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Pesquisadores correm para desenvolver vacina contra o coronavírus
| Foto: Divulgação/ECDC

Desde que o surto de coronavírus se espalhou pela China, cientistas de várias partes do mundo começaram uma corrida contra o tempo para criar uma vacina que possa proteger as pessoas. Hoje já se tem conhecimento de mais de duas dezenas de trabalhos em andamento – muitos deles em estágio adiantado – para desenvolver essa “arma” contra um inimigo que ninguém vê a olho nu, mas que já matou mais de 4 mil pessoas em todo o planeta e avança fronteiras, com presença registrada em mais de 100 países.

Apesar dos esforços de pesquisadores da área de saúde, instituições públicas e privadas e de governos, a previsão é que uma vacina para barrar a pandemia não estará disponível para a população antes do primeiro trimestre do próximo ano. Isso para as previsões mais otimistas. Algumas cientistas chegam a afirmar que, para ter uma “arma poderosa e segura” seriam necessários pelo menos 18 meses.

Entre os mais cautelosos nas previsões está o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom. Ele prevê que somente no segundo semestre de 2021 o mundo terá uma vacina segura contra a covid-19. Para isso, a OMS pediu um investimento internacional de mais de 670 milhões de dólares para as pesquisas.

O médico norte-americano Anthony Stephen Fauci, pesquisador e chefe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid) e que desenvolveu vasto trabalho nas pesquisas sobre Aids e outras imunodeficiências, é mais otimista quanto a prazos, mas admite que em menos de 12 meses não tem como oferecer às pessoas uma vacina segura.

Por que é tão demorado produzir uma vacina

Diante de previsões tão distante para uma realidade que apavora as pessoas – em muitos países, como na Itália, já não se pode nem sair mais de casa para evitar o contágio –, uma pergunta que logo vem à cabeça é: por que demora tanto desenvolver uma vacina sendo que já existem muitas outras vacinas eficientes contra grande variedade de vírus?

O médico americano Nelson Michael, pesquisador do Instituto de Pesquisa Walter Reed Army - do Exército dos EUA - e que esteve diretamente envolvido no desenvolvimento de pesquisas relacionadas a diversas doenças, como ebola e zika, tem explicado a vários veículos de comunicação os motivos pelo qual é preciso tempo para colocar uma nova vacina à disposição das pessoas.

“É preciso garantir que a nova vacina seja realmente segura. Se você testar a vacina em mil pessoas, mas uma em cada 10 mil pessoas sofrer algo terrível, isso poderá levar a campanhas de vacinação em massa com uma vacina que pode causar quantidade significativa de problemas”, observa o doutor Michael.

Muitos dos centros de pesquisa que estão em busca da “arma” contra a covid-19 já desenvolveram um protótipo de vacina. Mas até uma delas estar disponível para a população há um longo caminho a ser percorrido, apesar de a velocidade dos avanços com a tecnologia e o conhecimento dos dias atuais serem muito maior que em épocas anteriores.

Uma nova vacina terá que ser testada em animais primeiro e depois em pequenos grupos de humanos, para em seguida fazer o teste em milhares de pessoas. Após essa fase, terá que passar pela aprovação regulamentar dos organismos públicos de saúde, um processo demorado, mas que pode ser acelerado, como foi feito para a vacina contra o ebola usada pela primeira vez na República Democrática do Congo.

Quem está na corrida pela vacina contra o coronavírus

A busca por uma vacina inclui fabricantes tradicionais de medicamentos e novas empresas de biotecnologia. Nesse rol constam nomes como Gilead Sciences (EUA), conhecida por desenvolver medicamento para hepatite C e que está atuando em Wuhan, o epicentro do coronavírus, na China; a britânica GlaxoSmithKline, tradicional fabricante de vacinas, como a vacina contra HPV; a gigante americana Johnson & Johnson; a japonesa Takeda Pharmaceutical e a chinesa WuXi Biologics, de Xangai, entre muitas outras.

A startup americana Moderna Inc. tem se destacado nesse time.  A companhia já enviou um lote de vacina experimental para testes no Niaid. A Moderna levou apenas 42 dias para desenvolver o protótipo e já pensa em fazer os primeiros testes com pessoas em menos de dois meses. Na realidade, porém, mesmo que a vacina tenha eficiência, até estar pronta vai demorar um ano, admite Stephane Bancel, CEO da Moderna.

"Você não pode passar de 45 pessoas na Fase 1 de testes e saltar para vendê-la para milhões de pessoas. Você precisa garantir que a vacina esteja segura e eficiente. Há exigência de um nível muito alto de segurança", declarou Bancel em reportagem do jornal The Boston Globe.

Assim como a Moderna, outras empresas, a exemplo da alemã CureVac, estão desenvolvendo vacinas baseadas no “RNA mensageiro”, enquanto que outras, como a americana Inovio, usam tecnologia baseada em DNA.

Em reportagem do jornal Bangkok Post, Ooi Eng Eong, que integra a Coalizão de Inovações para a Preparação de Epidemias (Cepi, na sigla em inglês), criada em 2017 para financiar pesquisas caras de biotecnologia após o surto de Ebola, explica as vacinas baseadas em DNA e RNA usam a codificação genética do vírus para induzir as células do corpo a produzir proteínas idênticas às da superfície do patógeno. Com isso, o sistema imunológico aprende a reconhecer as proteínas para que esteja pronto para as encontrar e atacar o vírus quando ele entra no corpo.

Mas há um grande número de outras pesquisas com o emprego de metodologias e tecnologias diferentes. Cientistas franceses do Instituto Pasteur, por exemplo, estão modificando a vacina contra o sarampo para trabalhar contra o coronavírus. O método tradicional faz o isolamento do agente causador e a partir daí se trabalha em laboratório até que se consiga uma cepa atenuada do vírus. Ela não tem o mesmo poder de infecção e é suficiente para induzir o organismo da pessoa que toma a vacina a desenvolver uma proteção .

A China também anunciou que uma vacina experimental contra o coronavírus poderá ser testada em abril. A empresa chinesa de biotecnologia Clover Biopharmaceuticals fez parceria com a britânica GlaxoSmithKline para testar a vacina Covid-19 S-Trimer.

Uma equipe liderada pelo pesquisador Robin Shattock, do Departamento de Doenças Infecciosas do Imperial College de Londres, desenvolveu uma vacina experimental dentro de 14 dias após ter obtido a sequenciamento do Covid-19. Os pesquisadores estão testando a vacina em animais desde 10 de fevereiro e esperam passar para ensaios clínicos no verão.

Outras limitações

Além das pesquisas e desenvolvimento do novo medicamento, outro obstáculo é a distribuição. Seria necessário um prazo de meses para que a nova vacina seja transportada com segurança a hospitais, postos de saúde, farmácias.

Também haverá limitação da produção e teria que ser definidos grupos prioritários – populações-chave – para receber a nova vacina. Antes de qualquer programa nacional de vacinação, autoridades de saúde ressaltam que deveriam ser vacinados trabalhadores da saúde, grupos vulneráveis e outras pessoas que tiverem contato com pacientes afetados.

E há ainda quem levanta a hipótese de – em caso de não ser disponibilizada inicialmente vacina em quantidade suficiente – haver o risco de somente as populações de países ricos terem acesso à imunização.

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