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Rob Schneider fez uma piada. E, como toda boa piada, ela diz verdades incômodas. “Gostaria de agradecer sinceramente aos estúdios Disney por acabar de forma decisiva com o 'woke' em Hollywood”, escreveu o comediante. Em seguida, desejou “boa sorte em seus novos empregos fora da indústria do entretenimento” aos executivos envolvidos. Ele falava do live-action de Branca de Neve e o que parecia sarcasmo virou profecia.
O filme da Disney, foi lançado sob forte expectativa e terminou soterrado por seu próprio peso ideológico. O fracasso comercial foi apenas o sintoma mais visível. O filme arrecadou US$ 87 milhões na estreia global, abaixo das projeções mais conservadoras, e bem distante de outros sucessos do estúdio como A Bela e a Fera e Aladdin. Não foi falta de marketing. Foi excesso de panfletagem ideológica.
Com notas baixíssimas em sites como o IMDb, e uma avaliação mista na crítica especializada, o filme passou a ser apontado como um marco do fracasso do modelo woke. Um modelo que tenta impor uma agenda identitária, mas se recusa a entender o público que consome cultura
A Disney acreditou que poderia reinventar um clássico de 85 anos destruindo o que havia nele de mais simbólico. Branca de Neve foi transformada em porta-voz de um discurso que despreza a história que a consagrou. Rachel Zegler, a atriz escolhida para o papel principal, fez questão de anunciar que a Branca de Neve original era passiva e dependente, e que a nova não precisava de príncipe. As críticas não partiram apenas de conservadores: muitos fãs de longa data acusaram a atriz de desrespeitar a memória afetiva da obra.
Como se não bastasse, o filme decidiu substituir os sete anões por criaturas mágicas feitas em CGI. Um gesto que parecia sinalizar “inclusão”, mas acabou sendo interpretado como desrespeito ao original e confusão conceitual. A identidade do conto foi diluída em uma sopa de virtudes artificiais. Nos bastidores, a situação foi agravada por uma sequência de decisões e declarações da própria protagonista. Rachel Zegler se posicionou a favor da Palestina com um post que viralizou: “And always remember, free Palestine”. A publicação foi feita durante a promoção do filme e gerou grande controvérsia.
Embora Gal Gadot, que interpreta a Rainha Má, não tenha feito nenhuma declaração política no contexto do filme, sua identidade pública acabou sendo arrastada para o centro da discussão. Gadot é israelense, neta de sobreviventes do Holocausto — incluindo um avô que sobreviveu a Auschwitz — e serviu por dois anos no exército de Israel. Apesar disso, limitou-se a pedir a volta dos reféns capturados pelo Hamas e jamais falou sobre o conflito durante a divulgação do filme.
Mesmo assim, as redes sociais passaram a associá-la ao debate promovido por Zegler, e Gadot passou a sofrer ameaças de morte. A situação chegou a tal ponto que a Disney precisou contratar seguranças para protegê-la. Mãe de quatro filhos, Gal Gadot foi colocada em risco por uma colega de elenco que, mesmo alertada pelos produtores, se recusou a apagar a postagem.
E houve mais. Zegler atacou Donald Trump e seus eleitores em termos agressivos: “F--- Donald Trump” e “May Trump supporters and Trump voters and Trump himself never know peace” (“Que os apoiadores e eleitores de Trump, além do próprio Trump, nunca tenham paz.”). A repercussão foi tão negativa que ela precisou pedir desculpas publicamente. Mas o estrago à imagem do filme já estava feito.
As redes sociais, claro, não perdoaram. A comparação entre Rachel Zegler e Gal Gadot virou meme: “Em que universo paralelo Gal Gadot ficaria obcecada pela aparência de Rachel Zegler?”. A beleza sempre foi um dos pilares da narrativa clássica: a inveja da Rainha não é apenas simbólica, é visual. A inversão dessa lógica fez o público questionar a verossimilhança até dentro do próprio universo de conto de fadas.
Com notas baixíssimas em sites como o IMDb, e uma avaliação mista na crítica especializada, o filme passou a ser apontado como um marco do fracasso do modelo woke. Um modelo que tenta impor uma agenda identitária, mas se recusa a entender o público que consome cultura. O resultado é uma distância crescente entre a produção de Hollywood e os espectadores comuns, que buscam histórias bem contadas, não sermões ideológicos.
A ironia final é que a piada de Rob Schneider parece ter mesmo se concretizado. Branca de Neve não apenas falhou como filme, mas se tornou um símbolo do esgotamento de uma estética moralista que se impõe sobre a arte. Ao tentar moldar um conto clássico para agradar a militância, a Disney acabou produzindo um fracasso de bilheteria, uma tempestade de memes e um estudo de caso sobre o que não fazer no cinema.
No fim, o grande mérito de Branca de Neve foi mesmo esse: ter ajudado a enterrar o projeto cultural woke. A arte sobrevive. Quem não sobreviveu foi a farsa que tentou destruí-la.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos





