Ainda que o Sudeste tenha maior visibilidade no ecossistema de inovação brasileiro, o Sul não fica para trás com projetos disruptivos e de impacto social. Na semana passada, tive o imenso privilégio de conhecer empreendedores locais de Florianópolis e entender o momento atual da ilha da magia. O que fica evidente é que a colaboração entre os fundadores é muito mais forte que a concorrência.
O jornalista e empreendedor, Rodrigo Lóssio, co-autor do livro “Ponte para Inovação” fez um tour comigo pela cidade. Em seu livro, ele apresenta os 32 vetores que tornaram Florianópolis um dos ambientes mais promissores para o desenvolvimento de negócios nas áreas de tecnologia no Brasil. Todo o lucro obtido em vendas é destinado a projetos de formação de talentos na área da tecnologia dirigidos a pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Passamos o dia na ACATE (Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia), espaço que reúne as mentes mais brilhantes de Florianópolis. Lá, conversei com todas as fontes desta reportagem. Leia a seguir um resumo do que vi por lá.
Futuro do trabalho x colaboração
Hoje, a ACATE concentra cerca de 30 empresas de tecnologia e recebe milhares de pessoas todos os anos por meio de eventos e ações internas abertas à comunidade.
Conheci duas lideranças, que doam tempo e dedicação à frente da associação. A primeira foi a Betina Zanetti, cientista de nanotecnologia, mãe e empreendedora, e também o Moacir Marafon, co-fundador da Softplan. Os dois foram super receptivos e falaram muito sobre educação, tecnologia e o futuro do trabalho.
Segundo uma pesquisa recente realizada pela associação, o setor de tecnologia em Santa Catarina deve ultrapassar a marca de 100 mil postos de trabalhos ativos até o fim de 2025. Atualmente com 76,6 mil postos de trabalho disponíveis no estado, a projeção é que o setor aumente em 34 mil (44,3%) o número de colaboradores nos próximos três anos. Participaram da pesquisa 443 empresas das seis mesorregiões do estado.
O cenário é otimista para a geração de empregos, mas apresenta desafios quanto ao preenchimento dessas vagas. Uma das causas é a falta de talentos capacitados para exercer as funções do mercado de tecnologia da informação e comunicação. Em todo o Brasil, o setor deve demandar 159 mil profissionais ao ano para funções na área até 2025, ao passo que são formados apenas 53 mil pessoas com perfil tecnológico anualmente no ensino superior. O déficit anual no país por profissionais em tecnologia da informação chega a 106 mil.
“Trabalhamos em colaboração junto a instituições, governo e sociedade. Ou revolucionamos a nossa educação ou teremos novas bolhas de não empregáveis”, disse Moacir Marafon, vice-presidente de Talentos da ACATE.
Já Betina Ramos lidera uma iniciativa chamada “Mulher ACATE”, grupo que realiza encontros e eventos de conexão com o público feminino. A atuação em rede é a chave para o desenvolvimento mútuo e fortalecimento da participação de mulheres no setor de tecnologia.
“Eu mesma era uma cientista e pesquisadora acadêmica que me redescobri no empreendedorismo e fundei a Nanovetores. Minha empresa é fruto da minha investigação em laboratório que hoje desenvolve ingredientes ativos na nanotecnologia para indústria de cosméticos”, disse.
O objetivo da Mulher ACATE é impulsionar o número de mulheres empreendedoras na área de tecnologia e impactar o ecossistema de inovação local, tornando-o mais igualitário, justo, criativo, inovador e diverso.
MEIs e impacto em números
Segundo o Ministério da Economia, existem hoje no Brasil 13,5 milhões de MEIs, representando quase 70% das empresas do país. André Luiz Santa Cruz Ramos, diretor do Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração da Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, afirmou que “as MEIs são atividades importantes, que inclusive geram empregos formais e muitas vezes são o embrião de um empreendimento que vai prosperar”.
Tomei café com a Gabriela Werner, CEO do Impact Hub de Florianópolis, e falamos sobre os últimos projetos e ações realizados na cidade. Uma das iniciativas que mais me chamou atenção foi o “Programa Salto”, primeira aceleradora para microempreendedores individuais no Brasil e possui uma metodologia exclusiva criada na capital catarinense, aplicada tanto na versão online quanto presencial.
O programa é gratuito e realizado em parceria com o Sebrae-SC e a prefeitura. No último ano, 1.759 empreendedores foram impactados, 52,5% tiveram aumento de faturamento, gerando 664 novos empregos e tendo um aumento de 75,9% em números de clientes.
“Consegui tirar o negócio do papel, organizar minhas ideias, percebi novas oportunidades, troquei experiência com várias pessoas. Consegui iniciar meu negócio e, na mesma semana em que abri a agenda para reservas, já recebi quatro contatos de potenciais clientes”, disse Michele Huebes, participante do programa.
Casal fomenta a diversidade nas empresas
São muitas as iniciativas de impacto social que surgem na ilha, neste artigo exemplifico somente algumas delas. Além do fomento às áreas tecnológicas e de programas de aceleração aos MEIs, há também empreendedores negros que trazem soluções diferenciadas ao mercado, impactando grandes empresas em escala global.
"Singuê", em banto, língua africana, significa aquilo que nos entrelaça. Inspirados por esta palavra, a cientista social, natural de Itajaí (SC), Talita Matos e o consultor Eliezer Leal nomearam sua empresa que apoia organizações a serem mais inclusivas.
“Partimos da crença de que nada é mais potente e inovador do que construir ambientes inclusivos em que as pessoas podem expressar a sua autenticidade e colocar sua contribuição única a serviço dos projetos em que estão envolvidas”, explicou Talita.
A empresa ajuda clientes a revelar as razões humanas e de negócios que os levam à busca por diversidade, ao fomento da inclusão e à promoção da equidade. “O compromisso com essa agenda pode ser revolucionário se compreendemos o nosso entrelace”, enfatizou Eliezer.
Para Talita, inovar é dar conta de resolver problemas complexos que são vividos por pessoas diversas. “Homens brancos, heterossexuais e cis são apenas 18% da população brasileira. Tudo que a gente desenvolve precisa estar a serviço do Brasil, das mulheres, das pessoas com deficiência, das pessoas negras, das pessoas indígenas, das pessoas LGBTQIA+, das pessoas trans”.
A empresa tem três frentes de trabalho: desenvolvimento de carreiras, educação e letramento. Entre os clientes da Singuê estão grandes bancos, fintechs, indústrias da área da saúde e também do entretenimento.
É possível acompanhar todos os conteúdos sobre diversidade da Singuê por este link e ficar por dentro das temáticas sobre direitos humanos, comunicação inclusiva, ESG social, entre outros assuntos relevantes.
“Foram 300 anos de sistema escravocrata feito para excluir determinada parcela da população. No entanto, hoje é consenso que todas as empresas, independente do porte e setor de atuação, precisam estar atentas às temáticas de diversidade. Afinal, as novas gerações são diversas. São muitos os desafios, mas já avançamos muito no debate público”, conclui Talita.
Florianópolis é uma pequena ilha no Sul do país, de lindas paisagens naturais, mas também com uma potência avassaladora na área de tecnologia, criatividade, colaboração na veia e avanços de impacto social. Espero seguir conhecendo ecossistemas regionais brasileiros e compartilhar com vocês um pouquinho de cada experiência.
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