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No meio da pobreza, há um estádio

Josemar Gonçalves/JB
Estádio Bezerrão, que recebe hoje Brasil x Portugal: obra é considerada um marco na candidatura de Brasília à Copa do Mundo de 2014.

Estou metido na cobertura do jogo entre Brasil e Portugal. Abaixo, um texto sobre o estádio do Gama, política, Romário e afins…

Ambientada aos maiores e mais suntuosos palcos do futebol mundial, a seleção brasileira inaugura hoje às 22 horas contra Portugal o Estádio Bezerrão, com capacidade para 20 mil pessoas e fadado a sediar jogos da terceira divisão em 2009. A obra de R$ 51 milhões, elaborada dentro dos padrões da Fifa e com dinheiro do governo do Distrito Federal, é um oásis de modernidade em meio à pobreza da periferia de Brasília.

A construção é apontada como marco da candidatura da capital a uma das sedes da Copa de 2014 – mas não receberá jogos e, tecnicamente, não está entre os principais critérios que definirão a escolha.

O Bezerrão fica na cidade-satélite do Gama, que tem 130 mil habitantes. Está a 40 quilômetros da Esplanada dos Ministérios e a oito da divisa com o município de Valparaíso, em Goiás.

A região, conhecida como Entorno, é uma das mais violentas do Brasil – reveza-se no topo do ranking da criminalidade nacional com Recife (PE) e Foz do Iguaçu (PR). Ponto nevrálgico do tráfico de drogas no Centro-Oeste, o Entorno recebeu cerca de 200 agentes da Força Nacional de Segurança Pública entre novembro de 2007 e julho de 2008.

A combinação entre luxo e miséria provocou tumulto nas vésperas do confronto de hoje, graças ao preço dos ingressos – entre R$ 180 e R$ 250. Além disso, apenas 9.498 entradas foram colocadas inicialmente à venda. O restante seria distribuído entre convidados do governo distrital e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

No auge da confusão, o presidente da Federação Brasiliense de Futebol, Fábio Simão, chegou a declarar que quem não tinha condições de pagar poderia “pegar a pipoquinha, sentar no sofá e ver pela TV”. Os protestos de moradores próximos ao estádio foram amenizados quando o governador José Roberto Arruda (DEM) interveio e aumentou em 6 mil o número de bilhetes destinados aos torcedores. Além disso, ele autorizou o sorteio de 1,5 mil entradas grátis apenas para habitantes do Gama.

Arruda é um entusiasta do Bezerrão, citado por ele como um exemplo para o país. Se comparada ao Estádio Olímpico João Havelange, feito para Pan-Americano do Rio de Janeiro em 2007, a obra custou dez vezes menos e pode ser considerada igualmente moderna e confortável.
Como manda a Fifa, todos os assentos são numerados, há câmeras de segurança espalhadas pelo estádio, vestiários individuais para cada jogador e uma visão perfeita do gramado em qualquer uma das 20 mil cadeiras. Para completar o glamour, Romário estrela o comercial na televisão pago pelo governo distrital sobre o Bezerrão.

Na propaganda, ele lamenta que o estádio não tenha ficado pronto enquanto ele ainda jogava. Sem o Baixinho, resta a expectativa de que o local sirva de palco para treinos de alguma seleção, caso Brasília seja escolhida como uma das sedes para o Mundial.

O gerente do projeto Copa do Mundo 2014 do Distrito Federal, Sérgio Graça, adianta que o Mané Garrincha, no Plano Piloto (região central de Brasília), será o estádio dos jogos.

“Só não sabemos como será feita essa nova obra, se vamos construir algo totalmente do zero ou se vamos aproveitar algo da estrutura que está em pé. O Bezerrão ficará mesmo para os treinos”, diz.
Enquanto 2014 não chega, porém, a única certeza é que o estádio receberá os jogos da Sociedade Esportiva do Gama. No sábado, o time perdeu por 2 a 0 para o Criciúma e caiu para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro.

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