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Vá gostar assim da Guerra Fria lá no Brasil

Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
Yoani na Câmara dos Deputados: manifestantes, jornalistas e parlamentares causaram confusão

Quem diria que a simples presença de uma cubana magricela faria o debate político brasileiro voltar aos anos 1960. Por onde passou no país, a blogueira Yoani Sanchéz resgatou as velhas birras entre esquerda e direita, dos comunas contra os ianques. Por que tanto furor?

Por relatar na internet as agruras do dia a dia dos cidadãos comuns de Cuba, Yoani transformou-se em ícone do combate à censura promovida pela ditadura castrista. A visita também tem simbolismo pelas dificuldades impostas pelo governo para quem quer viajar para fora da ilha. É notícia, mas até aí nada de muita novidade.

Na verdade, a blogueira cumpriria uma agenda periférica no Brasil. Foi pisar nos aeroportos de Recife e Salvador para a situação mudar. “Jovens socialistas” ficaram no encalço de Yoani o tempo inteiro, aos gritos de traidora da revolução para baixo.

A situação esquentou para valer em Feira de Santana, quando a cubana foi impedida de falar pela primeira vez. Sobre o episódio, escreveu em seu blog: “eles respondiam a ordens, eu sou uma alma livre”. Foi uma pena não deixarem-na concluir a fala, talvez depois disso os ânimos ficassem menos acirrados.

Fala-se muito sobre o personagem Yoani e pouco sobre o que ela realmente fala. Vale descrever o raciocínio da blogueira sobre o embargo comercial dos Estados Unidos a Cuba. Na Bahia, ela citou três razões contrárias ao bloqueio: 1) é uma ação “ingerencista” dos norte-americanos; 2) é um “fóssil” da Guerra Fria, sem sentido na política internacional de hoje; 3) é o melhor argumento para o governo cubano justificar sua ineficiência econômica.

Depois, ilustrou o que é conviver com a censura promovida pelos irmãos Castro. “Vivo em uma sociedade onde ter opinião é traição.” Não sensibilizou os manifestantes e o evento desandou de vez.
O episódio catapultou Yoani do interior baiano para o Congresso Nacional.

Convidada pelo deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ), foi ao Congresso Nacional. Recebeu convite até para visitar Curitiba, feito pelo presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Valdir Rossoni (PSDB).

Graças à intrepidez dos “jovens socialistas”, dividiu as manchetes da semana passada com eventos que anteciparam as candidaturas de Aécio Neves (PSDB-MG) e Dilma Rousseff (PT) para 2014. Yoani virou bandeira de última hora dos tucanos na luta pela liberdade de expressão – embora tenha sido ciceroneada a maior parte do tempo pelo senador petista Eduardo Suplicy. Vá entender.

O fato é que PT e PSDB tem tanta dificuldade de se diferenciar na prática que precisam se agarrar ao que encontram pela frente. Cada um tenta reconstruir a história do seu jeito. Os petistas exaltam o mito de que o Brasil só passou a existir nos últimos dez anos, enquanto os tucanos focam nos 13 fracassos petistas, sem dar o passo adiante de se mostrar como alternativa a esses problemas.

Pela escassez de argumentos, fica mais fácil resumir tudo a uma disputa entre azuis e vermelhos, entre os defensores da liberdade contra os defensores do povo. Não há um lado 100% mocinho e outro 100% bandido. Não é aconselhável cair na falsa polarização, na armadilha (como diria Yoani) de transformar opinião em traição.

O Brasil de hoje, plural e democrático, é muito mais interessante para se viver do que aquele de quase cinco décadas atrás.

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