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Sessão HQ: Estrada para Perdição, uma adaptação digna dos Corleones

Elenco de Estrada para Perdição reúne nomes de peso como Tom Hanks, Paul Newman e Jude Law. (Foto: )

Já faz um bom tempo que Hollywood está em polvorosa com as adaptações de histórias em quadrinhos de super-heróis. Só neste ano, contando por baixo, teremos cinco super-produções do “gênero”, que já estão fazendo bonito nas bilheterias – Homem de Ferro 3 (Iron Man 3) e O Homem de Aço (Man of Steel) estão aí pra comprovar a empolgação dos executivos e do público.

Sempre é bom lembrar, porém, que as histórias em quadrinhos não se resumem a seres com superforça ou que disparam raios das mãos. Há muita HQ aí bem mais pé no chão e com potencial para agradar desde os adolescentes até os sessentões em busca de uma leitura mais séria. E que, assim, também rendem filmes dignos de Oscar. Um bom exemplo? Estrada para Perdição (Road to Perdition, 2002), filme dirigido por Sam Mendes e baseado na série de histórias escritas por Max Allan Collins e ilustradas por Richard Piers Rayner.

Filme foi o segundo dirigido por Sam Mendes, depois do sucesso de Beleza Americana (Foto: Divulgação)

Filme foi o segundo dirigido por Sam Mendes, depois do sucesso de Beleza Americana (Foto: Divulgação)

Estrada para Perdição, assim como Marcas da Violência (filme que já discuti aqui no blog), faz parte do seleto grupo de HQs que foram parar na mão de diretores consagrados e receberam adaptações requintadas – tanto que boa parte dos espectadores nem sequer sabe que as obras originais vieram dos quadrinhos. A adaptação da HQ de Collins e Rayner, inclusive, logo foi alçada ao hall dos grandes filmes sobre gangsteres e mafiosos, ao lado de produções como O Poderoso Chefão, Os Intocáveis, Era Uma Vez na América (relembre o épico de Sergio Leone aqui) e Inimigos Públicos.

O filme de Sam Mendes é, ao mesmo tempo, um policial noir e um drama familiar. A trama se passa na década de 1930 e tem como protagonista um pai de família quieto e sério que possui uma relação fraternal com um chefão da máfia irlandesa. Sua esposa e filhos não sabem e nem perguntam qual a real natureza de seus serviços prestados ao mafioso. Até que um dos dois guris resolve acompanhar escondido o pai em uma de sua “missões”. Logo, a verdade vem à tona. O homem nada mais é do que um assassino a serviço de criminosos – e com o nome muito temido na praça, inclusive.

Estrada para Perdição foi o segundo filme dirigido por Sam Mendes, logo após sua premiada estreia no cinema com Beleza Americana (American Beauty, 1999) produção que lhe rendeu o Oscar de Melhor Direção e faturou ainda as estatuetas de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. Havia, portanto, muita expectativa quanto ao que viria em seguida. Mendes recorreu novamente ao celebrado diretor de Fotografia Conrad Hall, que o havia acompanhado na empreitada anterior e, amparado pelos produtores Richard e Dean Zanuck, conseguiu reunir um elenco grandioso – e peculiar.

Elenco de Estrada para Perdição reúne nomes de peso como Tom Hanks, Paul Newman e Jude Law.

Elenco de Estrada para Perdição reúne nomes de peso como Tom Hanks, Paul Newman e Jude Law. (Foto: Divulgação)

Tom Hanks encarna o protagonista Michael Sullivan, enquanto Paul Newman assume o papel do chefão mafioso John Rooney – o que lhe valeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Completam o elenco principal Daniel Craig, que faz o filho de Rooney, e Jude Law, na pele de um misterioso assassino contratado para dar cabo de Sullivan. Tyler Hoechlin é o filho do protagonista, que narra a história.

Tanto o filme quanto a HQ relatam a busca por vingança do matador vivido por Tom Hanks, depois que sua esposa e um dos filhos são mortos pelo filho do chefão a quem ele devotou seus serviços – e sua lealdade – a vida inteira. O pai e o filho sobrevivente são consumidos pela culpa e se vêem mais próximos do que nunca. A paternidade, inclusive, é um dos temas predominantes na trama – Rooney possui uma relação distante e tumultuosa com seu filho biológico, um homem intransigente e ambicioso, ao passo que nutre um afeto escancarado pelo homem que é seu braço direito e faz seus serviços sujos. Laços que serão afetados de forma trágica ao longo da história, por meio de várias decisões difíceis.

Adaptação ganhou tom mais intimista e é menos violenta do que a obra original dos quadrinhos. (Foto: Divulgação)

Adaptação ganhou tom mais intimista e é menos violenta do que a obra original dos quadrinhos. (Foto: Divulgação)

“Quando li (a HQ), minha primeira reação foi: é um filme. Foi feito para ser um filme. São imagens, não diálogos”, resumiu o diretor Sam Mendes na época do lançamento. E, de fato, as imagens são de encher os olhos. A reconstituição de época é primorosa e detalhista, aproveitando muitos prédios e cenários da atual Chicago, onde se passa parte da trama. O apuro com a iluminação e a fotografia de várias cenas emblemáticas – entre elas, o belo tiroteio embaixo de chuva, quando Sullivan finalmente encontra seu antigo chefe – motivaram a entrega de um Oscar póstumo a Conrad Hall, que morreu no ano seguinte ao lançamento do filme.

Há quem tenha cravado que Estrada para Perdição é “o melhor filme de gangsteres desde O Poderoso Chefão“. Não é pra tanto. Comparações são inevitáveis, mas aqui a história é mais sobre a relação entre pai e filho do que sobre a ascensão de criminosos ou o embate entre mafiosos e a polícia. E provavelmente esse é o maior mérito de Estrada para Perdição – há pouco espaço para tiroteios e perseguições e muito para os personagens em si, que, longe de serem míticos, permitem uma história mais humana e emotiva. Quem aí não ensaiou algumas lágrimas no desfecho do filme?

Dá para encomendar as três edições da HQ no próprio site da Via Lettera. Cada uma sai por R$ 29. OK, é um preço salgado, até porque as revistas mereciam um melhor acabamento, como uma capa dura e formato americano. Mas garanto que a leitura vale o investimento. E, se você tiver sorte, quem sabe dá para encontrar em algum sebo ou aquelas feiras de livros que vendem obras “undergrounds” a baixo custo.

Já assistiu a Estrada para Perdição ou leu a HQ? O que achou do filme? Deixe seu comentário aqui no blog!

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