Muito antes de ser sequestrado por piratas somalis, ficar preso por anos em uma ilha deserta ou liderar um esquadrão na Normandia em plena Segunda Guerra Mundial, Tom Hanks foi apenas um sujeito pacato aproveitando alguns dias de folga no conforto do lar, no subúrbio de uma pequena cidade norte-americana qualquer. Isso até sua atenção ser desviada para os sujeitos estranhos que se mudaram para a casa ao lado…
Lembro de assistir a Meus Vizinhos São um Terror (‘The Burbs, 1989) quando criança e ter calafrios ao acompanhar a bizarra história de um grupo de desocupados que resolve xeretar a vida de uma família que eles julgam ser um grupo de satanistas, serial killers, canibais ou coisa do tipo. O filme dirigido por Joe Dante (responsável por Gremlins e Viagem Insólita) é uma comédia de humor negro repleta de momentos surreais e gags forçadas, mas que encontra seus melhores momentos justamente nas cenas protagonizadas por um Tom Hanks deliciosamente cômico.
Vale lembrar que antes de se consagrar como um dos atores mais respeitados da indústria cinematográfica, Hanks trilhou um longo caminho justamente em produções despretensiosas, principalmente comédias e vários romances de gosto duvidoso. São desta época alguns filmes que certamente muitos ainda lembram, como Quero Ser Grande (Big, 1988), Uma Dupla Quase Perfeita (Turner & Hooch, 1989), Joe Contra o Vulcão (Joe Versus the Volcano, 1990), Um Dia a Casa Cai (The Money Pit, 1986) e o sempre presente na Sessão da Tarde Splash – Uma Sereia na Minha Vida (Splash, 1984).
Desta safra, tenho um carinho especial por Meus Vizinhos São um Terror devido às caras e bocas do ator, que nos arranca risadas sinceras e nos faz esquecer uma trama um tanto quanto batida e com poucas surpresas. O roteiro gira em torno de um grupo de moradores que se une para investigar a conduta misteriosa da nova família da rua – de quem ninguém nunca ouviu falar, mas que, ao que tudo indica, tem comportamentos bizarros.
O filme é quase uma paróquia dos thrillers de terror de casa assombrada e serial killers, notadamente o clássico O Massacre da Serra Elétrica, homenageado em uma cena nonsense que apresenta um sonho do protagonista – era essa mesma cena que me deu pesadelos quando criança, ao mostrar um grupo de mascarados literalmente assando Tom Hanks em uma grelha gigante. Ao mesmo tempo, a produção escancara o microcosmo repleto de seres invejosos, fofoqueiros e enxeridos que habitam as cidades pequenas ou as ruas de seu bairro – certamente todos irão enxergar ali algum vizinho com quem já conviveram em algum momento.
Aqui, Tom Hanks interpreta o sujeito cético, com a cabeça no lugar, que teria o papel de botar ordem na cabeça dos demais moradores, mas se deixa levar pelas teorias da conspiração e “evidências” de que há mesmo algo muito errado na casa ao lado. E são suas reações, nessa mistura de ceticismo e medo, que escancaram os melhores momentos da comédia – como quando ele descobre o que seria o osso de seu vizinho enterrado no terreno ao lado ou quando ele é obrigado a confrontar os “estranhos” dentro do território inimigo. Hanks é sutil em uma ocasião, histriônico em muitas outras, mas sem apelar para caretas forçadas ou maneirismos – esqueça Jim Carrey ou Eddie Murphy, mesmo em seus melhores momentos.
Somente por ele, Meus Vizinhos São um Terror merece ser visto e revisto. O filme é uma tolice, mas aquela tolice que adoramos assistir de vez em quando para passar o tempo e lembrarmos da nossa infância ou juventude – isso depende da idade do espectador.
E falando em lembrar, o blog traz abaixo algumas das cenas do filme, incluindo as sequências do fêmur e do pesadelo. Em seguida, deixe seu comentário: quais das “tolices” que Tom Hanks protagonizou no início da carreira é a sua preferida?
**
