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Gregorio Duvivier discute a relação em Apenas o Fim

Dois jovens, apaixonados ou não, percorrem ruas, praças e parques conversando despretensiosamente sobre a vida e os sentimentos que sustentam um em relação ao outro. Sabemos pouco sobre eles, mas inevitavelmente fazemos a pergunta fatídica: ficarão juntos ao final? Onde levará essa conversa toda?

Você provavelmente já viu esse filme, ou melhor, estes filmes, já que a descrição poderia servir para falar de Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol, de Richard Linklater já falei sobre as produções aqui no blog. Mas a sinopse acima também se encaixa bem em outra produção mais recente, que visivelmente bebe da fonte da saga de Jesse e Celine: o nacional Apenas o Fim (2008), escrito e dirigido por Matheus Souza.

A produção ganhou ano passado o Prêmio Netflix, uma ação do serviço de streaming em parceria com o Festival do Rio e o Curta Kinoforum, e conquistou o privilégio de constar no catálogo internacional da plataforma. A escolha foi feita por meio de votação popular. O filme é protagonizado pelo comediante Gregorio Duvivier (bem antes de virar figurinha carimbada com o Porta dos Fundos) e por Erika Mader.

Gregorio Duvivier e Erika Mader interpretam um casal apaixonado... mas nem tanto.

Gregorio Duvivier e Erika Mader interpretam um casal apaixonado… mas nem tanto. (Foto: Divulgação)

A premissa é interessante. Um rapaz (vivido por Duvivier) recebe a notícia de que sua namorada (a personagem de Erika) está indo embora, assim, do nada, e terá apenas mais uma hora para passar ao lado da garota antes que o relacionamento dos dois termine de vez. A trama, então, acompanha essa despedida em meio a um longo passeio pelo campus da PUC-RJ, onde ocorreram as filmagens e onde o diretor do filme, na época, cursava a faculdade de Cinema.

Matheus Souza fez o filme na raça, com equipamento emprestado da PUC-RJ e um orçamento estimado em míseros R$ 8 mil (acredite, isso é muito pouco em se tratando de produção audiovisual). Essa informação é importante para que o espectador possa relevar o aspecto modestíssimo da obra. A câmera na mão, a captação de som ambiente, a locação pouco atrativa (a não ser para os acadêmicos da PUC-RJ) certamente não foram opções estéticas do diretor estreante.

Dito isto, vale acompanhar com atenção a longa DR protagonizada pelo casal, misturada com flashbacks em preto e branco que mostram momentos da intimidade dos dois em casa, despreocupados, falando bobagens — como dois namorados quaisquer. São essas breves memórias, inclusive, que dão um pouco mais de peso e sentido ao roteiro, e que servem para destacar vários elementos da cultura pop que serão reconhecidos com facilidade pelo espectador. Jogados na cama ou no sofá, os dois conversam sobre Cavaleiros do Zodíaco, Pokemon, boys band, Transformers, sites nerds e outras coisas mais que certamente já foram motivo de conversa entre duas pessoas que nasceram de 1980 pra cá.

Digo isso porque a trama principal, apesar da boa sacada, carece de verossimilhança e até de drama. A garota em momento algum nos convence do porquê de sua decisão e a reação de ambos diante da separação iminente é “xôxa”, sem sal. Nenhum dos dois parece tão preocupado assim em tentar salvar a relação, nem mesmo o rapaz, que é quem está sendo deixado pra trás. Duvivier se esforça, é o melhor em cena, e sua naturalidade contrasta com a fraca atuação de Erika. Não ajuda o fato da personagem despertar antipatia já nos minutos iniciais, justamente por iniciar uma situação que mais parece uma brincadeira de criança ou um teste para o namorado. “Eu estou indo embora de vez, você nunca mais vai me ver”, diz ela, logo de cara, com jeito de birra.

DR na faculdade: trama acompanha despedida de casal e suas memórias afetivas.

DR na faculdade: trama acompanha despedida de casal e suas memórias afetivas. (Foto: Divulgação)

Posso estar contaminado, obviamente, pela ideia de que toda separação precisa necessariamente ser rodeada de drama, conversas chorosas, sofrimento, arrependimentos e desabafos constrangedores. Correr desesperadamente atrás do avião ou do táxi tomado pela pessoa amada já virou uma cena clichê das comédias românticas, mas não é pra tanto. Apenas fiquei o filme inteiro esperando alguma reação mais drástica do personagem de Duvivier, alguma declaração apaixonada, um monólogo revelador que colocasse razão na cabeça de sua namorada. Faltou inspiração para o roteirista e diretor? Ou a ideia o tempo todo era justamente mostrar a efemeridade de muitos relacionamentos, onde se ama perdidamente em um dia e no seguinte a “alma gêmea” vira apenas uma lembrança distante?

De qualquer maneira, Apenas o Fim merece ser visto e discutido ao menos como exemplo de uma obra que, com pouco esforço, conversa com o público e encontra seu espaço. E candidatos a cineastas ficarão mais animados ao constatar que é sim possível fazer cinema sem orçamentos milionários ou uma mega infraestrutura.

Ficou interessado? Segue o trailer:

Já assistiu a Apenas o Fim? Deixe seu comentário sobre o filme aqui no blog!

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