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Jornalismo, simples assim

J. Freitas/Ag. Senado
Requião: sete casos no STF, todos por “crimes de opinião”.

Há políticos que não sabem – e outros tantos que fingem não saber – que a cobertura jornalística está longe de ser um bicho de sete cabeças. Sinto informá-los, mas na verdade não há, dentro dos veículos de comunicação, um departamento de “mãos-de-tesoura” bisbilhotando e interferindo nas pautas do dia-a-dia. Em tempos de jornalismo on-line e seus tantos canais de informação, como Twitter e afins, não há logística nem lógica para isso.

A montagem e a contextualização das reportagens ainda parte, na esmagadora maioria das vezes, da cabeça dos repórteres.

Na semana passada, o senador Roberto Requião (PMDB) esforçou-se para fomentar o mito de que as coisas funcionam de outra maneira. Queria, na verdade, desconstruir uma triste realidade construída por ele mesmo. Mas o ato de tomar o gravador das mãos de um repórter e ameaçá-lo fisicamente só pode ser definido de um modo: censura.

Logo ele.

É preciso ser justo e lembrar que Requião começou a carreira no final da ditadura como um democrata, no tal MDB velho de guerra do qual tanto se orgulha. Em 1991, no primeiro mandato como governador do Paraná, abriu os arquivos secretos da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops). Ele próprio estava fichado no órgão como “comunista”.

Na última terça-feira, Requião usou o plenário do Senado para tentar justificar-se sobre o episódio do gravador. Entre comparar-se a Jesus Cristo e se dizer vítima de bullying da imprensa, explicou que só tomou o aparelho porque queria evitar que sua entrevista ao repórter Victor Boyadjian, da rádio Bandeirantes, de São Paulo, fosse “editada”. Para ele, as perguntas eram uma armadilha armada pela direção da emissora.

É difícil engolir (difícil mesmo) que os chefes de uma rádio que só tem alcance no município de São Paulo tenham perdido seu tempo bolando estratégias para “pegar de jeito” Requião, um congressista do Paraná. Se fosse para aporrinhar alguém, o ex-casal Suplicy seria um prato muito mais apetitoso. Requião só foi entrevistado porque seria um “personagem” (esse termo é bem jornalístico) interessante para uma reportagem sobre a conexão entre inflação e gasto público.

Afinal de contas, só o salário de senador e a superaposentadoria de ex-governador que ele recebe somam mais de R$ 600 mil ao ano em recursos públicos. Daria quantos litros de leite para as crianças? Aí está outra pauta bem interessante.

Claro que há bons e maus jornalistas (como bons e maus políticos, médicos, engenheiros, etc.). Repórteres credenciados para trabalhar dentro do plenário do Senado, contudo, podem ser considerados no mínimo corretos. Estão lá para trabalhar e seu ofício é a notícia.
Mas e os chefes e os donos dos meios de comunicação? Qualquer meio só sobrevive se tratar as informações com decência. E não me venha com o papo dos jornais sustentados pelo governo – eles até existem, mas não perduram.

Você, caro leitor, sabe mais do que eu ou do que qualquer político quando há distorções. Também sabe que não é um idiota e que não acredita em qualquer coisa. Por isso a tentativa de criar mitos esdrúxulos sobre o jornalismo acaba sendo um tremendo tiro no pé.

Não é o político, muito menos o jornalista, que vai dizer à sociedade o que é certo ou errado. Jornalismo é, sim, algo simples. Com altos e baixos, mas simples.

Complicado é justificar um ato de censura no Brasil de 2011.

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