Não é a China nem um ‘tigre asiático’ que em plena pandemia de coronavírus será um dos poucos países do mundo a ter crescimento econômico em 2020. A República Cooperativa da Guiana, popularmente conhecida como Guiana e que faz fronteira com o Brasil (Roraima e Amazonas), deve ter uma expansão de mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Estas são as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, apesar de consideradas exageradas.
Pelas estimativas do FMI, a economia do pequeno país do norte da América do Sul – até pouco tempo atrás uma colônia britânica – vai crescer 52,8% em 2020. O Banco Mundial, em suas ‘perspectivas econômicas globais’, prevê uma expansão econômica semelhante, de 51,1%.
As projeções podem parecer fora da realidade – e são classificadas como exagero por vários analistas –, mas já foram mais otimistas. Antes da declaração da pandemia global, em janeiro deste ano, o FMI chegou a projetar um crescimento de 86%, ou seja, o PIB da Guiana quase dobraria em um ano.
O analista econômico Joel Bhagwandin, que desde 2012 estuda a economia da Guiana, considerou superestimada a projeção do FMI. Entre as razões da avaliação feita por ele estão o acirramento da disputa política no país, que acabou de sair de uma tumultuada eleição presidencial, e a possibilidade de agravamento da pandemia de coronavírus. Assim mesmo, Bhagwandin não descarta um crescimento vigoroso.
A base das projeções do FMI e do Banco Mundial é a exploração da imensa reserva de petróleo descoberta no país, no entanto, com a forte queda dos preços internacionais do combustível fóssil não se sabe se tais estimativas serão mantidas nos próximos relatórios. As atividades comerciais caíram em mais de 60% no país após a pandemia.
Independentemente dos cenários, empresas de energia como Exxon Mobil Corp, Hess Corporation, CNOOC Ltd. da China e Tullow Oil Plc estão investindo bilhões de dólares lá para garantir participação na exploração de uma reserva estimada em mais de 8 bilhões de barris de petróleo. A previsão é que, em poucos anos, a Guiana chegaria a produzir 1 milhão de barris por dia.
Esses números podem não ser tão significativos para uma economia como a do Brasil – a produção brasileira de petróleo supera hoje os 2,7 milhões de barris/dia –, que tem uma população de mais de 200 milhões de habitantes, mas para a Guiana teriam potencial para provocar uma explosão de crescimento.
Único país sul-americano que tem a língua inglesa como oficial, a Guiana tem menos de 800 mil habitantes, comparável à população de cidades como São Bernardo do Campo, em São Paulo, e João Pessoa, capital da Paraíba. O PIB do país ficou abaixo de US$ 4 bilhões em 2019. Para um crescimento próximo de 50%, como preveem FMI e Banco Mundial, bastaria um acréscimo de US$ 2 bilhões. Isso elevaria a renda per capita dos guianenses (ou guianeses) dos cerca de US$ 5 mil hoje para próximo de US$ 8 mil no começo de 2021.
Mesmo que a tensão política e a crise do coronavírus atrapalhem o crescimento da Guiana – além da revisão para baixo que já foi feita e possíveis novas revisões negativas –, a avaliação é que, futuramente, quando a crise da pandemia for superada, a economia do pequeno país vai sofrer forte expansão. Há prognósticos dos mais variados, muitos deles considerados altamente exagerados. Em novembro do ano passado, o embaixador americano na Guiana, Perry Helloway, previu que em 2025 o PIB do país sul-americano vai crescer mais de 300%. Nessa estimativa, a Guiana passaria a ter a maior renda per capita da região e seria o primeiro país da América do Sul a entrar no clube dos ricos.
A grande questão que se coloca neste momento de euforia com a descoberta e o início das explorações de combustível fóssil, com grandes investimentos internacionais, é se a Guiana conseguirá evitar a chamada "maldição do petróleo" e garantir que sua nova riqueza beneficie todos os guianenses.
Experiências do passado recente mostram que nem sempre a riqueza do petróleo livra países da pobreza. Especialistas alertaram sobre a chamada "maldição de recursos". Má administração das receitas, corrupção, autoritarismo e toda uma série de doenças sociais são marcas de alguns países que descobriram grandes reservas de petróleo e continuam pobres.
Outro risco é a chamada ‘petróleo dependência’, em que países produtores de combustível fóssil concentram a economia numa única fonte de renda. A Venezuela, dona da maior reserva de petróleo do mundo, é um exemplo. Durante décadas a fio a economia do país teve o petróleo como praticamente única fonte de divisas internacionais. Hoje, com os preços no chão e a indústria petroleira sucateada, a Venezuela está mergulhada em grave crise econômica e social.
Outro exemplo é a República de Nauru, localizada na Oceania. A pequena ilha no sul do Oceano Pacífico era até pouco tempo a economia que mais crescia na Terra. A fonte era nada mais que cocô de pássaro. A riqueza do país se sustentava no guano fossilizado de aves, um fertilizante excepcional. Agora, o suprimento de guano quase acabou por completo e Nauru enfrenta uma grande ruína financeira.
A torcida é que o maldito ‘cocô de pássaro’ descoberto na Guiana, o petróleo abundante, não acabe em miséria de sua população.
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