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Uma chef vegetariana a bordo

Divulgação

Ina Gracindo tem hoje uma vida incomum. Muitos teriam inveja. Trabalha mês sim, mês não. É comissária de bordo da British Airways, profissão que exerce há quase 40 anos. No tempo livre, ela não sossega. Nas idas e vindas do exterior, faz cursos, pesquisas, traduções e escreve. É também uma chef Cordon Vert, hoje uma especialização da culinária vegetariana do Cordon Bleu.

Depois de assistir a uma entrevista sua no Programa do Jô, entrei em contato e combinamos uma conversa. Numa tarde chuvosa no Rio de Janeiro, Ina me recebeu em sua casa, no Leblon. Fui recepcionada com uma mesa posta para um café. Pão de berinjela e queijo feta saído do forno, com café coado na hora e trufas. “Não podemos ter essa conversa sem comer alguma coisa”, diz a anfitriã. Enquanto me delicio, Ina me conta sua história.

Os pais tiveram que fugir para se casar. Como o avô, que era judeu, não aprovava o casamento cristão, acabou deserdando a filha. Somente após a separação do casal, sua mãe se reaproximou da família. E assim, aos 11 anos, Ina descobriu que tinha um avô de origem judaica.

“Anos mais tarde, meu avô fez uma viagem a Israel, e queria mandar minha irmã, dois anos mais velha do que eu, para lá para estudar e morar num kibutz (fazendas coletivas originalmente baseadas em ideais socialistas e igualitários; hoje, muitas se transformaram em empresas privadas). Naquela época, eu achava encantadora a vida socialista e adoraria viajar. No final das contas, acabei indo para lá, onde morei por dois anos. Já bem adaptada, pensava em ir para o exército, quando minha mãe me pediu para voltar”, lembra.

Contra sua vontade, Ina retornou ao Brasil. “Consegui um emprego, e só pensava em comprar uma passagem de volta e morar lá definitivamente”, conta. Começou, então, a trabalhar em uma companhia aérea. Como não pode tirar férias, passou dois anos aqui, e quando voltou a Israel, o país já não era o mesmo e resolveu não ficar. Todo ano, porém, faz uma visita.

Entre uma xícara e outra de café, quis saber como ela se tornou uma chef vegetariana. “Isso foi há mais ou menos 20 anos. Em todo lugar que ia só encontrava saladas, legumes cozidos ou comidas massudas. Decidi então fazer cursos na Inglaterra até encontrar o Cordon Vert. Ao chegar ao Brasil, montei em Ipanema, em sociedade com um amigo, o Café Vert, o primeiro café orgânico no Rio. Depois de um tempo, ficou difícil conciliar a nova atividade com o emprego de comissária e acabei fechando a casa.”

Como fala seis línguas, nos meses em terra, Ina se dedica às traduções de artigos e escreve livros. O primeiro, lançado em 2005, foi o romance Quatro Amores e Dois Finais; em 2011, Da Colheita para a Mesa, em parceria com Letícia Braga, e agora acaba de lançar Rota do Oriente, pela Casa da Palavra (R$ 34,90).

Em Rota do Oriente, Ina relata detalhes de sua viagem gastronômica por Israel, traz receitas típicas da Galileia e conta um pouco da história dos ingredientes mais usados. “A região é privilegiada, o solo é fértil e tem uma infinita variedade étnica e cultural que povoa a gastronomia local e influencia o resto do país. É possível encontrar pequenos negócios artesanais que mantêm métodos de preparos praticados por várias gerações. A alimentação é basicamente vegetariana e riquíssima”, explica.

O livro nem bem acabou de sair do forno e Ina já faz pesquisas para o próximo. Em setembro, vai à China, onde pretende passar 20 dias para ampliar seus conhecimentos sobre chás. Agora é só aguardar.

Receitas da chef

Ina Gracindo conta em “Rota do Oriente”, que existe um ditado árabe que diz: “se um homem está noivo de uma moça que não consegue preparar pelo menos 49 receitas diferentes de berinjela, o melhor é não casar”. Confira abaixo duas receitas da chef. Assim faltam apenas 47!

Geleia de Berinjela

Ingredientes

– 250gramas de berinjela

– 1 xícara de açúcar

– 1 xícara de água

– 1 pitada de noz-moscada

– 1 colher (café) de canela em pó

– suco de 1 limão – siciliano

– casca ralada de ½ limão siciliano

Modo de preparo:

Descasque e pique a berinjela. Cubra com um pouco de água e em fogo brando cozinhe por 10 minutos depois de levantar fervura. Escorra e reserve. Faça uma calda combinando o açúcar, a água, a noz-moscada e a canela. Adicione a berinjela e retire do fogo. Tampe e deixe descansar por uma noite. No dia seguinte, retire a berinjela com uma escumadeira e em fogo brando ferva a calda separadamente, por 20 minutos, até que engrosse. Retorne a berinjela à calda e ferva em fogo brando por 30 a 40 minutos, até obter uma consistência gelificada. Adicione o limão e as raspas. Conserve em vidros esterilizados.

Berinjela rústica

Ingredientes:

– 200g de uma mistura de cogumelos frescos (paris, shimeji, hiratake)

– 1 berinjela

– 1 abobrinha

– 1 cebola roxa pequena

– 2 dentes de alho bem picados

– azeite

– sal e pimenta moída na hora

– 50 ml de xerez

Modo de Preparo:

Lave bem os cogumelos em água filtrada e deixe escorrer numa peneira de nylon, para que não oxidem. Lave bem a berinjela e a abobrinha e corte-as em cubos. Faça o mesmo com a cebola.

Mergulhe a berinjela na água salgada por 15 minutos e escorra. Refogue o alho no azeite, junte a berinjela, a cebola e a abobrinha, cozinhe por 5 minutos e acrescente a mistura de cogumelos.

Cozinhe em fogo brando por 10 minutos, tempere com sal e pimenta e adicione o xerez. Cozinhe por mais 5 a 10 minutos, desligue o fogo, tampe a panela e deixe o gosto apurar.

Assista à entrevista de Ina Gracindo no Programa do Jô.

O gato e a oliveira

Uma história que impressionou Ina Gracindo em sua viagem a Israel foi a do gato Don Juan, um gato gordo com cabeça imensamente desproporcional ao resto do corpo. A história foi contada a ela por Moshe Haviv, da vinícola Dalton.

O gato chegou ainda filhote e desde pequeno morava debaixo de uma oliveira. Só saia para arrumar namoradas ou brigar com os animais. Ficava ali o dia inteiro espalhado sob a sombra da árvore, sentindo-se o rei da vinícola. Um dia, um míssil vindo do Líbano caiu na vinícola.
Após a explosão, Moshe viu o gato, ferido por estilhaços, se arrastando até a oliveira. Chegou a tempo de morrer ali em seu lugar de sempre.

Don Juan foi enterrado ali mesmo. Dias depois a árvore caiu. Espantada, a família escorou a oliveira com pedaços de ferro. Durante três dias, ela não respondeu e Moshe achou que estava morta. No quarto dia, porém, a oliveira retomou a força e a cor. Uma placa, então, foi afixada embaixo da árvore em homenagem a Don Juan.

No Oriente Médio, a oliveira está associada à conquista da paz, progresso e abundância. Por isso muitos estabelecimentos mantêm uma oliveira na frente da porta e as famílias têm pelo
menos uma em seus quintais.

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