nomes dos indicados, nem para a mídia nem para os próprios candidatos. As informações no banco de dados de nomeações do Comitê são mantidas em sigilo durante 50 anos.

A menina Greta Thunberg ganhou destaque em todo o mundo desde quando iniciou um movimento de greve nas escolas em defesa do meio ambiente. Foto: Nicholas Kamm
A menina Greta Thunberg ganhou destaque em todo o mundo desde quando iniciou um movimento de greve nas escolas em defesa do meio ambiente. Foto: Nicholas Kamm| AFP

Apesar da surpresa ter sido a tônica de muitas decisões dos jurados do prêmio, a cada dia cresce o apoio a Greta Thunberg (veja o perfil, abaixo). A indicação da ativista foi feita pelo deputado norueguês Freddy André Øvstegård e recebeu apoio em vários países. “Propusemos o nome de Greta Thunberg porque se não fizermos nada para deter a mudança climática, ela será a causa de guerras, conflitos e refugiados ”, disse Øvstegård.

A segunda campanha mais badalada é de Lula. Uma petição na internet pela escolha do ex-presidente contabilizava mais de 650 mil assinaturas na quinta-feira (19). O abaixo assinado é uma iniciativa de Adolfo Pérez Esquivel, arquiteto, escultor e ativista de direitos humanos argentino, vencedor do Nobel da Paz de 1980. Assinam o documento outros vencedores do prêmio, como o egípcio Mohamed El-Bardei, ganhador em 2005, e o Quarteto de Diálogo Nacional da Tunísia – formado por quatro organizações tunisianas –, galardoado em 2015. A lista inclui também celebridades, como o ator Danny Glover, a ativista norte-americana Angela Davis e o linguista, filósofo e ativista político Noam Chomsky. Há ainda apoio de veículos de comunicação, como o jornal francês l’Humanité.

Abaixo assinado em apoio ao nome de Lula tem mais de 650 mil nomes.
Abaixo assinado em apoio ao nome de Lula tem mais de 650 mil nomes.| Ricardo Stuckert

No manifesto de indicação do brasileiro, Esquivel cita iniciativas encampadas pelo ex-presidente que contribuíram para a paz mundial, como os programas Fome Zero e Bolsa Família, inspiraram programas de combate à miséria ao redor do mundo.

Além de Lula, um outro brasileiro – esse menos conhecido – tem seu nome indicado. Pela segunda vez, Luiz Gabriel Tiago foi indicado ao Nobel da Paz. Conhecido como o Senhor Gentileza, Tiago foi nomeado pelo trabalho que desenvolve há dez anos como fundador da empresa social Pontinho de Luz, sediada em Niterói, que movimenta uma rede de solidariedade com mais de 100 mil pessoas.

O grupo liderado pelo Senhor Gentileza é responsável por ações sociais em várias regiões do Brasil e em países como Irã, Índia, Iêmen e Uganda. O objetivo do Pontinho de Luz é tirar as pessoas da miséria e matar a fome, levar um pouco de amor e carinho para quem vive à margem da sociedade. A indicação de Tiago foi feita pelo professor Carlos Ferrara Junior, pró-reitor acadêmico do Centro Universitário São Camilo (SP).

Governo dos Estados Unidos teria pedido  ao premiê do Japão, Shinzo Abe, a indicação de Trump. Foto: Saul Loeb
Governo dos Estados Unidos teria pedido ao premiê do Japão, Shinzo Abe, a indicação de Trump. Foto: Saul Loeb | AFP

Polêmica

A nomeação de Trump causou polêmica depois que veio a público, em fevereiro deste ano, que foi feita a pedido do governo norte-americano ao premiê do Japão, Shinzo Abe. O líder japonês entregou a Trump a cópia de uma carta de candidatura de cinco páginas em que destaca o empenho do presidente dos EUA para abrir negociações e aliviar tensões com a Coréia do Norte, segundo informações divulgadas pelo jornal Asahi Shimbun. O governo japonês e a Casa Branca não comentaram a reportagem, mas o próprio Trump confirmou a indicação.

O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-In, manifestou apoio a Trump assim que a candidatura foi revelada. “O presidente Trump deveria ganhar um prêmio Nobel da Paz. O que precisamos é apenas de paz”, disse Moon, que busca pacificar as relações com a Coréia do Norte.

A expectativa em torno do prêmio seria um dos motivos que levaram Trump a adotar tom mais moderado nas suas intervenções internacionais. A nova postura do governo dos EUA e a busca de negociações com o governo de Nicolás Maduro, da Venezuela, são sinais dessa fase mais moderada do líder norte-americano, que enfrenta dura oposição interna e em vários países.

Papa Francisco foi indicado em todos os anos desde que substituiu  Bento XVI, em 2013.  Foto: Tiziana Fabi
Papa Francisco foi indicado em todos os anos desde que substituiu Bento XVI, em 2013. Foto: Tiziana Fabi| AFP

Dos nomes que despontam como favoritos nas casas de aposta, o Papa Francisco é o que mais vezes foi indicado. Desde que sucedeu o Papa Bento XVI, em 2013, ele aparece como favorito sucessivamente em todos os anos. Francisco se converteu em forte concorrente por sua mediação e pacificação de conflitos, além da atuação pela erradicação da pobreza, a atenção aos mais necessitados e o cuidado com o meio ambiente. A intermediação para o restabelecimento das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba, após mais de 50 anos de ruptura, é um exemplo da atuação do Papa.

Concorrentes em destaque

  • Greta Thunberg
  • Papa Francisco
  • Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur)
  • Angela Merkel
  • União Americana pelas Liberdades Civis
  • Repórteres Sem Fronteiras
  • Donald Trump
  • Emmanuel Macron
  • Edward Snowden
  • Julian Assange
  • Alexis Tsipras

A menina que mobiliza jovens em todo o mundo

No último dia 28 de agosto a adolescente Greta Thunberg chegou a Nova York após duas semanas no mar a bordo de um veleiro “sustentável", com painéis solares e turbinas que produzem eletricidade. Ela se recusou a viajar de avião por causa das emissões de carbono geradas pela queima de combustível. Nos Estados Unidos foi recebida por um grupo de 17 barcos, que simbolizam cada um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, um conjunto de metas globais estabelecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

A travessia do Atlântico em um barco de emissão zero de poluentes para participar da Cúpula de Ação Climática da ONU é um feito suficiente para mostrar a importância que a jovem sueca ganhou no movimento ambientalista internacional e a consequente indicação de seu nome ao Nobel da Paz. Tudo começou em 2018, quando ela decidiu fazer um protesto solitário: faltar às aulas todas as sextas-feiras para protestar em frente do parlamento sueco em defesa do clima. A manifestação logo se espalhou e influenciou milhares de estudantes a fazerem greve às sextas-feiras para chamar a atenção às mudanças climáticas. O movimento ganhou força e resultou em paralisações em 161 países. Uma das manifestações, em 15 de março deste ano, reuniu mais de 1,6 milhão de estudantes. No último dia 20, novamente reuniu milhões de jovens.

Neste mês, Greta foi a Washington e participou de uma pequena manifestação sobre o clima em frente à Casa Branca. Na capital norte-americana ela recebeu vários prêmios, incluindo um da Anistia Internacional e uma visita ao Congresso.

Aos 11 anos de idade, Greta foi diagnosticada com autismo e Síndrome de Asperger, um transtorno neurobiológico que altera a forma como o paciente percebe o mundo e interage com outras pessoas. Na escola, se por um lado ela chamava a atenção por ter memória acima da média, por outro, sofria por apresentar dificuldade em manter conversas com colegas.

Depois de ouvir os professores falarem em sala de aula sobre os riscos provocados pelo aquecimento global, Greta diz que começou a se preocupar com as mudanças climáticas. Pesquisou o assunto e concluiu que existem evidências científicas claras a respeito do aumento da temperatura do planeta. Preocupada, partiu para a ação, apesar da pouca idade.

Hoje, com 16 anos, a menina que às vezes era debochada na escola já discursou na ONU, no fórum de Davos e no Parlamento britânico e foi recebida pelo Papa Francisco. Em suas manifestações cobra ações concretas que garantam a redução global das emissões de gases poluentes em 50% dentro de vinte anos.

A jovem sueca conseguiu convencer os pais comprarem um carro elétrico e suas viagens terrestres são feitas de trem elétrico ou de automóvel que não utilize combustíveis fósseis. Recentemente Greta lançou um livro de sua autoria, No One is Too Small to Make a Difference [Ninguém é pequeno demais para fazer a diferença], que reúne seus discursos em defesa do meio ambiente.

Diante das críticas sobre o suposto uso de adolescentes em causas políticas, líderes e organizações de todo o mundo saíram em defesa da atuação de Greta. "Muitas vezes dizem às crianças que elas são 'líderes de amanhã'. Mas se eles esperarem até 'amanhã', pode não haver futuro para liderar ”, disse o chefe da Anistia Internacional, Kumi Naidoo, por ocasião da indicação de menina sueca ao Nobel da Paz.

Raoni em 2020

Raoni foi citado por Bolsonaro, que falou à ONU
Cacique Raoni Metuktiree foi indicato por grupo de antropólogos e ambientalistas. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado| Edilson Rodrigues/Agência Senad

Um grupo de antropólogos e ambientalistas brasileiros indicou o cacique Raoni para o Nobel da Paz de 2020. A proposta é liderada pela Fundação Darcy Ribeiro, que também enviou uma carta ao presidente francês, Emmanuel Macron, para que este apoie a nomeação. Chefe indígena da etnia Caiapó, Raoni tem 89 anos e ficou conhecido internacionalmente nos anos 80, ao lado do músico e ambientalista Sting.

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